Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Miguel Torga: 12 Agosto 1907

Se fosse vivo, Miguel Torga teria feito 104 anos no passado dia 12.
Aqui fica, em jeito de homenagem, uma sugestão de leitura para as férias... com Macau como pano de fundo.

O Senhor Ventura
Capa da edição de 1943
O Senhor Ventura é o protagonista que dá nome a uma obra de ficção da autoria de Miguel Torga, publicada pela primeira vez em 1943, mas que o autor de certa forma renegou até 1985 quando foi publicada uma 2ª edição, modificada e com um prefácio explicativo onde diz que escreveu esta obra "de uma assentada há mais de quarenta anos, na idade em que os atrevimentos são argumentos", uma obra onde deixou "a nu toda a fantasia descabelada e toda a canhestrez expressiva que se tem impunemente na juventude."
Na Primeira Parte, aparece-nos o Senhor Ventura, um português, natural de Penedono, no Alentejo, onde viveu até ao momento de ir cumprir o serviço militar em Lisboa. Começou por ser guardador de ovelhas, depois trabalhou no campo, no Farrobo, uma das herdades do Sr. Gaudêncio. A partida para Lisboa para cumprir o serviço militar desencadeia uma reviravolta na sua vida. Como não sabia ler, tanto lhe importava que na sua caderneta militar escrevessem bem como mal, e, desta forma, têm início as suas vicissitudes, tornando-o cada vez mais conhecido entre os seus companheiros e superiores. É assim que começa por faltar ao recolher e apanha três dias de cadeia, mas em contrapartida, aprende a tocar e faz serenatas que encantam os camaradas. 
Um dia foi mandado num contingente militar (soldado 185) que seguia para Macau. Nesta terra vive uma relação com Loo, uma "pequenita chinesa", que o leva a desejar conhecer a China e novos mundos. Entretanto, uma relação com a filha do secretário do Governador origina-lhe problemas, levando-o à deserção do exército português, tendo de fugir de Macau. Começa, então, a trabalhar como "marinheiro a bordo dum navio que fazia cabotagem no mar da China" -  e daí em diante o percurso da sua vida foi-se diversificando em actividades e complicando em muitas situações. Fez contrabando, assassinou um fiel de alfândega, voltou para terra depois de cinco anos de vida no mar. Na China, foi empregado da Ford, paralelamente foi sócio de um restaurante, partiu para a Mongólia para entregar camiões, vendeu armas.
Na Segunda Parte, o narrador refere-se ao Senhor Ventura como o seu Dom Quixote que vai casar com a Dulcineia. Na Terceira Parte, este alentejano que percorreu o mundo, regressa outra vez ao Alentejo, onde passa por diversas situações de prejuízo nos negócios da terra. Entretanto o filho, Sérgio, chega a Portugal, enviado por Tatiana, inclusive com a conta da viagem para pagar. A desilusão do Senhor Ventura foi enorme e a sua decepção aumentava à medida que lhe era cada vez menos possível partir em busca de Tatiana, já que as colheitas eram más e as dívidas cresciam. Quando, após boas colheitas, vieram dias melhores, pagou as dívidas, deixou o filho num colégio de Lisboa e partiu de novo para a China, em perseguição de Tatiana. Percorreu diversos locais, faminto, esfarrapado, acabando por morrer longe da sua terra.
A obra termina com o regresso de Sérgio a Penedono. O filho do Senhor Ventura, órfão, já que não pôde continuar a frequentar o colégio por falta de pagamento das mensalidades, inicia a vida activa como guardador de gado, a mesma actividade pela qual o pai tinha começado, e a servir o mesmo amo – o Senhor Gaudêncio.


NA: este livro foi editado em Macau, edição bilingue, em 1989 pelo Instituto Cultural de Macau. A tradução para chinês foi de Cui Wei Xiao.

Via Macau Antigo

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