- Um Governo globalmente pior do que o anterior, a que faltam figuras de peso respeitadas;
- Um Governo pouco jovem, contrariando a ideia de que a esquerda é jovem e dinâmica e a direita velha e retrógrada. Enquanto a idade média do XIX Governo era de 48 anos, a deste é de 54. E cinco ministros têm mais de 60 anos;
- Um Governo que em várias pastas remete para um regresso ao passado, com figuras ligadas a Sócrates, o que em termos de imagem é péssimo;
- Um Governo que parece apostado para desfazer muito do que foi feito nos últimos quatro anos, o que é pouco inteligente;
- Um Governo que promete ao povo o fim da austeridade, o que é imprudente e arriscadíssimo;
- Um Governo onde se vê muita gente talhada para gastar dinheiro mas não se vê ninguém com espírito de poupança (nem o ministro das Finanças!).
Numa altura em que os objectivos deveriam continuar a ser ‘produzir e poupar’, o Governo aponta o caminho oposto: ‘consumir e gastar’.
Mesmo as pessoas que vão ser beneficiadas neste novo ciclo estarão hoje de pé atrás.
Quando a esmola é grande, o pobre desconfia…
Se esta política tiver sucesso, Portugal será um case study na Europa e Mário Centeno surgirá como um sério candidato ao Nobel da Economia.
Este Governo, para já, quebrou um tabu. Antes não podia falar-se em «negro», nem em «cigano», nem em «cego», como se isso fosse uma vergonha. Agora, essas palavras são usadas até como motivo de orgulho. «Pela primeira vez Portugal tem um ministro negro» - dizia um jornal. «Ex-autarca cigano e mulher cega são secretários de Estado», titulava outro.
Outra curiosidade é o facto de dois ministros (um ministro e uma ministra) serem casados e de haver no Governo várias outras relações familiares.
Finalmente, António Costa já começou a resolver o problema do desemprego, constituindo um dos maiores governos de sempre: 59 membros. E isto tem um efeito multiplicador, se pensarmos nos gabinetes dos governantes, com os seus chefes de gabinete, assessores, secretárias, etc.
Mas comparemos este Governo com o anterior, ministro a ministro.
Primeiro- Ministro
António Costa substitui Passos Coelho, e chega ao poder com um currículo bastante superior: enquanto Passos nem sequer fora ministro, Costa já deteve várias pastas e foi presidente da Câmara de Lisboa. Mas na campanha eleitoral Passos foi mais forte que Costa e ganhou as eleições. Espera-se que Costa se afirme como primeiro-ministro, tal como Passos se afirmou. E que não repita o exemplo de Santana Lopes - que também trocou a CML pela chefia do Governo e não foi feliz.
Negócios Estrangeiros
Augusto Santos Silva substitui Rui Machete. Trata-se de dois pesos pesados da política, embora separados por uma geração. Machete tinha mais experiência na área, até pela longa presença à frente da Fundação Luso-Americana, Santos Silva é razoavelmente mais enérgico e tem mais capacidade de intervenção política. Mas carrega um handicap: foi um dos rostos mais visíveis do socratismo e serviu de advogado a Sócrates durante anos no seu programa na TVI.
Presidência
Maria Manuel Leitão Marques substitui Marques Guedes, um homem correto, educado, que dava da política uma imagem civilizada. Maria Manuel também parece uma pessoa correta. Mas acumula a Presidência com a modernização administrativa, que é uma tarefa ciclópica.
Finanças
Mário Centeno substitui Maria Luís Albuquerque. Num país como Portugal, com graves problemas financeiros, o ministro das Finanças tem de saber dizer ‘não’. Maria Luís era uma pessoa assertiva, directa, determinada, que rapidamente se fez respeitar nos conselhos de ministros e em Bruxelas. Centeno tem fama de ser competente, tem ar de ser boa pessoa, mas parece mole. Não projecta uma imagem de firmeza. E o facto de ser o n.º 4 do Governo retira-lhe autoridade. O seu discurso é mais de ministro da Economia do que de ministro das Finanças: acredita que uma chuva de euros animará a economia e equilibrará as contas. Depressa se desiludirá. Não prevejo que consiga aguentar muito tempo no cargo.
Defesa
Azeredo Lopes substitui Aguiar-Branco. Curiosamente, trata-se de dois homens do Porto. É óbvio que Aguiar-Branco tinha um peso político e um traquejo muitíssimo superiores aos de Azeredo. Que ainda por cima, enquanto presidente da ERC, foi um para-choques de Sócrates nos conflitos deste com a comunicação social. Um mau cartão-de-visita.
Administração Interna
Constança Urbano de Sousa substitui Anabela Rodrigues. Há uma troca de mulheres à frente das Polícias. A experiência anterior não foi boa: Anabela revelou-se um completo erro de casting. Era uma especialista no tema, mas verificou-se que a experiência universitária não é transponível para a política. Constança também é apontada como perita na matéria. Esperemos que o erro de casting não se repita.
Justiça
Francisca Van Dunem substitui Paula Teixeira da Cruz. Também aqui há a troca de uma mulher por outra. Paula era advogada experiente e tinha algum traquejo político, Francisca é magistrada e não tem qualquer experiência política. Mas a sua afirmação em Portugal, sendo nascida em Angola, já é um sinal de qualidade e perseverança. Porém, o facto de vir do Ministério Público levanta o receio de poder ser capturada por interesses corporativos. E vai estar sob apertada observação, dado o escaldante processo de Sócrates entrar agora em fase decisiva.
Ministro-Adjunto
Eduardo Cabrita substitui Poiares Maduro. Aqui trata-se de duas personalidades completamente distintas. Maduro era outro erro de casting. Vindo do estrangeiro e da universidade, não tinha a menor noção do que era a política portuguesa. Sério, um pouco naïf, nunca acertou o passo com os colegas de Governo. Cabrita é o oposto disto. É batido na política, nos truques manhosos, nos argumentos de seriedade duvidosa. E também lutou por Sócrates, quando já era evidente o seu envolvimento em negócios suspeitos.
Cultura
João Soares substitui Barreto Xavier, mas com o estatuto de ministro. Tendo muito mais peso político e partidário do que Barreto, Soares vai exigir dinheiro para brilhar, querendo regar com dinheiro as associações culturais, os grupos de teatro, os realizadores de cinema, etc., como fez na Câmara de Lisboa e corresponde ao modo como muitos socialistas olham para a Cultura. Foi bem recebido no sector, mas é mais um perigo para o Orçamento...
Saúde
Adalberto Campos Fernandes substitui Paulo Macedo. Este era um peso pesado, com ótimo trabalho feito na máquina fiscal, homem das contas certas, que conseguiu o milagre de cortar muitas centenas de milhões na Saúde sem grande contestação. Adalberto também é um homem da gestão, mas vindo de dentro do sistema hospitalar poderá ser mais vulnerável a pressões corporativas e até políticas. E sendo a Saúde uma área chave do Orçamento, qualquer derrapagem financeira terá consequências terríveis.
Educação
Tiago Brandão Rodrigues substitui Nuno Crato. O novo ministro parece ter sido escolhido para baixar a idade média do Governo, tão insólita é a escolha de um jovem que se distinguiu na investigação do cancro para governar uma casa tão complexa. Além disso, Nuno Crato tinha iniciado no sector uma cultura de exigência - que parece ir dar lugar a uma cultura de facilidade, o que não é bom. Além disso, a Educação é outro dos ministérios com um enorme peso no Orçamento, pelo que é um risco ser administrado por uma pessoa pouco experiente. Não ficará muito tempo no lugar.
Segurança Social
Vieira da Silva substitui Pedro Mota Soares. Toda a gente elogia a competência técnica do novo ministro. O problema aqui é também a substituição de um ministro jovem por um ministro que trás de volta o passado. E, mais uma vez, o passado socrático.
Ciência
Manuel Heitor. Ex-secretário de Estado de Mariano Gago, uma figura muito respeitada na área, seguirá sem surpresas a mesma política.
Planeamento
Pedro Marques. Mais um rosto do socratismo, numa área-chave que gerirá os fundos de Bruxelas.
Economia
Manuel Caldeira Cabral substitui Pires de Lima. O novo ministro é um académico tímido, sem aparente vocação política, que fala a medo. Pires de Lima tinha à-vontade, experiência na iniciativa privada e peso político. Se considerarmos que o ministro da Economia é um ‘vendedor’ do país e um dinamizador das atividades económicas, Pires de Lima parecia bem mais talhado para o cargo do que Caldeira Cabral.
Ambiente
João Matos Fernandes substitui Jorge Moreira da Silva. Este tinha um peso no partido e um currículo público muito superiores ao do novo ministro, apesar de ser mais novo. Mas há que dar o benefício da dúvida.
Agricultura
Capoulas Santos substitui Assunção Cristas. Estamos perante um regresso ao passado. Cristas corporizava melhor os novos caminhos do sector: uma agricultura de pessoas jovens, interessadas em investir na terra, com uma nova mentalidade e novos métodos. Capoulas é do tempo de uma agricultura mais dependente dos subsídios e vivendo à sombra do Estado. E até no entusiasmo com que visitou Sócrates, em Évora, Capoulas remete para um passado de má memória.
Mar
Ana Paula Vitorino. Saúda-se a colocação do Mar no centro das atenções, sendo um dos principais ativos do país em áreas que vão do turismo à investigação, à economia e à defesa.
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