“Tão cedo as pessoas não vão ficar melhor. Não se iludam”
Interessa-me mais o longo prazo. No Índice de Qualidade das Elites (EQx) 2023 [em que Portugal caiu para o 30.º lugar, num total de 151 países analisados], que avalia 134 parâmetros e classifica as elites políticas e económicas tendo em conta o poder e o valor que criam, verificamos que a elite política portuguesa é extrativa, o que significa que o dinheiro que o Estado recolhe da riqueza produzida não está a ser usado da melhor maneira. Notamos isso, por exemplo, quando ‘a economia está melhor, mas as pessoas não estão melhores’. Ficariam melhor se a economia, em vez de 2%, crescesse a 4% ou 5%. Mas para isso é preciso melhorar a competitividade. Temos uma carga fiscal enorme e a dívida pública em termos absolutos não tem parado de aumentar. Ainda por cima agora, com o aumento das taxas de juro, tão cedo as pessoas não vão ficar melhor. Não se iludam.
E qual a avaliação que faz às elites económicas em Portugal?
O poder está muito concentrado, mas, pior do que isso, cria pouco valor. É um tecido económico pouco produtivo. Ok, fizemos um grande esforço na formação das pessoas, o capital humano melhorou imenso, mas depois verificamos que muito dele, em que gastámos dinheiro a formar, acaba por emigrar. Nas defesas de dissertações de mestrado, grande parte deles dizem-me ‘agora já posso ir embora’.
(...)
Os alunos mais promissores continuam a sair do país?
Sim. Continuamos a não reter o talento. E os que são retidos, depois não têm o melhor enquadramento na economia portuguesa para que sejam realmente produtivos.
Momentaneamente podemos ter bons resultados, como o crescimento do PIB acima das previsões. Mas é uma desgraça crescer tão pouco com a quantidade tão significativa de fundos que temos recebido e com o endividamento que temos. O peso da dívida pública condena o país a uma austeridade permanente, por via da carga fiscal. Por isso é que as pessoas não estão melhores.
Como pode o país libertar-se dessas amarras fiscais?
Crescendo mais. Tenho para mim que se a carga fiscal fosse aliviada de alguma forma, haveria mais retenção de talento – porque muita gente não emigraria se o IRS fosse mais baixo – e as empresas investiriam mais se a taxa de IRC fosse menor. Íamos ter taxas de crescimento mais significativas e, com isso, recolher mais impostos. Os efeitos disto demorariam alguns anos a chegar, mas seria mais sustentável do que estarmos a tentar esmagar tudo [com impostos].
Tendo em conta a dimensão da nossa dívida pública, só poderá haver redução de impostos se crescermos. Se crescermos a 0,55% ao ano, que corresponde à taxa de crescimento média anual entre 2001 e 2021, então o país apenas dobra o PIB ao fim de 126 anos. Se, pelo contrário, a taxa de crescimento média anual for de 4%, o PIB duplica ao fim de 17 anos. Veja o poder da taxa de crescimento sobre o nível de vida da população. Tenho um colega que esteve requisitado na União Europeia desde 2009, chegou agora à FEP e percebeu que ganha o mesmo salário que em 2009. Os salários não crescem porque a economia não cresce.
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