Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

O incomparável José Sócrates

Durante muitos anos, eu fiz parte do grupo dos “obcecados”. De cada vez que falava em José Sócrates num texto – e falei muitas vezes –, as pessoas suspiravam, os leitores criticavam, os amigos gozavam, os colegas bocejavam.

Diziam: lá vem ele outra vez, mas porquê esta obsessão? Sócrates já nem sequer está no governo, este tipo nunca lhe perdoou tê-lo processado, a fulanização em política é uma forma de populismo. E, durante muitos anos, eu tentei explicar pacientemente, persistentemente, teimosamente, que José Sócrates era diferente, que era único, que não se podia comparar a ninguém, que ele era a pior coisa que nos tinha acontecido desde o PREC. (...)

Nem agora, após José Sócrates ter sido detido para interrogatório, essa sede de generalização parece saciada. Ele é preso e avançam de imediato as profecias apocalípticas: é o fim do regime que se aproxima; é a política, como um todo, que é atingida. Não, senhores, não. O regime tem imensas falhas e a política infindáveis problemas, mas Passos Coelho tem toda a razão quando afirma que nem toda a gente é igual. E .José Sócrates, graças a Deus, não é igual a ninguém. Ele é o special one da indistinção entre verdade e mentira, pela simples razão de que nunca viu diferença entre uma e outra. A sua detenção não é o fim do regime. Pelo contrário: foi durante o seu consulado que o regime esteve quase morto. O que está agora a acontecer é o oposto disso: é o regime a funcionar outra vez.

E a funcionar, apesar de todas aqueles que, confundindo mais uma vez as prioridades, estão muito preocupados com a detenção de Sócrates ao sair de um avião ou por a SIC ter filmado um carro a ir-se embora do aeroporto. Ai, meu Deus, que os jornalistas foram informados! Eu, de facto, preferia que os jornalistas não tivessem sido informados. Mas preferia muito mais que José Sócrates não tivesse sido – e a verdade é que ele foi escandalosamente informado e protegido pela Justiça durante anos a fio. Num país onde quase não há busca sensível que seja feita sem que os visados estejam prevenidos, eu diria que há fugas de informação bem mais perniciosas do que aquelas que beneficiam a comunicação social. Andaram dez anos a fazer-nos passar por parvos. Se calhar já chega.  [ JOÃO MIGUEL TAVARES ]


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