Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Capital da transparência

«Esta semana o presidente da comissão de arbitragem da liga, Vítor Pereira, nomeou o árbitro Pedro Henriques para o clássico entre FC Porto e Sporting. Sem surpresas (pelo menos para mim), mais um árbitro de Lisboa (e conhecidamente afecto aos leões…) é nomeado para dirigir os azuis e brancos contra um dos rivais de Lisboa. Uma vez revogado o requisito de que árbitros e clubes da mesma associação não se podiam encontrar no mesmo campo de futebol (se bem que Lucílio Baptista tenha torneado bem o problema…), a fim de evitar possíveis conflitos de interesses e de mostrar imparcialidade (na lógica de que à mulher de César não basta ser séria…), como acontecia em anos transactos, a esta nova direcção é permitida, agora e sem despudor algum, nomear árbitros da mesma associação de um clube para um determinado jogo.
O que uma primeira análise, ainda que superficial, nos permite concluir, de facto, é o de que os árbitros, supostamente, serão nomeados para os respectivos jogos com base na sua exclusiva competência e não, como anteriormente, com base em aspectos geográficos. Mas, ao mesmo tempo, e porque não gosto que façam de mim palerma, as recorrentes nomeações de árbitros alfacinhas (ainda que estrategicamente registados em outras associações, como a de Setúbal) para jogos do FC Porto com os seus rivais de Lisboa, permite-me retirar outro tipo de ilações e dúvidas, no que concerne às nomeações e ao trabalho respeitável da comissão liderada por Vítor Pereira.
Em primeiro lugar, parece-me ridículo e desprestigiante para todo o resto da arbitragem portuguesa, particularmente para todos aqueles que não sejam lisboetas ou dependentes da associação de futebol de Lisboa, não poderem ser nomeados para jogos entre o FC Porto e os dois rivais de Lisboa. De facto, parecem-me, este tipo de jogos, os que maior prestígio e visibilidade conferem aos árbitros em termos de carreira assim como são estes que permitem, principalmente pela sua especificidade mediática, aferir da sua qualidade e competência.
Em segundo lugar, creio poder concluir que a comissão e Vítor Pereira assumem publicamente que só existem árbitros verdadeiramente competentes e idóneos na zona de Lisboa e Vale do Tejo e que todos os outros, pelos mais variados motivos, não oferecem a segurança (não sei propriamente de que tipo…) exigida pela comissão de arbitragem.
De facto, o que isto nos mostra, em conjunto com o processo do apito, é que o nosso país está, realmente, fracturado entre Norte e Sul, entre corruptos e honestos, entre azuis e de outras cores, entre manipuladores e manipulados, entre vilões e bons, ao bom estilo dos western americanos. Os meios de comunicação e os centros de poder (todos sedeados naturalmente em Lisboa) tentam fazer passar a imagem de que o banditismo e as mais variadas formas de corrupção fazem parte, de alguma maneira, do código genético do povo do norte.
Para esses pretensos combatentes pela moral e pela justiça, o país só voltará a ter honradez e seriedade quando ao encerramento das maternidades, das escolas, de repartições públicas e de hospitais, que consistem, inexoravelmente, numa centralização desumana e tristemente salazarista, se juntar a despromoção, o encerramento ou a falência de todos os clubes que se encontrem para lá dos limites periféricos da capital. Nem que, para isso, se procedam ou recorram a nomeações parciais, sumaríssimos subjectivos, reuniões clinicamente adiadas, relatórios de árbitros deixados em pára-brisas de automóveis ou ainda a dossiers anónimos. Isto sim, no entender deles, é de capital…transparência.»

Texto de Vasco Guimarães in
zerozero.pt

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