Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Crime contra o Porto


O hospital de crianças Maria Pia foi fundado em 1882. Claro que evoluiu muito mas não tanto como a Saúde no resto do país. As remodelações nunca foram satisfatórias - apenas o suficiente para ir funcionando.

Após muitas décadas de reformas incompletas, hoje, o Maria Pia mal se consegue amoldar ao espaço que os seus 128 anos tornaram acanhado e disfuncional.

Por sua vez, a Maternidade Júlio Dinis foi inaugurada em 1939. Muitos peritos dizem que já não cumpre os actuais critérios de excelência.

Há mais de trinta anos que se fala, insistentemente, num novo hospital de crianças que sirva o Porto. Escutei governos de todas as cores políticas a repisarem promessas de projectos iminentes e eminentes e vi os dedos em riste dos líderes locais a jurarem que "desta vez é que é". Mas nunca o foi.

A responsabilidade não cabe ao centralismo - na verdade, a culpa é do Porto, da sua massa crítica que se esvai mais rapidamente do que a população jovem foge da cidade, das suas pretensas elites que, afinal, não passam de uma miragem quixotesca, de uma burguesia instalada e avelhentada que parece incapaz de perceber as indigências que não lhes batem à porta.

Depois, existem as costumeiras lutas de interesses. Esta novela foi preenchida por rumorejos acerca das disputas de bastidores entre um grupo de médicos do Hospital S. João e outro ligado ao Santo António. Segundo a tese que há muito corre na cidade, ambos se oporiam ao novo hospital se este ficasse na órbita dos rivais. Assim, ter-se-á travado uma feroz luta de influências, com repercussões políticas, em que o Porto era um mero figurante inconsequente.

Nos últimos anos correu uma aragem aparentemente mais lúcida. O Hospital São João foi capaz de instituir uma ala pediátrica, o Joãozinho, e prefigurava-se que as cansativas questiúnculas de alecrim e manjerona poderiam amainar. Por fim, contrariando a tradição quase infrangível, um político do Porto, Manuel Pizarro, chegou a governante e não se esqueceu de onde era natural. O projecto do novo hospital, agora conhecido por CMIN (Centro Materno-Infantil do Norte), ganhou um alento inesperado, as verbas foram desbloqueadas, os contratos aprazados, e, finalmente, tudo indicava que estavam presentes as condições para se realizar a obra.

Foi então que a Câmara do Porto surgiu em cena. Ainda não percebi muito bem porquê - não existe necessidade de licença camarária nem sei de qualquer outra estrutura afim que a tenha solicitado. De repente, tudo se embrulhou: eram alguns metros de distância em relação ao Bairro de Parceria e Antunes, depois o fluxo de trânsito, até desentranharam a falta de dezoito lugares de estacionamento num total de mais de trezentos, mais a questão da envolvência, ainda a altura e por aí adiante…

Para alguém habituado a lidar com matérias urbanísticas, esta atitude traduz-se num desmedido zelo burocrata em descobrir esteios para tentar fundamentar uma recusa do projecto a todo o custo. Claro que o CMIN tem de cumprir o PDM mas, convenhamos, as sucessivas alegações camarárias fizeram com que a questão deixasse de ser jurídica para se converter num caso político.

Rui Rio tornou-se o principal obstáculo ao CMIN. Por que razão? A localização fica perto da Baixa que tanto prometeu reabilitar. O projecto é necessário - Maia e Gaia pediram-no para si, claro, mal ouviram falar no insano veto do Porto. E não posso sequer admitir que Rio se tenha enredado nas perrices de alguma classe médica da cidade.

Só resta a clássica explicação politiqueira: o CMIN não pode avançar porque o seu principal impulsionador é Manuel Pizarro. Rui Rio não quer permitir um trunfo destes a um dirigente político adversário. Prefere que se extraviem as verbas comunitárias (o prazo expira a 30 de Agosto) ou que o CMIN vá para outro lado.

Este caso converteu-se num exemplo paradigmático em que o Porto constata que quem tem o dever de o defender, ao contrário, parece apostado em o afundar numa já quase irreparável menoridade e irrelevância.

Não quero saber se o novo hospital de crianças é aviado por socialistas, laranjas ou azulados, santo antonistas ou são joanistas! Só desejo é que a coisa se faça.

0 comentários: