Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Parabéns (*) mouros vermelhos - Parte 3

Volto à saga do 99.º aniversário do Benfica para falar de superstição. Não é seguramente um desígnio exclusivo da brigada punga. Conta-se aliás que até no maior clube português a superstição fez história. O saudoso António Morais, treinador do Sporting, tinha a pancada de que, em dia de jogo, o autocarro da equipa não poderia de forma alguma fazer marcha atrás, sob risco de comprometer o resultado do encontro. Certo dia, na Covilhã, depois de o condutor errar o desvio para o estádio, o veículo teve de percorrer mais de vinte quilómetros até encontrar uma rotunda onde pudesse inverter a marcha sem fazer a temida manobra. Ganhámos, claro. Os jogadores devem ter ficado tão arrepiados com a graça que decidiram ganhar, não fosse o Morais lembrar-se que, se calhar, para garantir mais vitórias, teria de suturar a carótida de todos os defesas-direitos com uma catanada na véspera do jogo.
Os psicólogos têm um nome técnico para este tipo de indivíduos: chamam-lhes maluquinhos (espero não vos perder com o jargão demasiado específico).
É claro que, se isto aconteceu no maior clube português, onde a maior parte das pessoas utiliza avisadamente os garfos para capturar pedaços de comida e não para raspar a mascarra das unhas, imagine-se as histórias da pandilha de Carnide. Recupero duas.
Como se sabe, o Benfica é o maior especialista mundial em perder finais de competições europeias. Os franceses gozam com o ciclista Raymond Poulidor, eterno segundo classificado da Volta à França, mas o Benfica, benza-o Deus, é bem pior. Em havendo joguinho decisivo, o clube comporta-se como os franceses nas guerras mundiais e atira-se para a trincheira, de rabo para o ar, imitando a proverbial avestruz.
Sabedor da malapata, Toni, treinador dos brumelhos na final de Eindhoven de 1988 (aquele abraço, Veloso!), tentou inverter a sina. Isso, de preparar equipas e ensaiar rotinas, está muito bem, pensou o treinador, mas, volta e meia, uma superstição burgessa é bem capaz de ser a solução. Aconselhado pelo parapsicólogo Delane Vieira (homem com tanta influência divina que tinha o demónio em speed dial), foi a um supermercado de Estugarda, encheu um carrinho de compras e ofereceu o conteúdo ao primeiro transeunte necessitado que encontrou.
Não se sabe ao certo o que falhou em tão genial plano. Talvez o mendigo fosse criterioso e não apreciasse as embalagens reunidas à pressa por Toni (“E o meu amigo não me diz o que vou fazer com três – três, santo deus! – latas de pêssego em calda? Ainda se fosse grão de bico, talvez se fizesse um bacalhau de estalo, com bróculos e tudo. Agora, isto! E o estojo de epilady é para mim? Pode esquecer essa vitoriazinha com os holandeses. Agora é que não ajudo mesmo!) Talvez ninguém tivesse dito a Veloso que os penalties são normalmente concebidos para que os jogadores os marquem.
A verdade é que o Benfica perdeu. Naqueles segundos fatídicos de Estugarda, várias coisas passaram pela cabeça de Toni. Uma delas foi seguramente a vontade de apontar uma pressão de ar à genitália de Delane Vieira numa próxima ocasião.
Veio a final de 1990. E logo em Viena, cidade onde foi sepultado Bela Gutmann, o único treinador do Benfica que ganhou duas finais e que, pela incompetência, logo foi premiado com a dispensa. Correu por esses dias a informação de que o Benfica não era uma equipa merdosa, longe disso!, a culpa era da maldição lançada por Gutmann, segundo a qual mais ninguém ganharia uma final no clube depois dele.
Entra em cena o Eusébio. Por iniciativa própria, o pantera negra foi ao cemitério de Viena e, junto da campa do malogrado húngaro, pediu clemência para o Benfica no jogo frente ao AC Milan. Ora, eu nem gosto particularmente de futebol, mas de crendice bacoca sou cliente viciado. Intriga-me o que terá corrido mal nesta estratégia. Talvez Gutmann não tivesse escutado bem – diz-se que uma das coisas que se perde mais depressa num cadáver é o discernimento. Talvez o Benfica pudesse ter tentado treinar para o jogo em vez de organizar romarias a cemitérios que, apesar de proporcionarem sempre momentos de grande folgança, não ajudam tanto a ganhar jogos de futebol. Inclino-me porém para uma terceira hipótese. Conhecendo bem Osébio, é bem possível que o pantera negra se tenha prostrado no jazigo de outro fulano qualquer, cuidando que estava à beira de Gutmann. Já lá dizia Plínio, o Velho: In vino veritas… O vinho realça a verdade!

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