Amanhece...
Adormece finalmente a noite rubra
que deixaste à minha porta.
O dia é um sonolento jardim
onde dormem as sementes da espera.
Há vida, porém,
neste jardim que dorme
mesmo sob o sol que corre.
Vou viver, enquanto espero
(esperas também, eu sei).
Visto-me de flor aqui, ali.
Quem sabe algum perfume sintas,
no ar, que em mim deixaste
na insone noite de sonho?
O dia é um pêndulo lento
caminhando indiferente
da esperança ao desalento.
Onde estou, onde estás
na tênue passagem do nosso tempo?
Saramar
Imagem: Edvard Munch
(retirado do blogue Abrindo Janelas)