Quem lê os meus posts sabe que sou muito crítico do desempenho da direção, em especial pela carreira desportiva da equipa principal, mas também de praticamente todas as outras equipas (basquetebol é a exceção, ainda assim parte para os playoffs do título com o benfica a ser o favorito, fruto do fator casa conseguido na fase regular). Desta vez, no entanto, a minha análise não vai ser sobre o plano desportivo, em que presidente e direção têm uma nota a roçar o zero, mas sim sobre o “milagre” financeiro, que transformou um clube à beira da falência num clube sólido e pronto para o que aí vem...
Balelas. O “milagre” financeiro simplesmente não existe e a situação do FC Porto é basicamente a mesma que era há um ano, há dois, há cinco, há 20, há 40 anos. E qual é essa situação? Simples, as receitas não cobrem as despesas e isso era assim no tempo de Pinto da Costa, é assim no tempo de André Villas-Boas, e será assim com quem vier depois. O FC Porto não está e nunca esteve em risco de fechar, de falir, etc, etc. bastava, como bastou, transferir alguns jogadores para alterar o panorama, o problema é o preço que se paga por isso e se baixar abruptamente o nível da equipa soluciona alguma coisa.
A direção com um doentio desrespeito pelos sócios vai passando à comunicação social números fantasiosos e que não têm qualquer adesão com a realidade, como a que abateram 179 milhões de euros de passivo. Claro que quando dizem isso estão a mentir com todos os dentes, porque o passivo a 30 de junho (vamos considerar este o passivo herdado de Pinto da Costa) era de 520,875 milhões de euros e a 31 de dezembro de 2024 tinha subido para 547,942 milhões de euros. A verdade é simples, no primeiro semestre da presidência de AVB o passivo cresceu 27 milhões de euros. Se fosse verdade que tinham abatido 179 milhões de euros, o passivo teria reduzido para 341 milhões e isso sim, seria uma façanha incrível.
Vamos agora analisar o que fez a actual administração: basicamente, substituiu dívida por nova dívida, sendo que até a fez aumentar 27 milhões, como vimos acima. É verdade que substituiu por juros mais baixos, o que evidentemente é positivo e deve ser elogiado. Mas também deve ser dita a verdade toda e a verdade toda é que o impacto disso na vida do clube é pequeno e não soluciona nada (muitas coisas pequenas é que começam a ter impacto). Parte desta substituição de dívida tem a ver com o empréstimo dos 115 milhões de euros, a 25 anos. E o problema está aqui, no prazo de vencimento do empréstimo, sendo que só começa a ser pago em 2028. Ou seja, a direção que tão crítica foi na campanha eleitoral por causa do então presidente anunciar a Academia, porque era uma obra que ultrapassava o mandato, menos de seis meses depois contrai um empréstimo a pagar em mais de seis mandatos (nem sequer começa a ser amortizado no mandato da atual direção), comprometendo desta forma as receitas comerciais por uma geração.
Durante a campanha, André Villas-Boas disse que estava a negociar com JPMorgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs, os três maiores bancos de investimento norte-americanos, mas depois fez o negócio com a Key Capital, que são as pessoas que chegaram ao FC Porto por causa do negócio de JNPC com a Ithaka, o tal que era mau antes das eleições e agora é bom. A verdade é que até agora a nova direção não trouxe novos investidores para o FC Porto, fez apenas negócios com os ativos deixados por JNPC. E pela primeira vez houve uma SAD no futebol português que não conseguiu colocar a totalidade de um empréstimo obrigacionista.
Com uma necessidade de angariar receitas que equilibrem os exercícios, o modelo de JNPC privilegiou sempre a vertente desportiva, como deve ser na minha modesta opinião, com um sucesso incomparável (veja-se um dos meus mais recentes tweets sobre as equipas mais bem-sucedidas nas competições europeias este século, em que o FC Porto faz parte do reduzido grupo de sete equipas com três ou mais taças europeias no sec. XXI). Às vezes corria bem, outras corria mal, de vez em quando corria muito, muito bem e acabava com a cidade em festa e os portistas inchados de orgulho. Este modelo é, de resto, o que os grandes clubes seguem, veja-se, por exemplo, o Barcelona, o clube europeu talvez com a maior crise económica, que a está a tentar resolvê-la através do incremento de receitas vindas do bom desempenho desportivo.
Existe hoje entre os sócios e adeptos que o FC Porto tem um plantel muito fraco, porque os comentadores o dizem, porque os defensores da direção o gritam diariamente, mas AVB anunciou a obrigação de ganhar o campeonato no seu primeiro ano de presidente e até estendeu essa promessa a uma vitória na Liga Europa, o que mostrava uma grande confiança no plantel, o que não teria se fosse fraco. E a verdade é que o plantel do FC Porto era suficientemente poderoso para em janeiro entrar para o jogo em atraso com o Nacional da Madeira em condições de chegar ao primeiro lugar. Se hoje esse plantel parece não ter “força” para ombrear com os rivais de Lisboa deve-se unicamente à direção de AVB, que transferiu Galeno e Nico sem acautelar a sua substituição por jogadores de qualidade imediata – nessa altura o FC Porto tinha os mesmos 41 pontos do benfica, ambos a seis do então líder isolado sporting.
A direção de AVB já investiu mais de 50 milhões em jogadores e a verdade verdadinha é que não se vê entre esses jogadores alguém capaz de gerar grandes mais-valias. Ao contrário, entre os jogadores que herdaram havia e há grandes negócios, atletas que tiveram rendimento desportivo e que geraram rendimento na posterior transferência.
Chegamos aqui e a verdade é que as coisas positivas vêm do passado, sejam as vendas por muitos milhões de jogadores contratados por JNPC, seja o negócio da Ithaka, seja a próxima participação no Mundial de Clubes, consequência do desempenho anterior.
Não sabemos o que nos reserva o futuro, mas é importante ter a noção que a propaganda não acrescenta troféus ao palmarés do FC Porto e parece-me óbvio que estamos a entrar numa situação em que a falta de conquistas desportivas nos afasta das competições que dão dinheiro e promovem jogadores, criando-se um círculo vicioso de que é muito difícil sair.
E aqui a questão é muito simples, depois do primeiro ano trágico o FC Porto só poderá ambicionar regressar aos títulos se investir fortemente e isso necessariamente significará prejuízo. Viver nesse débil equilíbrio entre os prejuízos e os limites do fairplay é o segredo, vamos ver se AVB tem unhas, para já está a ter um péssimo desempenho. Infelizmente, não foi dado um passo atrás para depois dar dois em frente e o futuro infelizmente não me vai desmentir. Se as coisas funcionassem assim era tão fácil ser campeão de vez em quando.
Finalmente, hoje sabe-se que Pinto da Costa, Fernando Gomes e Adelino Caldeira deram como garantia de empréstimos as suas próprias casas, num valor muito superior ao meio milhão de euros que AVB emprestou ao clube e que fez questão de publicitar. Uma coisa era governar para ganhar troféus, outra coisa é governar para ganhar popularidade. Quem fica a perder é o museu, mas a falta de vergonha é tanta que em vez de taças põem-se lá umas sacas da campanha...








0 comentários:
Enviar um comentário