Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Ó Pacheco Abrupto, devem ser todos azuis...

O BAIRRO ONDE O CARTEIRO NÃO ENTRA HÁ DOIS ANOS.

Santa Filomena é uma das "ilhas" do crime da Amadora. Entrar ou tentar a aproximação fora de um determinado horário é como pedir para ser roubado e, muitas vezes, agredido. Os dois agentes da PSP foram mortos mesmo aqui ao lado. Ainda é cedo, mas nos acessos ao Casal de Santa Filomena, bairro degradado da Amadora vizinho do bar às portas do qual foram abatidos dois polícias no último fim-de-semana, já há mulheres na rua a vender peixe em alguidares. Adultos deixam, apressados, as barracas e encaminham-se para a estação ferroviária. Vão trabalhar nas obras e nas limpezas. Três horas mais tarde, as peixeiras, enxotando as moscas, ainda tentam despachar o resto do pescado. Encostados às paredes, grupos de jovens perfilam-se como se fizessem guarda ao bairro. A partir desse momento torna-se perigoso, para quem é de fora, tentar entrar ou mesmo circular nas imediações.


O gueto em que se transformou o Casal de Santa Filomena, bairro clandestino nascido, como todos os restantes do concelho da Amadora, no pós-25 de Abril de 1974, com cerca de 3500 habitantes, está aberto aos não moradores apenas três a quatro horas por dia. "Das sete até às dez da manhã, com sorte, não há problemas", garante um agente da PSP, que pediu o anonimato. A dimensão da criminalidade e violência existentes no bairro e suas imediações pode ilustrar-se com um caso, no mínimo, caricato. Os carteiros já não entram lá dentro há cerca de dois anos. Era frequente serem assaltados e agredidos. Quando se recusaram a fazer a distribuição, a solução encontrada foi instalar, numa rua de acesso, uma "bateria" de caixas de correio. Muitas delas são frequentemente arrombadas, sobretudo aquelas que pertencem a idosos e onde se presume que possa ser depositada correspondência que renda dinheiro de reformas e subsídios."

Aqui há assaltos todos os dias. Ninguém está seguro, seja na rua ou em casa", explica Maria Felisberta, moradora na vizinha Avenida General Humberto Delgado - onde fica o Chop Bar, junto ao qual foram baleados os agentes da PSP. Na extremidade desta artéria, que confina com o Casal de Santa Filomena, os estabelecimentos comerciais atestam o grau de insegurança da zona: todos eles, quer vendam hortaliças, cafés ou roupas, estão protegidos por gradeamentos."Cercam-nos, roubam-nos, agridem-nos". "Atender um telemóvel na rua é a mesma coisa que dizer que já ficou sem ele", conta, por sua vez, um reformado que caminha com o auxílio de uma bengala. Num café próximo, o proprietário, Alberto Morais, diz que não "tem conta o número de pessoas que já levei a casa em cuecas". São vítimas de assaltos. Incautos, fora do "horário livre", cometem o erro de entrar ou aproximarem-se do bairro. Grupos de adolescentes - "às vezes são mais de 50" - cercam-nos, roubam-nos, agridem-nos e, muitas vezes, retiram-lhes quase todo o vestuário.

Para a polícia, entrar no bairro é igualmente uma tarefa difícil. Existem 21 ruas e um sem-número de becos e "fisgas" (espaços de cerca de 50 centímetros entre as paredes das barracas). Das ruas, que têm como nomes as letras do alfabeto (só não existem a J, a Y e a W), apenas duas são transitáveis, uma por automóveis e outra por jipes. "Eles [os jovens] conhecem o bairro de olhos fechados e uma vez lá dentro é quase impossível apanhá-los", conta um agente da PSP. A criminalidade em Santa Filomena, segundo os polícias, divide-se em dois grupos. O primeiro inclui os menores e adolescentes. Os que fazem assaltos nas ruas. "Começam aos sete ou oito anos a roubar nos supermercados. Depois passam para os telemóveis. Mais tarde, a partir dos 12 ou 13, iniciam-se nos carros e vão até aos roubos em estabelecimentos", pormenoriza o mesmo agente da PSP, que prefere não ser identificado. A morte encomendada de "Zé de Verde"Este ciclo costuma ser interrompido quando os jovens, mais ano menos ano, chegam aos 18. "Nessa altura passam para o tráfico de droga.

Aí já não afrontam a polícia, ficam mais discretos", refere ainda o agente. São estes, explica, os que acabam por ser referenciados nos actos mais violentos aqui registados. Fala-se de homicídios. De ajustes de contas entre traficantes, com matadores contratados. Nos dois últimos anos foram cinco as pessoas aqui assassinadas. Fica a história da morte encomendada de "Zé de Verde" (irmão do já falecido traficante e homicida "Celé"). O homem que ia executar o serviço, confiado na descrição do vestuário que lhe fizeram, esfaqueou fatalmente, junto a uma taberna do bairro, uma outra pessoa. A primeira tentativa para eliminar o traficante falhou, mas semanas depois, ainda em Santa Filomena, "Zé de Verde" acabou por morrer crivado de balas. À polícia chegou a informação de que esta morte foi paga com poucas centenas de euros. "