Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

1 Livro por mês: Fevereiro


Como já afirmei em Janeiro, o meu irmão José Luís surpreende-me constantemente com livros e escritores magníficos. Este é mais um caso.
Já o li. Reli. E vou voltar a ler.  Na minha opinião os seus livros devem ser lidos. Todos eles. Várias vezes. Eu próprio penso trazer aqui mais alguns no futuro, mas hoje e para o mês de Fevereiro, trago A VOZ DOS DEUSES, de João Aguiar.

(aqui vai Miguel Malheiro)

Sinopse:

Em 147 a.C., alguns milhares de guerreiros lusitanos encontram-se cercados pelas tropas do pretor Caio Vetílio. Em princípio, trata-se apenas de mais um episódio da guerra que a República Romana trava há longos anos para se apoderar da Península Ibérica. Mas os Lusitanos, acossados pelo inimigo, elegem um dos seus e entregam-lhe o comando supremo. Esse homem, que durante sete anos vai ser o pesadelo de Roma, chama-se Viriato. Entre 147 e 139, ano em que foi assassinado, Viriato derrotou sucessivos exércitos romanos, levou à revolta grande parte dos povos ibéricos e foi o responsável pelo início da célebre Guerra de Numância. Viriato foi um verdadeiro génio militar, político e diplomático.

Mas, sobretudo, foi o defensor de um mundo que morria asfixiado pelo poderio romano: o mundo em que mergulham as raízes mais profundas de Portugal e de Espanha. É esse mundo, já então em declínio, que este livro tenta evocar.

Este livro faz parte daquelas obras que ficam para sempre na memória e está na prateleira dos tesouros. Assim é no meu escritório. Provavelmente este romance irá ser lido avidamente, página  por página. Rico em detalhes, remetendo-nos para um tempo longínquo que faz parte do nosso imaginário colectivo. 
Soube que, também para este livro, João Aguiar fez muita investigação histórica o que permitiu que o romance reforce de forma fidedigna a lenda da Viriato e a base do povo Lusitano. Dizia João Aguiar; “Esquecemos milénios de tradição, não temos noção da nossa dimensão histórica. Ficamos agarrados aos Descobrimentos e não conhecemos o que está para trás, o que é anterior à própria nacionalidade”.
É verdade que o romance histórico é baseado em factos verídicos arbitrários, muitas vezes desconexos da realidade contextual. João Aguiar afirmava no seu livro: “Para a descrição das campanhas de Viriato recorri aos dados históricos existentes, a que misturei uma certa dose de imaginação. Assim, Cúrio e Apuleio não foram inventados – eram chefes de guerrilheiros ou salteadores. (…) Nada mais se sabe a seu respeito, excepto a morte de Cúrio em combate; a ligação entre os dois e as suas relações com Viriato são fictícias. Igualmente fictício é o estatuto conferido a Táutalo (…)” . É naturalmente com algum cuidado, de forma a não cair no erro de os valorizar como factuais, que devemos ter em consideração o passado histórico descrito no romance, pois ao afirmar que é uma obra com uma base histórica não deixa contudo de ser uma ficção. Ou seja, de uma forma geral, a obra está assente num pilar de fidedignidade obtida pela documentação de época, e isso inevitavelmente a enriquece.  
Este livro é definitivamente um manancial de referencias históricas-culturais. A narrativa de Tongio centra-se essencialmente na resistência contra as invasões de Roma na Ibéria ocorrida entre 147 e 139 tendo como ponto-chave a figura do líder Lusitano Viriato. A acção da obra é a Ibéria, um pouco por toda a região é alusiva a identificação de pontos de território português como as zonas de Bracara (Braga), Ebora (Évora), Olisipo (lisboa) e rios como Anas, Tagus, Durius cujas denominações são respectivamente: o Guadiana, o Tejo e o Douro. Os locais históricos presentes na obra são inúmeros, desde locais sagrados como se julga ser a Serra da Lua (Sintra), onde se acredita ter sido um local consagrado ao culto lunar, tal como o próprio nome da serra e alguns achados arqueológicos o indicam.
No que se refere à notável resistência lusitana, é perceptível a utilização de dados históricos reais como a forma como foi rompido o cerco de Vetílo, as linhas gerais da tática adoptada em Tríbola e em Erisane e no primeiro ano de campanha contra Serviliano. O mesmo sucede na descrição da morte de Vetílio, abatido por um guerreiro. Também um conjunto de outras informações referentes a batalhas e personagem como Galba ou Quinto Servílio Cepião (a personalidade que assassinou Viriato) estão presentes no livro “A voz dos Deuses” no seu resumo cronológico (pág.365). (Segundo as fontes J. Leite de Vasconcelos, José Maria Blásquez e Jorge Alarcão.)
Existe igualmente nesta obra o cuidado da parte de João Aguiar, de nos familiarizar a sua história com um mapa, logo no início do livro, de forma a ser perceptível onde a narrativa por vezes se encontra a ter lugar.
João Casimiro Namorado de Aguiar nasceu em Lisboa a 28 de Outubro de 1943. Licenciou-se em Jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas. Fez o serviço militar em Angola, onde também colaborou na imprensa e na rádio. É autor de «A Voz dos Deuses» (1984), «O Homem sem Nome» (1986), «O Trono do Altíssimo» (1988), «O Canto dos Fantasmas» (1990), «Os Comedores de Pérolas» (1992), «A Hora de Sertório» (1994), «A Encomendação das Almas» (1995), «Navegador Solitário» (1996), «Inês de Portugal» (1997), «O Dragão de Fumo» (1998), «Rio das Pérolas» (2000), «A Catedral Verde» (2000), «Diálogo das Compensadas» (2001), «Uma Deusa na Bruma» (2003), «O Sétimo Herói» (2004), «O Jardim das Delícias» (2005), «O Tigre Sentado» (2005), e das séries juvenis «O Bando dos Quatro», «Pedro & Companhia» e «Sebastião e os Mundos Secretos». É co-autor de «A Monarquia Portuguesa». Vários dos seus livros foram traduzidos e publicados no estrangeiro, nomeadamente na Alemanha, Bulgária, Espanha e Itália. Escreveu para televisão, entre outros, os argumentos de «A Marquesa de Vila Rica» e «Os Melhores Anos». Integra o grupo de escritores responsável pelos livros «O Código D´Avintes», «Os Novos Mistérios da Estrada de Sintra» e «Eça Agora». Tem ainda uma obra de não-ficção, «Lapedo - Uma Criança no Vale» (2006). Foi igualmente colaborador das revistas Super Interessante e Tempo Livre. Infelizmente faleceu em 3 de Junho de 2010...

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