E se, no meio de uma seca tremenda, brotasse água límpida do solo? Seria coincidência ou intervenção divina? Em pleno século XVIII, foi para todos um milagre trazido pela devoção a Nossa Senhora de Campanhã. A mesma que terá intervindo decisivamente, por entre as ervas, para a vitória de cristãos contra mouros no longínquo ano de 920 e que, por isso, terá partilhado a sua designação com as gentes que ali viviam.
A luta é entre os homens de Hermenegildo Guterres, governador do burgo, e os de Abd al Rahamm III, emir de Córdova, no papel de invasor. A resistência dos primeiros – com alguma ajuda do exército dos cristãos do Norte – provocou a retirada dos mouros, não sem deixar pelo caminho um elevado número de mortes. “Já conto mil”, anunciava Hermenegildo Guterres. Contumil diríamos nos dias de hoje.
Uma batalha final entre cristãos e mouros resultaria num confronto violento junto a um pequeno rio. O sangue derramado terá sido tanto que deixara a água num tom tinto durante vários dias. Nascia aí a localidade de Rio Tinto.
E aqui entra a primeira referência à Santa que viria a tornar-se padroeira da actual freguesia portuense. De regresso ao Porto, os cristãos vencedores terão encontrado, no meio da vegetação, uma imagem de Nossa Senhora. Aparição divina como supuseram, a ela atribuíram a vitória na campanha contra os mouros. E aquela tornar-se-ia Nossa Senhora da Campanha, que os anos e a popularidade transformariam em Nossa Senhora de Campanhã. Mais uma zona baptizada.
Se a Santa foi a salvação numa batalha contra os mouros, também seria na batalha contra as questões meteorológicas. Depois de séculos de devoção, foi a ela que as gentes de Campanhã recorreram para dar resposta a um longo período de seca severa, que já trouxera a fome a pessoas e animais.
Em procissão para pedir chuva, a imagem de Nossa Senhora terá caído do andor. Da queda resultou a quebra de uma das mãos da figura. O que mais surpreendeu os populares foi o que terá acontecido no dia seguinte. Do preciso local onde a mão da padroeira de Campanhã caiu, na Rua de Bonjóia, brotava água límpida. Brotava o “Milagre de Nossa Senhora de Campanhã”.
O agradecimento sentido ergueu-se primeiro em forma de cruzeiro e, mais tarde, uma fonte, que actualmente ainda se pode encontrar debaixo do viaduto da Via de Cintura Interna. Mais ao lado, para que a homenagem não se escondesse, foi erigida uma pequena capela onde se lê para que ninguém esqueça “Memória da Fonte da Senhora”. A Senhora que foi sinal de vida em Campanhã…mais do que uma vez.
A imagem de Nossa Senhora de Campanhã pode ser visitada na Igreja Paroquial. Considerada uma das mais belas imagens da Virgem existentes na Diocese do Porto, é uma peça esculpida em calcário, estofada e policromada, de influência francesa e atribuída ao século XIV.
Imagem e artigo daqui
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