Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

𝐶𝑎𝑟𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑛𝑢𝑒𝑙 𝑀𝑢𝑟𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠, 𝑛𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑙 𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑠𝑡𝑎𝑠 𝑑𝑎 𝐵𝑒𝑖𝑟𝑎 𝐴𝑙𝑡𝑎, 84 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒, 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑢𝑔𝑢𝑒̂𝑠 𝑑𝑒 𝑎𝑙𝑚𝑎 𝑒 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑥𝑎𝑑𝑎, 𝑎𝑜 𝑐𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑎 𝐸𝑥𝑐𝑒𝑙𝑒𝑛𝑡𝑖́𝑠𝑠𝑖𝑚𝑎 𝑆𝑒𝑛ℎ𝑜𝑟𝑎 𝐷𝑜𝑢𝑡𝑜𝑟𝑎 𝐿𝑖́𝑑𝑖𝑎 𝐽𝑜𝑟𝑔𝑒.

 𝐄𝐱.𝐦𝐚 𝐒𝐞𝐧𝐡𝐨𝐫𝐚 𝐃𝐨𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚 𝐋𝐢́𝐝𝐢𝐚 𝐉𝐨𝐫𝐠𝐞,

Venho por esta carta, escrita com mãos calejadas mas cabeça bem erguida, responder, com humildade e pesar, ao seu discurso proferido ontem, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Fê-lo com pompa, com palavras estudadas, com recurso ao verbo polido das grandes cidades e aos corredores onde reina o eco dos salões luxuosos da Capital do Império. Mas permita-me dizer: fê-lo descompassada da alma do povo que vive nos montes, nas planícies, nas vilas e nas aldeias que não têm comboio, nem médico, nem esperança. A Senhora diz que Portugal nasceu com Camões. Não, minha senhora. Portugal nasceu em 24 de Junho de 1128, à ponta de uma espada afiada, num campo de batalha em S. Mamede, ali mesmo às portas de Guimarães, com Afonso Henriques a dizer à própria mãe que este chão era dele e de todos os que viriam a lavrá-lo e a respeitá-lo. Portugal não nasceu da pena, desculpe que lhe diga, nasceu do sacrifício, da terra cavada, das mãos sujas de pó e do suor que se mistura à pedra para erguer muralhas. Vivi 84 anos. Vivi-os sempre com muita honra, respeitando quem chegava à minha aldeia, fossem espanhóis, moçambicanos, chineses ou alemães. Nunca me coube no peito o veneno do ódio, nem nunca vi tal praga entre os meus vizinhos. O que nos revolta, minha Senhora, não são os homens, nem os seus credos, nem as suas cores. É a injustiça. É a falta de respeito por tudo o que este povo construiu com sangue, suor e lágrimas. Sei que mora em Alvalade, no coração de uma das cidades mais luxuosas da Europa, mas diga-me, onde estava Vossa Excelência, permita-me perguntar-lhe, quando fecharam os milhares de escolas das nossas aldeias e os miúdos passaram a andar carradas de quilómetros a pé para aprender a ler? Onde estava Vossa Alteza Real quando milhares de centros de saúde e dezenas de hospitais foram encerrados e nos deixaram uma carrinha velha a dizer que era “unidade móvel”? Onde estava Vossa Excelência quando o meu netinho, e outros milhares de netinhos, precisou de uma ambulância do INEM, para episódios de convulsões gravíssimas, e nunca apareciam, chegando ao Hospital, lá longe a trinta quilómetros, e lá estavam as viaturas do INEM ali paradas? Onde estava a Doutora quando os meus filhos emigraram para o Luxemburgo porque aqui o ordenado não chegava para metade do pão? Fala a Senhora com grande emoção sobre escravidão. Tem razão. Foi crime hediondo e deve ser lembrado, sempre, para que jamais volte a acontecer! Mas nós também temos direito à memória. Fui expulso de África depois de 30 anos a abrir estradas, a construir hospitais, pontes e escolas. Vim com a roupa do corpo e a dignidade nos ossos. Nenhum governo me agradeceu. Nunca! Tudo que ali conquistei, com o meu suor, ali ficou. Mas vim sereno, sem raiva, e com um filho maravilhoso, sim negro, que me deu netinhos maravilhosos, que amo com todo o meu ser. E agora, num dos dias mais sagrados da nossa Pátria, ouço dizer que devemos pedir desculpa por sermos quem somos? Que somos filhos de opressores? Que somos malignos por gostarmos do que construímos ao longo de séculos? Não somos. Somos filhos da fome, da dignidade, da luta e da perseverança.

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