Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Lembrar uma Lenda



Aconteceu...

Tudo aconteceu em Dezembro. Num domingo de futebol, com milhares de ouvidos colados à telefonia, a tentar imaginar, no atropelo das palavras, as deambulações da bola, das pernas, dos corpos. Naquele momento, as descrições eram outras. Talvez sem sentido. Inexplicáveis, pelo menos.
Naquele domingo de Dezembro, Pavão conquista a bola a meio campo. Espera um pouco, para que Oliveira se desmarque. A seguir sai o passe perfeito, rasteiro, com uma precisão milimétrica. Um passo adiante, Pavão, sem nenhum adversário próximo, cai e não se mexe. Um dos primeiros contactos é estabelecido pelo médico do clube, José Santana. Encontra o jogador já em estado de coma. O jogo continua. Vieira Nunes entra para substituir Pavão, de imediato conduzido ao Hospital de S.João. No ar ficaram dúvidas interrogações acerca do estado do jogador, mas a partida continuou. Ao intervalo o 0-0 e através da instalação sonora, talvez para acalmar um ambiente que se percebia cada vez mais tenso, é assegurado que Pavão está bem.

Não estava. Naquele momento já Pavão estava muito para lá da vida e isso percebeu-se no estádio. Os jogadores estavam perturbados. Os adeptos viviam aqueles momentos debaixo de uma tremenda tensão, até pelas incidências da partida. Os maqueiros da Cruz Vermelha tiveram ali um dos dias mais trabalhosos de sempre. A cada instante havia um novo espectador com necessidade de ser transportado para os hospitais. No final foram contabilizados quase três dezenas.

O jogo já não foi mais o mesmo. O F.C.Porto estava a cinco pontos do primeiro classificado e precisava de vencer. Bela Gutmann incentivava os seus atletas. Do outro lado, a comandar o Setúbal, estava José Maria Pedroto. A equipa vivia um dos seus grandes momentos. Ocupava o primeiro lugar e acabara de eliminar o Leeds United para a Taça UEFA.

O F.C.Porto não desarmava e arranca uma segunda parte fabulosa, com dois golos da responsabilidade de Abel e Marco Aurélio. Já nada disso importava. De repente, um sussurro esmagador começa a percorrer o estádio. As más notícias correm depressa. Pavão morreu. Ninguém queria acreditar. Mas o grito impunha-se, demolidor. Pavão morreu.

A notícia definitiva e incontornável, surge na "Tarde Desportiva" da então Emissora Nacional. A voz do comentador de serviço confirma o rumor. São momentos difíceis para os quais não há tom de voz adequado. A notícia sai e é sentida como se fora um terramoto. A confirmação chega quando ainda jogadores e público estão no estádio. Das emoções sentidas por todos, colegas de equipa, árbitro, e adversários, há registo de desesperos, indisposições, choros convulsivos.

Pavão morreu aos 26 anos. Teve uma carreira curta, mas foi um dos grandes praticantes de futebol que já pisaram os relvados portugueses. Lançado por Flávio Costa na equipa principal do F.C.Porto aos 18 anos, num jogo contra o Benfica, nas Antas, Pavão representou por 12 vezes a Selecção Nacional.

Foi num domingo de Dezembro. Quando ainda tudo havia a esperar do homem e do jogador, Pavão morreu. Chamava-se Fernando Pascoal Neves. Pavão, porque a correr abria muito os braços. Parecia fazê-los esvoaçar. Parecia um pavão, terá alguém dito. Parecia predestinado a uma longa carreira. Desapareceu em Dezembro, num domingo de 1973...

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