Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Como está o Porto

O Porto está velho, gasto e sujo e parece que muita gente ainda não deu por tal. Dirá o leitor que é uma entrada pessimista da crónica, mas se verificar atentamente não ficará tão chocado como isso, porque o aspecto geral da cidade, nos prédios, nas ruas e em algumas das suas actividades mais marcantes, é desanimador.

Quanto aos prédios e à enorme tarefa da reabilitação do corpo central da cidade, constata-se que anda tudo tão lento que até um optimista começa a ter dúvidas se e quando lá chegaremos, todos sabendo ou devendo saber, que não é fácil, nem imediato chegar lá, como alguém pretendeu fazer crer.

Mas não só os prédios e quarteirões antigos que denotam abandono e incúria e oferecem esse panorama depressivo que atravessa o olhar de quem anda pelas ruas, é também o mau estado de saúde destas que se torna cada vez mais visível, incómodo para os veículos que por elas transitam e, nos passeios, para os peões que as têm de percorrer. As ruas do centro do Porto estão uma desgraça, maior ainda em zonas onde lhe conservaram os paralelepípedos ou lhe fizeram regressar os cubos e, da parte da Câmara, não parece haver uma estratégia de manutenção corrente, tipo "obra de pichelaria", para reduzir os incómodos.

Certo que estão em curso algumas intervenções de fundo, tipo "operação de barriga aberta", como diz o povo, mas sobre isso já aqui se falou na crónica e agora do que se trata é daquela manutenção corrente que há anos atrás era feita pela "Divisão de Arruamento" e lá ia permitindo compor "as mazelas" mais imediatas e velar pela saúde do "doente". São pequenas obras que não dão propaganda, aparato ou grandes inaugurações, mas permitem "tapar uns buracos", melhorar uma lomba incómoda num cruzamento ou corrigir um ou outro passeio "desdentado" e, sobretudo, amenizam muitos incómodos aos cidadãos utentes.

Uma cidade velha e gasta como a nossa tem apetência para atrair a sujidade e o desleixo, que são estados comportamentais da cultura, ou falta dela, dos seus cidadãos, e nisto o Porto nunca foi brilhante, ou seja, sempre teve dificuldades de resolver a limpeza das suas ruas e o modo como os cidadãos e utentes se desembaraçam dos resíduos sólidos, vulgo lixos.

Como se isto não bastasse para tornar mais desleixado e deprimente este corpo velho e gasto, nos últimos tempos a cidade foi invadida por uma nova onda predadora de "graffitis" que atacam em tudo que é sítio e têm contribuído para apoucar a sua imagem urbana. Até admito que alguns dos autores julguem que estão a fazer arte urbana, tal como o fizeram na New York do final dos anos 70 do século passado Keith Haring e Jean Michel Basquiat com a "graffiti art"; mas isso ocorreu há quase 40 anos, em condições sociais e sociológicas bem diferentes, e representou mesmo um movimento artístico datado e significante. O que é visível pelas paredes do Porto e arredores nada tem a ver com isto e os seus autores e os poderes públicos deveriam reflectir sobre o assunto, pois em nada a cidade ganha com tal prática.

Já agora, uma sugestão da crónica por que não cria a Câmara, nalgumas zonas da cidade, espaços disponíveis para que os "graffitis" possam ter a sua expressão e façam parte do movimento de transformação e animação da cidade? Como quem cria condições para "espaços temáticos de intervenção" que, mesmo historicamente desajustados no tempo, andam por aí e o melhor é não os ignorar, metendo "a cabeça na areia" como se não existissem.

Poderia ser que assim a cidade ficasse mais limpa e alguma criatividade potencial fosse mais bem encaminhada, aproveitada e reconhecida. Quem sabe?

Ficam as actividades comerciais e mercantis que deram "imagem de marca" à cidade e estão em crise para próxima crónica, pois a sua velhice também passa por aí.

gomes.fernandes@europlan.pt

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