Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Impunidade Futebol Clube

Estamos todos lembrados da comoção nacional provocada pela morte de um adepto do Sporting na véspera de um escaldante jogo, em Alvalade, contra o benfica. Bem, comoção talvez seja uma palavra demasiado forte, na medida em que nem sequer foi admitida a hipótese de cancelar a partida. Vamos chamar-lhe antes sururu, que é mais condizente com a carga dramática colocada no episódio. Luís Miguel Pina foi indiciado pelo crime de homicídio simples, por ser suspeito de atropelar, mortalmente, um elemento da falange de apoio leonina. E de ter abandonado o local sem prestar auxílio. O detido pertencia à claque "No Name Boys" e tinha um apreciável cadastro criminal.

Estamos todos lembrados do caso do very-light no Estádio do Jamor, que, em 1996, resultou na morte de Rui Mendes, também ele adepto do Sporting. Hugo Inácio, o comprovado autor do arremesso fatal, foi detido, cumpriu pena e andou 11 anos fugido à Justiça. Mais recentemente, foi surpreendido na posse de uma tocha no exterior do Estádio da Luz, tendo sido condenado a uma pena de três anos de prisão efectiva.

Como Luís Miguel Pina, Hugo Inácio também era membro dos "No Name Boys", claque-fantasma afecta ao benfica e uma das mais problemáticas no universo dos grandes clubes. Um e outro protagonizaram, porventura, os casos mais graves da história recente do futebol português. Um e outro, porém - e a crer nas palavras do presidente dos encarnados, Luís Filipe Vieira -, são apenas benfiquistas com cartão de sócio com uma boa projecção de voz e uma natural apetência para a escaramuça. E que, como tantos outros, quando vão aos jogos em casa, gostam de ficar sempre na mesma bancada. Pelo convívio.

Acontece que, desde 2009, a lei obriga a que todas as claques estejam registadas. E a não observância deste princípio pode culminar, no limite, numa penalização acessória de jogos à porta fechada, caso se comprove que os tais grupos receberam apoio do clube a que estão afectos.

Depois de o JN noticiar que o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) tinha notificado as águias de que estavam impedidas de realizar jogos em casa (entre outras razões, por permitirem a entrada de tarjas e bandeiras a certos magotes organizados de adeptos - não confundir com claques), o benfica reagiu com a naturalidade que lhe é dada, há anos, pela impunidade. O jogo da primeira jornada com o Braga ia mesmo ter lugar e tudo seria resolvido num instantinho. E foi: em 24 horas, a interdição foi levantada, sem se perceberem exactamente os fundamentos que levaram à decisão.

O problema de fundo mantém-se: o clube com mais adeptos em Portugal não reconhece, por mero calculismo e com a conivência das autoridades, as claques que o país inteiro vê na televisão a apoiá-lo. E isto, por mais ridículo que seja, só significa uma coisa: quem pode, manda. Neste ensaio sobre a cegueira, as lágrimas dos que, no futuro, chorarem a morte de mais adeptos terão sempre o gosto amargo da hipocrisia.

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