Como cidadã não há nada mais revoltante do que ver um país tecnicamente falido e que caminha a passos largos para mais uma grave crise financeira em propaganda por mais um aeroporto. Sim, mais um. Ou estão esquecidos que em 2011 inauguramos um, novinho em folha, por 33 milhões de euros, a 147 km do Algarve e com capacidade para receber os A380, o maior avião do mundo da Airbus e que está literalmente ao abandono?
Não existe qualquer respeito pelo contribuinte que já suporta a maior carga fiscal de que há memória. Como se pode falar em mais gastos megalómanos desta forma tão brejeira? Eu sei. Interesses. Só, só interesses. E muitos. Imobiliários e financeiros e… “comissões”.
Há anos que andam a dizer que o aeroporto de Lisboa “esgotou” as suas capacidades. Mas foi com Sócrates que essa lenga-lenga mais se fez ouvir. Lembram-se do aeroporto da OTA que era preciso fazer urgentemente bla, bla, bla? Pois é. Era tão, mas tão, mas tão urgente, que construíram primeiro o de Beja. Não acha isso no mínimo estranho? Então com um aeroporto já em “perigo de rebentar pelas costuras” dá-se prioridade a outro fora de Lisboa? E em… Beja!!!!
Bom, vamos a factos: a única entidade internacional que efectuou estudos de capacidade na Portela foi a Aeroports de Paris, parte interessada na eventual futura construção de um novo aeroporto; foram solicitados estudos preliminares aos Aeroportos de Manchester e de Gatwick mas os resultados NUNCA foram divulgados (obviamente porque o resultado não interessou ao “establisment”); o Aeroporto de Gatwick, em Londres, apenas com uma pista tal como o de Lisboa, movimentou em 2016, 43.136.795 passageiros enquanto Lisboa, no mesmo ano, 22.462.599 passageiros; em 2005 altura em que o governo decidiu pela Ota o total de passageiros anual era de apenas 11.236.476. Onde estava a saturação?
Mas há mais: em 2000 já se sabia que Portela tinha capacidade para suportar 35 milhões de passageiros como afirmava – o insuspeito socialista – João Soares ao Expresso: «todos os dados novos que apareceram, os tais relatórios que estavam na gaveta, vieram dar-me razão: a Portela tem todas as condições para chegar aos 30 ou 35 milhões de passageiros». Nesse mesmo ano, Jorge Coelho dizia no Porto que o aeroporto da Portela ficaria saturado mais cedo do que o previsto e que em 2006, só com transportes rodoviários alternativos se evitaria engarrafamentos na área do aeroporto (fonte TSF). Ora, em 2000, o total de passageiros era de 9.394.532 e 2006 acabou com um total de 12.314.917. Mais ainda: em 2010 o Jornal Nacional da TVI denunciava a falsa saturação do Portela onde claramente os slots, isto é, a disponibilidade para aterrar e descolar das aeronaves, demonstravam que não havia saturação nenhuma.
Esta ideia megalómana de construir de raiz um aeroporto internacional totalmente novo em Lisboa surgiu com o ex-ministro socialista (tinha de ser) das Obras Públicas, Jorge Coelho, que a juntar a isto queria ainda, em simultâneo, o comboio de alta velocidade e uma terceira ponte sobre o Tejo. Acontece que Portela já provou ser um dos aeroportos mais fiáveis e mais seguros do mundo e que a pista 17/35 é o ex-libris deste aeroporto por causa da frequência dos ventos cruzados atlânticos. Exemplo disso, em 2013, dos 182 aviões que deveriam ter aterrado, em dia de forte temporal, a 19 Janeiro, apenas 13 foram forçados a seguir para outro aeroporto. A sua eficiência, a sua excelente localização e a qualidade do projecto original fazem dele um dos melhores entre os melhores.
Obviamente que o aeroporto de Lisboa, hoje, mais do que nunca, precisa de uma remodelação de beneficiação como se verificou com o aeroporto Francisco Sá Carneiro no Porto para aumentar sua eficiência e qualidade. E uma vez que já temos um excelente aeroporto em Beja, inaugurado em 2011, que apenas precisa de melhores acessibilidades, manda as boas regras de gestão, rentabilizar esse investimento que, por falta de VONTADE política, está “morto”.
(foto Dinheiro Vivo/ Lusa)
“Nem mais um cêntimo para lobbistas” deveria ser o slogan actual contra este (des)governo recalcado do socratismo e não qualquer outro. As pessoas estão primeiro. E as pessoas não podem ser as eternas cobaias dos políticos irresponsáveis.
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