Quando se faz uma viagem de avião que nos "consome" cerca de oito horas de vida podemos fazer várias coisas: ler, dormir, ouvir música, ver aqueles filmes sem graça, pensar...
Na recente viagem de férias para Punta Cana, dei por mim a pensar. A pensar na sorte que tinha, na bondade que Deus teve em me conceder a possibilidade de desfrutar de algumas alegrias tais como ter saúde, ter uma vida bastante feliz e nada de essencial me faltar. Para além da oração de agradecimento, pensei naqueles que sofriam, que viviam com dificuldades e sacrifícios vários.
Lembrei-me então de África e de um artigo de opinião de Miguel Monjardino. Naquele continente onde 300 milhões de pessoas tentam sobreviver com pouco mais de 50 cêntimos por dia em cidades, vilas e aldeias assombradas por governos-vampiros e pelos fantasmas da fome e de doenças como o HIV/sida, malária e tuberculose. Todos os dias milhares destas pessoas morrem.
Apesar de Gordon Brown e Toni Blair considerarem que a redução da pobreza em África é uma das prioridades, na Escócia, a propósito da cimeira do G-8, os manifestantes lá dirão que os mais ricos nada fazem para combater a pobreza em África. É já um clássico.
Na Alemanha teve início uma enorme campanha de acção contra a pobreza. Os EUA, através da administração Bush, apesar de serem acusados de terem abandonado os pobres, têm sido extraordináriamente generosos com África como jamais alguma administração anterior o foi.
Uma coligação de políticos, músicos, académicos e intelectuais, de organizações não governamentais acha que pode acabar com este estado de coisas. Neste mês de Julho, promovido por Bono, Bob Geldof, Midge Ure, aconteceu o megaconcerto Live Eight assinalando o início da campanha Make Poverty History. Madonna convidou os presentes a iniciar uma "revolução".
Aquela coligação de gente subitamente iluminada e bem intencionada continua a falhar redondamente. As suas intenções de acabar com a pobreza em África revelar-se-ão, uma vez mais, um enorme fiasco.
Já em 1985, Bob Geldof organizou um megaconcerto, o Live Aid, para angariar fundos para socorrer as pessoas que estavam a morrer de fome na Etiópia. Como costuma acontecer nestas coisas, o dinheiro angariado nunca chegou a quem mais precisava. Como sabemos, vinte anos decorridos e a Etiópia continua a ser uma espécie de campeão da ajuda externa internacional. E é também paupérrimo e pessimamente administrado.
Lembrei-me então das nefastas acções de um ditador como Robert Mugabe que conduziu o Zimbabwe à ruína, à pobreza e à fome...
Entre 1960 e 2003 foram gastos mais ou menos 600 biliões de dólares (a preços actuais) para acabar com a pobreza em África. O resultado está à vista de todos. Salvo raras excepções, o Botswana, por exemplo, os resultados foram péssimos e os objectivos jamais atingidos.
Apesar dos rios de dinheiro canalizados para África durante as últimas décadas, a dura verdade é que muitos países são hoje mais pobres do que eram à data das suas independências.
Por mais ajuda externa que aconteça isso jamais significará menos pobreza. Se significasse, então África seria quase de certeza o continente mais rico do mundo.
As ajudas, essas certamente foram canalizadas para os bolsos dos caciques locais, de meia dúzia de imperadores tribais, que vivem à grande e sem respeito pela miséria dos seus povos. Claro, não podemos esquecer as várias comissões internacionais e respectivos elencos, que foram criadas para a “justa” distribuição das verbas. Ainda que num âmbito distinto (mas decorrente), atente-se a rica vidinha do português António Guterres, ele próprio é um dos que vive à farta com o vencimento pago pela respectiva comissão...
Li algo sobre o programa proposto pela mencionada coligação Make Poverthy History e pasmei: aquele adopta medidas que básicamente visam aumentar a pobreza. Isso mesmo. O aumento da pobreza! Ou não o serão medidas como o proteccionismo agrícola para os produtos africanos, o apoio a monopólios públicos em África, contra os esquemas de privatização e a favor dos padrões laborais, uma maneira de impedir a entrada no mercado daqueles africanos que são pobres mas que querem trabalhar e progredir. Lembro-me novamente do infeliz exemplo do ditador Mugabe...
Um programa com tais princípios básicos é uma verdadeira arma de destruição em massa. Citando Henryk Broder, colunista do jornal Alemão Die Zeit, todo este disparate pode ser resumido numa frase: “Pão para o mundo mas a manteiga fica aqui!”.
Assim, o resultado deste Live Eight arrisca-se a ser o mesmo que o do Live Aid; o melhor mesmo é começar a pensar já no proximo concerto contra a pobreza em África...
Na recente viagem de férias para Punta Cana, dei por mim a pensar. A pensar na sorte que tinha, na bondade que Deus teve em me conceder a possibilidade de desfrutar de algumas alegrias tais como ter saúde, ter uma vida bastante feliz e nada de essencial me faltar. Para além da oração de agradecimento, pensei naqueles que sofriam, que viviam com dificuldades e sacrifícios vários.
Lembrei-me então de África e de um artigo de opinião de Miguel Monjardino. Naquele continente onde 300 milhões de pessoas tentam sobreviver com pouco mais de 50 cêntimos por dia em cidades, vilas e aldeias assombradas por governos-vampiros e pelos fantasmas da fome e de doenças como o HIV/sida, malária e tuberculose. Todos os dias milhares destas pessoas morrem.
Apesar de Gordon Brown e Toni Blair considerarem que a redução da pobreza em África é uma das prioridades, na Escócia, a propósito da cimeira do G-8, os manifestantes lá dirão que os mais ricos nada fazem para combater a pobreza em África. É já um clássico.
Na Alemanha teve início uma enorme campanha de acção contra a pobreza. Os EUA, através da administração Bush, apesar de serem acusados de terem abandonado os pobres, têm sido extraordináriamente generosos com África como jamais alguma administração anterior o foi.
Uma coligação de políticos, músicos, académicos e intelectuais, de organizações não governamentais acha que pode acabar com este estado de coisas. Neste mês de Julho, promovido por Bono, Bob Geldof, Midge Ure, aconteceu o megaconcerto Live Eight assinalando o início da campanha Make Poverty History. Madonna convidou os presentes a iniciar uma "revolução".
Aquela coligação de gente subitamente iluminada e bem intencionada continua a falhar redondamente. As suas intenções de acabar com a pobreza em África revelar-se-ão, uma vez mais, um enorme fiasco.
Já em 1985, Bob Geldof organizou um megaconcerto, o Live Aid, para angariar fundos para socorrer as pessoas que estavam a morrer de fome na Etiópia. Como costuma acontecer nestas coisas, o dinheiro angariado nunca chegou a quem mais precisava. Como sabemos, vinte anos decorridos e a Etiópia continua a ser uma espécie de campeão da ajuda externa internacional. E é também paupérrimo e pessimamente administrado.
Lembrei-me então das nefastas acções de um ditador como Robert Mugabe que conduziu o Zimbabwe à ruína, à pobreza e à fome...
Entre 1960 e 2003 foram gastos mais ou menos 600 biliões de dólares (a preços actuais) para acabar com a pobreza em África. O resultado está à vista de todos. Salvo raras excepções, o Botswana, por exemplo, os resultados foram péssimos e os objectivos jamais atingidos.
Apesar dos rios de dinheiro canalizados para África durante as últimas décadas, a dura verdade é que muitos países são hoje mais pobres do que eram à data das suas independências.
Por mais ajuda externa que aconteça isso jamais significará menos pobreza. Se significasse, então África seria quase de certeza o continente mais rico do mundo.
As ajudas, essas certamente foram canalizadas para os bolsos dos caciques locais, de meia dúzia de imperadores tribais, que vivem à grande e sem respeito pela miséria dos seus povos. Claro, não podemos esquecer as várias comissões internacionais e respectivos elencos, que foram criadas para a “justa” distribuição das verbas. Ainda que num âmbito distinto (mas decorrente), atente-se a rica vidinha do português António Guterres, ele próprio é um dos que vive à farta com o vencimento pago pela respectiva comissão...
Li algo sobre o programa proposto pela mencionada coligação Make Poverthy History e pasmei: aquele adopta medidas que básicamente visam aumentar a pobreza. Isso mesmo. O aumento da pobreza! Ou não o serão medidas como o proteccionismo agrícola para os produtos africanos, o apoio a monopólios públicos em África, contra os esquemas de privatização e a favor dos padrões laborais, uma maneira de impedir a entrada no mercado daqueles africanos que são pobres mas que querem trabalhar e progredir. Lembro-me novamente do infeliz exemplo do ditador Mugabe...
Um programa com tais princípios básicos é uma verdadeira arma de destruição em massa. Citando Henryk Broder, colunista do jornal Alemão Die Zeit, todo este disparate pode ser resumido numa frase: “Pão para o mundo mas a manteiga fica aqui!”.
Assim, o resultado deste Live Eight arrisca-se a ser o mesmo que o do Live Aid; o melhor mesmo é começar a pensar já no proximo concerto contra a pobreza em África...
0 comentários:
Enviar um comentário