Enquanto a humanidade se continua a desdobrar em homenagens a Nelson Mandela, homenagens essas que já nos proporcionaram alguns momentos verdadeiramente épicos como o beijo de Graça Machel e Winnie Mandela ou o histórico aperto de mão entre os actuais líderes cubano e norte-americano, foi hoje homenageado, na Assembleia da República, um outro grande homem com uma vida dedicada a ajudar os outros.
José António Pinto (JAP) é um assistente social da envelhecida freguesia de Campanhã, onde tem desenvolvido um trabalho de proximidade e apoio às populações aparentemente sem precedentes. Digo aparentemente porque até agora ainda não consegui encontrar informação sobre o seu trabalho que vá noutro sentido mas estou certo que não terá sido por alinhamento político que a AR o distinguiu. Pelo que pude perceber pela reportagem da RTP no telejornal das 13h, JAP tem sido um exemplo de dedicação junto dos mais desfavorecidos, encontrando soluções onde só existem problemas, algo que e facilmente perceptível pelos testemunhos emocionados daqueles para quem o seu trabalho tem sido um benção, recolhidos pela RTP em zonas mais “deprimidas” desta freguesia do Porto.
Perante a honra de ser laureado com a medalha de ouro comemorativa do 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, JAP aproveitou o seu discurso de agradecimento para afirmar:
“Eu troco esta medalha por outro modelo de desenvolvimento económico. Deixo ficar esta medalha no Parlamento se os senhores deputados me prometerem que, futuramente, as leis aprovadas nesta casa não vão causar mais estrago na vida daqueles que por terem deixado de dar lucro, são hoje considerados descartáveis.
O auditório aplaudiu JAP em apoteose. O assistente social continuou:
“Quero que os cidadãos do meu país hipotecado realizem os seus sonhos. Quero que estes governantes estanquem imediatamente este processo de retrocesso civilizacional que ilumina palácios mas que ao mesmo tempo enche a cidade de pessoas a dormir na rua. Não quero medalhas senhora Presidente. Quero que os cidadãos deste país protestem livremente e de forma digna dentro desta casa, e quando reivindicam os seus direitos por uma vida melhor, não sejam expulsos pela polícia destas galerias.“
Consigo imaginar o mau estar naquela sala. Assunção Esteves, em especial, deve ter adorado esta última deixa. Nem quando o tema são os Direitos Humanos esta jovem reformada consegue estar descansada. Já não chegava ter que presidir à cerimónia de entrega do galardão a umcomunista, e ainda teve que ser “atacada” do discurso de agradecimento do homenageado.
Contudo, é importante reflectir sobre estas palavras num momento em que o legado de Nelson Mandela está no centro do debate público. De entre as inúmeras e maravilhosas frases que nos deixou, Mandela um dia escreveu:
“I have never cared very much for personal prizes. A person does not become a freedom fighter in the hope of winning awards.”
Parece ser o caso deste grande homem. Não digo que não sinta o orgulho de ver o seu trabalho reconhecido mas estou certo que tal não irá mudar em nada a verticalidade e enorme sentido de cidadania que tem caracterizado o trabalho de José António Pinto. Acredito na dedicação altruísta que vem demonstrando ao longo dos muitos anos que leva na função e estou certo de que precisamos de mais homens e mulheres como ele. Estou certo que ele é um “guerreiro da liberdade” cujo altruísmo a todos nos deve orgulhar.
Obrigado José! Pelo exemplo, pela verdadeira dedicação à causa pública e por teres aproveitado os holofotes para apontares o dedo aos responsáveis pelo aprofundar da degradação da sociedade portuguesa. Madiba estaria, com toda a certeza, orgulhoso de ti!
via AVENTAR
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