Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

O «off-shore» da Luz

Artigo extraído da coluna "Canto Directo", inserido no Jornal A Bola, autoria de JOSÉ ANTÓNIO LIMA:
Para quem ainda tivesse dúvidas, o jogo Benfica-Nacional do passado sábado veio desfazer todas as incertezas: o Estádio da Luz converteu- se numa zona franca, na qual não se aplicam muitas das regras que regem os restantes espectáculos de futebol a nível interno ou internacional. O terreno benfiquista transformou- se num autêntico offshore. Onde vigoram regras próprias e especiais, onde são permitidas as mais variadas e surpreendentes excepções às leis gerais do futebol: cargas de cotovelo (não sancionadas) para todos os gostos, faltas atacantes convertidas em livres perigosos à entrada da área, cargas à vontade sobre os guarda-redes na zona (noutros estádios proibitiva…) da pequena área, cartões amarelos mostrados não aos infractores mas a quem sofre faltas, etc. Umverdadeiro festival de fuga aos regulamentos e de benefícios arbitrais. Um off-shore capaz de rivalizar com os estatutos de excepção que vigoram nas ilhas Caimão ou na zona franca da Madeira de Jardim.
No ilustrativo jogo da Luz com o Nacional, aos 37 minutos da primeira parte já havia quatro jogadores da equipa visitante amarelados. Por faltas inócuas a meio-campo, por cargas sofridas (como uma cotovelada da defesa benfiquista sobre Cléber, que reverteu em amarelo… para o jogador madeirense), por pura intimidação. Na segunda parte, viriam mais três cartões amarelos (um deles, inacreditável, a Goulart, mal acabado de entrar em jogo) até chegar o golo irregular do Benfica. Depois do golo, com o problema resolvido, o árbitro compensaria a desequilibrada balança com um segundo amarelo a Alcides e um cartão a Nuno Gomes em tempo de descontos.
No exemplar jogo da Luz com o Nacional foi oficializada uma novidade nas leis do futebol: a nova «carga de cotovelo». Luisão afastou Cléber de uma jogada, via cotovelo, e viu o opositor ser punido. Anderson derrubou Miguelito dentro da área, empurrando-o com o braço e lançando-o ao chão com a pressão do cotovelo no peito e viu os infinitamente generosos comentadores televisivos admitirem que o gesto podia ser interpretado como «carga de ombro ». Nuno Gomes disputa bolas altas recuando de costas para cima dos adversários e afastando- os com os cotovelos, para depois se deixar cair desamparado no relvado e ganhar livres em posições privilegiadas. Luisão salta com os cotovelos em cima dos guarda-redes ou dos atacantes da equipa adversária com a mais absoluta e espantosa das impunidades e ainda acaba elogiado pela forma «fria e calculista» como faz esse tipo de faltas (e como se «vingou » de uma mais do que discutível carga na área madeirense). No educativo jogo da Luz com o Nacional, até o tardio e arrancado a saca-rolhas golo do Benfica precisou de uma dupla irregularidade para se consumar.
Nasceu de uma falta inexistente sobre Mantorras que o árbitro se apressou a assinalar e só foi possível graças a uma claríssima falta de Luisão na pequena área, impedindo com o cotovelo o guarda-redes de defender a bola, que o árbitro teve a gentileza de ignorar.
Já aqui escrevi, mais de uma vez, que não devem ser os árbitros mas sim os jogadores a ocuparem o espaço das análises e o centro dos debates. Ainda que o mais fácil, o mais primário e o mais cómodo seja descarregar nas arbitragens a frustração das derrotas ou a desilusão dos títulos não conquistados.
Os erros de arbitragem são, na maioria dos casos, naturais e inevitáveis. O ângulo de visão limitado, entre um amontoado de jogadores, as simulações de faltas fictícias, a decisão que tem de ser tomada em fracções de segundos, a deslocação rápida e por vezes milimétrica dos avançados em relação à última linha de defesa – são factores que, todos eles, tornam complexo e de difícil julgamento o desempenho dos árbitros. Que não têm, como amaioria dos adeptos frente a uma televisão, quatro e cinco repetições de cada lance polémico, de várias perspectivas e em câmara lenta…
Mas uma coisa é perceber-se que um árbitro erra sem intencionalidade, como aconteceu no Arsenal-Chelsea deste domingo, deixando passar umpenalty sobre Drogba ou anulando mal umgolo no limite do fora-de-jogo ao Arsenal. Outra coisa é ter-se a noção clara, como aconteceu no Benfica- Nacional logo após 20 ou 30 minutos de jogo, de que estávamos perante uma dualidade de critérios notória e sem disfarce. Que a carga de Anderson sobre Miguelito dentro da área (22 m) ou o derrube do mesmo Anderson sobre Antic, que se isolava frente a Quim (25m), teriam dado, se tivessem ocorrido no outro lado do campo, na área do Nacional, origemmais que certa a umpenalty e a um cartão vermelho. Tudo o mais até ao final do encontro, dos amarelos a esmo às faltas forçadas, só confirmou essa dualidade, essa entorse à verdade futebolística. A culminar no golo duplamente irregular sancionado aNuno Gomes.
Manuel Machado, treinador do Nacional, que é uma pessoa cordata e civilizada, diria apenas, no final do jogo, que saía da Luz «com aquela sensação de chegar junto ao carro e ele estar arrombado e subtraído de alguns valores». Calcule-se o que teria afirmado, se fosse o Benfica a vítima de tal arbitragem, uma pessoa de fino trato e refinada linguagem como José Veiga. Ou Luís Filipe Vieira.

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