Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

MST: Ai Carolina, ó i ó ai!


Ah, houvesse alguém que conseguisse estabelecer, por sentença judicial ou por decreto-lei, que o FC Porto joga pior e não pode, não deve absolutamente, ser campeão!

1- Pergunta meramente retórica: o que se sucederá se vier a concluir-se que as acusações despejadas em cascata pela D. Carolina Salgado se comprovarem, afinal, serem: a) falsas, b) incapazes de servirem de prova; c) repetição de suspeitas já constantes do processo Apito Dourado e, entretanto, arquivadas por ausência de fundamento; d) um pouco de tudo isso?

O que sucederá, então? A opinião pública ficará convencida? Concluirá que ela afinal não fez mais do que mentir para garantir as luzes da ribalta e o sucesso dessa obra-prima da literatura, do bom-gosto e das boas-maneiras, que dá pelo nome de Eu, Carolina, ou para se vingar de situações amorosas do foro íntimo, que em nada nos deveriam interessar? Não, obviamente que não. A opinião pública, desde que Carolina Salgado veio à praça e o dr. Pinto Monteiro mandou avançar a Dr.ª Maria José Morgado, já só espera, já só se contentará, com uma e uma única coisa: a acusação, julgamento e condenação de Pinto da Costa e do FC Porto. Qual presunção de inocência, qual ónus da prova de quem acusa, qual princípio do contraditório, qual regra do nexo de causalidade entre os cafézinhos e os resultados no estádio! Se for preciso, crucifica-se também a Dr.ª Maria José Morgado e faz-se um levantamento nacional contra o Estado de Direito. A bem da nação, claro.

Se quiserem saber o que pensa a opinião pública, basta atentar no que diz o presidente do Benfica. Aliás, é sempre útil escutá-lo quando ele vai em romaria às casas do Benfica, ocasiões essas em que garantidamente o coração lhe sai pela boca. Disse ele, de visita a Gândaras: «Começamos a ver as caras do polvo. Todo o país irá saber a verdade sobre a viciação da classificação dos árbitros e dos resultados desportivos. O Benfica já sofreu muito por isso.» Estaria ele a referir-se ao seu ex-aliado e sócio na Liga de Clubes, Valentim Loureiro? Podem crer que não… Da mesma forma que, com a referência aos padecimentos do Benfica, não estava seguramente a pensar no campeonato ganho pelo Sr. Trapattoni…

2- A pergunta que faço tem a sua razão de ser fortalecida à luz das informações que vêm sendo publicadas no semanário Sol pela conhecida jornalista Felícia Cabrita. Se ela está bem informada e se o que diz é verdade, prevejo um horizonte nada dourado para o apito. Escreve Felícia Cabrita: «Quanto aos documentos que Carolina dizia ter e que sustentariam as suas acusações, o seu depoiamento foi vago e inconsistente, o que levou a DCICCEF (Direcção Central de Investigação da Criminalidade e Corrupção Económica e Financeira, da PJ) a fazer uma busca a sua casa. «Nada foi encontrado. Apenas documentos antigos, nomeadamente extractos de contas bancárias» — conta a mesma fonte, acrescentando que em pouco tempo as revelações «revelaram-se um flop». Mais interessante ainda teria sido ouvir o presidente do Benfica comentar a seguinte passagem do artigo de Felícia Cabrita no Sol (e recordo que ela foi a primeira jornalista a registar as acusações de Carolina Salgado, antes mesmo da saída do livro): «Segundo o Sol apurou, o primeiro encontro entre os agentes da DCICCEF e Carolina Salgado ocorreu num hotel da Praça de Espanha, em Lisboa, e teve como intermediário o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. Com Carolina, estava a redactora do livro, Maria Fernanda Freitas, e a jornalista Leonor Pinhão. Duas semanas antes, o presidente do Benfica entregara na DCICCEF um dossier com documentação que, segundo afirmou, iria provocar um abanão no mundo do futebol, contendo provas de corrupção. Mas, segundo a mesma fonte judicial, Luís Filipe Vieira comprou gato por lebre: «os documentos não passavam de fotocópias de peças processuais do processo Apito Dourado que já foram arquivadas».

Curioso tudo isto… Muito, muito curioso. Os agentes da PJ encontram-se com uma pessoa que, aparentemente, lhes quer fazer uma denúncia, num hotel? E o presidente do Benfica serve de intermediário entre as partes? Se isto é verdade, a que título se terão encontrado todos, visto que a título processual não foi, nem podia ser? Seria um encontro de velhos amigos, de benfiquistas, de fundadores do clube A Verdadeira Investigação que Interessa ao Apito Dourado?

Em verdade vos digo, parafraseando o Hamlet: «Há mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa vã sabedoria supõe.» Eu, por mim, enquanto vou assistindo, deliciado, ao progresso das investigações, mantenho o que disse: no lugar de Pinto da Costa, tinha-me demitido quando saiu o livro de Carolina Salgado. Não porque acredite numa palavra do que ela ditou ou porque me sejam indiferentes coisas como a presunção de inocência e a verdade da prova feita em juízo. Mas porque ele lhe atribuiu um papel e uma importância no clube que lhe permitiu ficar em posição de arrastar pela lama, não apenas o nome dele, mas o do próprio clube. Por razões internas, e não externas, portanto.

3- Quanto ao resto, quanto à substância das coisas, vou vendo futebol. E o que vejo (mesmo com o inqualificável acidente de percurso do Atlético, à parte), chega-me para perceber as diferenças e quão desesperada é, consequentemente, a esperança sem fim posta aos ombros da Dr.ª Maria José Morgado. Ah, houvesse alguém que conseguisse estabelecer, por sentença judicial ou por decreto-lei, que o FC Porto joga pior e não pode, não deve absolutamente ser campeão! Se houvesse alguém que, nem que fosse por golpe de Estado, pusesse termo a esta monotonia de, ao fim da primeira volta do campeonato, o FC Porto já ter sete pontos de avanço!

4- Vale e Azevedo prepara-se para voltar à cadeia, para cumprir longas penas. Na altura em que alguns, poucos, ousavam questionar os seus métodos e a moralidade que se auto-atribuía para, também ele, regenerar o futebol português, a multidão da opinião pública caía-nos em cima, defendendo o seu herói, o seu D. Quixote, em cruzada santa contra Pinto da Costa e os bandidos do Norte. Mas, agora, onde estão os seguidores de ontem de Vale e Azevedo? Quem chora por ele uma lágrima, quem se detém a pensar «fomos nós que lhe demos força para todas as malfeitorias que fez, fomos nós que fechámos os olhos e os ouvidos e que fingimos não dar por nada, mesmo quando os próprios opositores internos eram silenciados à força»? Onde está ele agora, o exército dedicado que Vale e Azevedo tinha ontem? Eu digo-vos: está com a D. Carolina Salgado, em nova cruzada. Felizmente, não são e não foram todos: há benfiquistas cuja coragem de então nunca me esquecerei de admirar.

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