O canal do Porto e o Porto Canal

Meus caros amigos portuenses e nortenhos. Deixemo-nos de tretas e de complexos ou preconceitos. Atiremos para longe os cantos de algumas sereias que ainda tentam enganar-nos. Afastemos a discussão de pormenores e temas acessórios e concentremo-nos no essencial, atacando o cerne da questão. Se não formos nós a pugnar pelos nossos interesses, se não contarmos connosco para fazer bem a quem queremos bem e a elogiar aqueles de quem gostamos, criticando quem nos quer mal e continua apostado em nos fazer patifarias novas todos os dias do ano...ninguém fará isso por nós!

Se isto que vos digo é válido para quase tudo o que nos rodeia, digo-vos, sem rodeios, que isto é especialmente válido para as questões da comunicação e ainda mais para esse todo-poderoso meio de Comunicação Social chamado televisão.

Para convencer os mais cépticos, nem julgo sequer necessário brandir estatísticas ou debitar estudos científicos com assinaturas reconhecidas. Basta agarrar-me (e agarrar-vos) aos factos, que ainda está por inventar um argumento suficientemente pontiagudo para espetar factos redondos de razão.

A capital do país tem quantos canais de televisão lá sediados e ancorados? No universo da RTP, 6. Na órbita da SIC, outros 6. Na esfera da TVI, menos um, 5. Na dependência de clubes, Benfica e Sporting, 2. Em suma, temos 19 canais de televisão concebidos em Lisboa, feitos em Lisboa, trabalhados em Lisboa, apresentados em Lisboa, que convidam as pessoas para Lisboa. Que pensam Lisboa, respiram Lisboa e papagueiam Lisboa. Com raras excepções, num clube minoritário a que me orgulho de pertencer.

Quantos canais existem no Porto e Norte, aqui sediados ou por aqui controlados? 1! O Porto Canal! Claro que estou a desprezar conscientemente mais uma panóplia de iniciativas esforçadas deste ou daquele cromo, desta ou daquela empresa, mas neste terreno, Lisboa também pode pedir meças.

Neste panorama, não espanta que a Benfica TV (a quem num pudor recente se passou a tratar por BTV) e a novel Sporting TV, possuam um formato fechado nas coisas e nos interesses dos dois clubes. Rodeados de canais por todos os lados, a diferença que podem fazer reside na indiferença a que votam todos os assuntos que não tenham a ver com o mundo da Luz ou o planeta de Alvalade.

Já o Porto Canal teve um parto diverso e sobrevive numa incubadora com características completamente diferentes. Ao F.C. Porto, que a páginas tantas aceitou assumir as responsabilidades por este canal regional, teria sido (e ainda é) muito fácil moldar o canal à sua imagem total, reduzindo custos e afinando conceitos. Transformar o Porto Canal no F. C. Porto TV, teria sido de uma simplicidade estúpida e fico muito feliz por constatar que quem manda no clube e tomou as decisões que se impunham, foi capaz de ver melhor e mais longe do que teria visto um dirigente dedicado ao clube.... mas menos dedicado à cidade e à região.

Agora, meus caros portuenses e nortenhos, isto tem custos, como tudo na vida! Não podem andar meia dúzia de burros (ou de almas, que é mais simpático) a puxar a carroça onde todos querem andar.

Era bom que todos percebessem que estamos numa encruzilhada, que vai conhecer um desfecho decisivo nos tempos que se avizinham. Não me parece que o F. C. Porto tenha recursos para continuar a ser a locomotiva onde quase todos gostariam de viajar, muitos gostam de aparecer... e quase nenhuns querem pagar a conta.

Depois dos factos, os outros argumentos que me convencem com mais facilidade, são os exemplos. Posso dar o meu: à minha pequenina escala já contribuí e continuo a contribuir, empenhado mas sem me penhorar, que ninguém quer isso. Assim outros com mais responsabilidades e muito mais possibilidades do que eu sejam capazes de dar a mão a quem só os quer ajudar a defender os seus interesses.

Nem que seja para darmos um bocadinho de luta.

[daqui, no dia 15 de Outubro pp]