Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

CARACÓIS! Quem come caracóis?!


Crónica na secção "Loft", da GRANDE PORTO MAGAZINE (nº2, Dezembro de 2013)

Nunca comi caracóis. E apesar de ser imprudente dizer-se “dessa água nunca beberei”, não creio que estando de posse de todas as minhas faculdades mentais, queira, alguma vez, provar essa “iguaria portuguesa”. Pessoalmente, aqueles molúsculos gastrópodes terrestres, primos das lesmas, causam-me repugnância suficiente para conseguir, sequer, imaginá-los como um pitéu! A visão de caracóis e de caracoletas cozidos, assados ou refugados, largando um molho amarelado e gorduroso, escorrendo pelos dedos dos seus comensais, tira-me o apetite. No entanto, os pratinhos de caracóis, acompanhando bebidas frescas, são muito apreciados no centro e, sobretudo, no sul do país. 
Em Espanha, a situação dos caracóis é, em tudo, semelhante à de Portugal. Para muitos e apesar de serem também servidos noutras paragens (ex. o “escargot” francês) também são um “pitéu espanhol”; em Madrid, tal como em Lisboa, comem-se nos meses da Primavera/Verão, com calor e nas esplanadas. No entanto, na Galiza, não. Para um galego, tal como para um minhoto ou para um tripeiro, os caracóis, na mesa, equivalem, mais ou menos, a uma mosca na sopa (ou no caldo galego)!
Este pormenor gastronómico é um dos muitos exemplos ilustrativos das diferenças culturais existentes entre o norte/noroeste peninsular e o resto da Ibéria. Os caracóis, ou a falta deles, nas mesas das esplanadas, aproximam aquilo que só por vicissitudes histórico-políticas foi separado: o Norte de Portugal e a Galiza. Sociologicamente, os galegos revêm-se e (como que) autoidentificam-se nos minhotos, nos transmontanos e nos tripeiros. Por isso, muitos consideram o Porto, também e quase que naturalmente, o seu centro, a sua capitalidade (em termos culturais e de lazer). A “movida” portuense (cujo epicentro, agora, é na Baixa) – hoje em dia, muito viva e quente, contrastando com a arquitetura granítica e austera que lhe serve de cenário - atrai cada vez mais galegos. Tal como o “bairro das artes”. O aeroporto Sá Carneiro é a principal porta de entrada, para quem vem da América do Sul, não só do Norte de Portugal, como da Galiza. E, na realidade, o emergente cosmopolitismo tripeiro tem, sobretudo, traços galegos (apesar de o Porto, nos últimos anos, ser rota turística cada vez mais apreciada na Europa do norte e nos Estados-Unidos). Muito à custa de certos ícones de mercados culturais específicos, como, por exemplo, a Casa da Música, o vinho do porto e a região do Douro, Serralves e a “escola de arquitectura do Porto”, a “Ribeira – património da Humanidade”. 
Ora, só temos a ganhar com uma aproximação sólida, também político-institucional, à Galiza. Tal como os galegos se acham sempre, um pouco, portugueses (do Norte), o Porto e o Norte de Portugal também são eminentemente galegos. Estrategicamente, as agruras do centralismo que nos corrói enquanto Estado, poderão ser, a Norte, atenuadas, se nos empenharmos na institucionalização viva da “Euroregião” do Noroeste Peninsular. A regionalização (momentaneamente perdida, também e em grande medida, por culpa nossa, do imobilismo das gentes e das supostas elites de poder – que não existem! – do Porto), só poderá, particularmente agora e em tempo de crise, concretizar-se por atalhos. Ou seja, criando-se regionalmente “massa crítica”, económica, cultural e política, incontornável para o centralismo político nacional dominante. E o Porto deve empenhar-se nisso mesmo, procurando, cada vez mais, o seu Norte onde também não se comem caracóis!

*Cumprimento singelo a José António GÓMEZ SEGADE, galego, um jurista internacional de referência e um verdadeiro Professor que, em Portugal, “não é estrangeiro”.

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