A missa de sétimo dia teve um andor (o árbitro) e um anjinho (treinador do Porto)

A propósito de morte de Eusébio, aquele grande goleador que um dia o boifica despediu e teve o seu fim de carreira a arrastar-se pelo Beira Mar e pelo União de Tomar, o jornalixo lisboeta foi passando a idéia que o destino histórico da nação estava condenado caso não houvesse transladação ( a chamada transladação relâmpago, com direito ao Guiness ) e a equipa encornada não vencesse o FC Porto no domingo passado dedicando essa vitória ao espírito do falecido. 

Verteram-se lágrimas de crocodilo, pois uns choravam porque não sabendo quem era o homem (afinal as suas conquistas foram-no a preto e branco) diziam-lhes que ele fora um fora-de-série (que o foi na sua remota época), outros porque perceberam que a populaça gosta destas cenas lamechas e que assim conquistavam os corações dos tais 6 milhões (mortos incluídos). Os políticos apareceram, no parlamento os deputados cantaram-lhe hossanas, o presidente, há quem diga, coisa espantosa, verteu uma lágrima...

A podridão centralista e republicana fez o seu papel. 

Chegou o domingo. 

No dia do jogo que opunha a equipa da capital colonial ao FC Porto, espantou-se a populaça com aquela "magnífica" obra cujo acompanhamento especial por parte do engenheiro Vieira transformou numa bela ... merda.

Dos tais adereços que os outros (parvos ou sentimentalões) adeptos dos clubes rivais lá deixaram e que antes haviam sido retirados para evitar "cenas de vandalização" (de quem, dos "santos" adeptos encornados?), nem sombra. Esquecimento, certamente...

Entretanto aproximou-se a hora do jogo e o apelo da família (?) foi uma vez mais comentado pelos lixeiros de serviço das televisões lisboetas: os adeptos do Porto ficariam caladinhos, ou transformar-se-iam nos verdadeiros arruaceiros que os sulistas acham que eles são?

Perderam o pio: os heróis do Porto mantiveram-se calados e respeitaram o tal pedido (ao contrário do que acontecera na véspera, em que os adeptos do zporen mandaram uns assobios e uns gritinhos próprios de calimeros).

Começou o jogo, apitado por um fulano do Porto que foi escolhido para andor. Era deixar andar e quando fosse a hora mostrar aos da capital que, sendo oriundo da cidade lá do Norte, pertence aquele grupo de Miguel de Vasconcelos, traidores da causa Nortenha e bajuladores da corte centralista, sempre ofuscados pelo brilho podre dos corredores do poder lisboeta.

Estranhei logo ver os jogadores encornados com camisolas com o mesmo nome. Já vi árbitros mandarem sair de campo jogadores com a camisola trocada... Mas deve ser mais uma regra excepcional permitida às equipas da capital colonial e só a essas...

Depois, dizem que Mangala cortou uma bola e que era penalti. Até pode ser; é dos tais penaltis-à-benfica, em que, dentro da área, braço vai da cabeça aos pés...

Mas:

- interromper o jogo quando Jackson isolado se preparava para facturar, marcando uma falta contra o boifica ...

- marcar falta contra o boifica à entrada da área do Porto e fazer bola ao solo com o guarda redes ainda ali ao pé (só não deu golo por acaso) ...

- expulsar um jogador por simulação que ninguém viu (viu-se, sim, um penalti-á-boifica); esta expulsão foi vontade firme e inequívoca de prejudicar o FC Porto.

Mas nem era preciso. O anjinho do treinador do Porto, cujo discurso não agrada a um único portista, que não é minimamente motivador nem para uma lesma e cuja actuação não cabe naquilo que é o espírito do FC Porto, encarregou-se logo disso. Só Pinto da Costa não vê e não ouve. Irra!

Ao escolher o onze começou logo a perder. Ouvi, na rádio antena lisboa 1 (outra que sendo paga pelos nossos impostos insiste em colocar adeptos da benfica tv a fazer relatos) um bacano que estava junto ao relvado dizer que Otamendi gritava para Helton não lhe passar a bola, tão grande era a tremideira. Nós vimos; uma, duas, três, quatro, cinco, seis maus passes. Não acertava uma. Licá, nome de bailarino de cabaret estava no seu sítio errado. O meio campo perdia em quantidade para o adversário.

Varela perdido e Jackson sem bola não pode marcar...

Aqueles moços que podiam inclinar a coisa, Kelvin ou mesmo a raposa Quaresma (como se viu mais tarde) ficaram no banco. Já para não falar noutras opções e até noutra táctica mais guerreira...

Os mind-games também falharam: "ah e tal, o Jesus não vai jogar com dois ponta de lança". Perdeu aqui também.

A estatística é fixe no basquetebol. No futebol é uma trampa a que habitualmente Paulo Fonseca se agarra. Mais posse de bola, mais isto, mais aquilo ... menos golos, que é a essência do futebol.  

Apesar de tudo, parece-me que este cromo escolhido por Pinto da Costa nem nessa nobre modalidade se safava...

E o desígnio foi conseguido. A equipa da capital do império venceu, todavia não convencendo. Tiveram um brinde para marcar um golo e jogaram na retranca e no contra ataque. O habitual nas equipas de Jesus quando defrontam o FC Porto. Noutras épocas, bem recentes, teríamos dado e volta e vencido. Só que este FC Porto, sem um treinador com estofo para esta equipa, levou apenas dois ou três jogadores a jogo. Os outros ficaram no hotel a tentar perceber a  táctica inventada do pivot invertido. Mas afinal, pivots é coisa de dentista, e este anjinho do Fonseca está a extrair os nossos dentes sem anestesia...

Pinto da Costa será teimoso ou não consegue para aí um lugar na FIFA, tipo IVIC, e manterá, para nosso desespero e ruína do FC Porto, este inábil treinador para uma equipa de topo como a nossa. 

Lamento ouvir o "prasidente" Vieira elogiar os adeptos do FCPorto, mesmo por um veemente pedido da família enlutada. Enfim. Lamento ver o FC Porto ainda não ter ganho esta época um único jogo em lisboa. Lamento ver o FC Porto, que teve 5 pontos de avanço, tenha agora menos 3. Lamento ter mais derrotas nesta época que nas últimas duas ou três juntas... Lamento que o Porto Canal, supostamente sob controlo do FC Porto, seja um lar de insonsos e cobardes, sem idéias e que repetem as ladaínhas e rostos das televisões da capital, que não defenda o Clube das patranhas e ataques soezes dos sulistas. Lamento que, por causa deste desperdício e estado de coisas, alguns portistas já pensem em desistir do combate  (não é Vila Pouca?, não é Rui Valente?) porque percebem o autismo face ao descalabro e às promessas não cumpridas. 

Não somos invencíveis, no desporto ninguém o é, pelo menos por muito tempo, mas a perder que seja de pé, como as árvores...

Lamento que Pinto da Costa não perceba que estamos de volta aos anos 60 e 70 do século passado, onde amarguramos e fomos gozados durante 18 anos...