Uma questão de dupla personalidade

Sócrates na oposição: “Caso seja eleito, as auto-estradas sem custo para o utilizador vão permanecer sem custos. Foram obras socialistas. Não seria agora, pela mão do PS, que as portagens se tornariam uma realidade.” (Covilhã, Fevereiro de 2005)
Sócrates no governo: “Governo vai introduzir portagens em três SCUT”. (Auto Hoje, 18 de Outubro de 2006)


Sócrates na oposição: O Diário de Notícias aventa a hipótese de o PS subir o IVA para 20%, caso ganhe as eleições. Resposta de Sócrates: “O PS não vai fazer aquilo que o DN diz que o PS vai fazer. Não vale a pena perder tempo com notícias falsas. (…) Foi o PSD que aumentou o IVA e não o PS.” (declaração aos jornalistas, 3 de Janeiro de 2005)
Sócrates no governo: “O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou hoje na Assembleia da República o aumento do IVA de 19 para 21 por cento e o agravamento dos impostos sobre o tabaco e os produtos petrolíferos.” (Público, 25 de Maio de 2005)


Sócrates na oposição: “Quando PSD e PP chegaram ao Governo encontraram (…) uma taxa de desemprego de 4, 2% em 2001; (…) Hoje, os portugueses vivem numa economia com a taxa de desemprego em 6, 8%, havendo mais de 150.000 novos desempregados. (…) Portugal deve ter como objectivo recuperar, nos próximos 4 anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura.” (programa eleitoral do PS)
Sócrates no governo: “Este ano, Portugal terá 8,1 por cento da população activa sem emprego (mais 0,5 pontos percentuais que em 2005), valor que deverá subir para 8,3 por cento em 2007, suplantando pela primeira vez a média europeia (estimada em 8,2 por cento nesse ano).” (Público, 8 de Maio de 2006)


Sócrates na oposição: “Os idosos serão a prioridade primeira da acção governativa.” (programa eleitoral do PS)
Sócrates no governo: “São quase 400 mil os reformados que vão pagar mais IRS, por causa do Orçamento de Estado para o próximo ano.” (TVI, 2 de Novembro de 2006)


Sócrates na oposição: “Pretendemos investir prioritariamente nas áreas da saúde e das tecnologias.” “O compromisso do PS, em matéria de financiamento público da cultura é claro: reafirmar o sector como prioridade na afectação dos recursos disponíveis (meta de 1% no Orçamento de Estado).” (programa eleitoral do PS)
Sócrates no governo: “A despesa total estimada do Ministério da Saúde para 2007 é inferior em 0,4 por cento à prevista para este ano”. “O orçamento do Ministério da Cultura para 2007 prevê uma redução da despesa de 17,7 milhões de euros em relação ao ano anterior, o que corresponde a um corte de sete por cento. (…) A verba orçamentada para o ministério da Cultura corresponde a 0,4 por cento da despesa da administração central e 0,1 por cento do PIB.” (Visão, Outubro de 2006)


Sócrates na oposição: “Mas sabe, Sr. Primeiro-Ministro, quanto a honestidade, entre mim e si há uma diferença, é que eu nunca prometi em campanha eleitoral uma coisa e, depois de estar em funções executivas, fiz outra. Isso eu nunca fiz! O Sr. Primeiro-Ministro não pode dizer o mesmo. Ter honestidade política é sermos fiéis à nossa palavra. O Sr. Primeiro-Ministro, infelizmente, em matéria dos impostos, não pode dizer isso. E, quanto à honestidade, estamos conversados.” (discurso de Sócrates na AR, como deputado da oposição)

Pois é. Para julgar a personalidade de Sócrates-Primeiro-Ministro, nada melhor do que recorrer às denúncias de Sócrates-Deputado-da-Oposição…