Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Como o tolo no meio da ponte

Os meios de comunicação social foram a Valongo registar a sorte de um energúmeno de 22 anos cujo relevante contributo para a Humanidade foi ter sido apanhado 29 (vinte e nove!) vezes sem habilitação legal para conduzir. O juiz encarregue de apreciar a 30º (trigésima!!) infracção achou que ainda não valia a pena metê-lo, de modo efectivo, na cadeia. “Talvez na 31º ou na 42º...” terá pensado. Deu-lhe a pena de três anos de prisão, mas suspensa por três anos. A criatura parecia nervosa mas, à saída, ululou, exultante, que “não era nenhum criminoso”. E nisso ele até tem razão. “Criminoso”, nesta história, é quem não o mandou para a prisão ao terceiro ou quarto julgamento, já que a atitude deste chico-esperto revela o mais profundo desprezo pela Lei de que me recordo. Mas o senhor Magistrado também não quis ficar para a História como carrasco de um pobre coitado de 22 anos, que até teve a mãe a beijá-lo para as câmaras de televisão, sempre repetindo “eu não sou criminoso, não matei ninguém” - uma frase que traduz o sentimento popular do único tipo de crime cujo agente merece, aparentemente, ir para à cadeia: o homicídio. E como o juiz condescendeu, o espertalhão do advogado assoberbou-se e não hesitou em rotulá-lo de “um dos mais competentes do país e extremamente humano”, numa inclassificável atitude de lambebotismo. Nem quero pensar o que este causídico diria do Magistrado no caso da sentença ter seguido um sentido inverso...
A umas largas dezenas de quilómetros de Valongo, mais exactamente em Caminha, decorreu outro julgamento, mas nada mediático – pelo menos agora, muito embora os factos tivessem sido notícia de jornal, há dois e meio, aquando de mais um acidente de viação. Era Dezembro e o frio dominava o tempo, sempre acompanhado daquela humidade que dá uma beleza feérica a essa combinação celta de granito e musgo. Entre Cerveira e Caminha eram raros os carros que perturbavam o silêncio dessa manhã ainda a despontar. Um casal, mais a irmã dele, seguiam para Norte, para um funeral de um familiar. Em sentido contrário, também de carro, regressavam a casa dois jovens, depois de uma epopeia non-stop que atravessara discotecas e bares do Alto Minho. Ninguém é dali. Os primeiros residem em Barcelos e, os segundos, em Vila Verde. Mas foi ali que o Destino fez com que se encontrassem. Melhor, com que chocassem. O jovem que ia ao volante adormeceu, perdeu o controlo do carro, deixou a sua faixa de rodagem e invadiu a contrária. Ao volante do carro barcelense, o condutor guinou tudo para a direita, atirando-se para a valeta, numa desesperada tentativa de evitar o embate. Não conseguiu. A viatura dos jovens embate, à velocidade a que vinha, naquela família já previamente enlutada. O choque é brutal. Os dois irmãos morrem.Chega, agora, o dia do julgamento. O condutor tem, hoje, 24 anos. Confrontado com a acusação, assume tudo e chora, chora muito, sem espectáculo, em silêncio sofrido. Não era, efectivamente, um choro qualquer. De costas direitas, enfrentando a juiz, o acusador público e o advogado da família da vítima, a voz sai-lhe travada e arrastada, enrolada nas lágrimas que não cessam de lhe rolar pela cara. A dignidade, como a vejo, é mesmo isto. Diz que o que lhe aconteceu lhe transformou a vida num pesadelo, que lhe custa dormir e que tinha medo de vir a Tribunal, não pela sentença, mas por ter de ver a dor na cara dos familiares das vítimas. Quis pedir-lhes desculpas, o que fez de forma expressa e repetitiva, em autêntica catárse. No final, quando todos iam a sair da sala de audiências, a filha de uma das vítimas, sensivelmente da idade do arguido, dirigiu-se a ele, identificou-se como tal e disse-lhe que não se preocupasse mais, porque a sua família não lhe guardava rancor nenhum, que fosse em paz e que procurasse refazer a sua vida. Ele fechou os olhos e continuou a chorar...

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