A TAP gere o Porto a pontapé e custa tempo e dinheiro em quantidades incalculáveis aos utentes, às empresas e ao país com a sua ineficiência endémica e, ainda por cima, com uma cara de pau nunca vista
Não, não vou falar das maratonas que atravessam a pé as pontes deste país.
Não, não vou falar das pessoas que por fé ou convicção fazem os caminhos de Santiago ou se deslocam a Fátima procurando pontes consigo próprias.
E não, não vou falar de futebol!
Vou falar dos milagres que a Transportadora Aérea Nacional, magnificamente gerida com a cabeça em Lisboa e o coração no Brasil, tem feito pelo Porto – basicamente, tratando-o a pontapé.
A nova TAP não gosta do Porto nem dos Portuenses. Não gosta e não esconde que não os quer servir. Os Portuenses parecem ser uma espécie de incómodo que os novos proprietários e gestores se viram obrigados a engolir no momento da aquisição. Queriam na altura chamar-lhe a TAL (Transportes Aéreos de Lisboa), mas o enquadramento político, sempre zeloso da correcção asséptica do discurso e protector do satus quo, não deixou.
Tenho tido muito tempo para reflectir sobre este assunto. Deixo o pensamento deambular por aí durante as longas horas em que tenho ficado refém no aeroporto de Lisboa, à espera de um avião que, desaparecido, atrasado, imobilizado ou misteriosamente ausente de qualquer informação, me leve para casa (azar – no Porto).
Os adiamentos, cancelamentos e atrasos pornográficos diários são, nos dias que correm, uma infeliz regra. Diria mesmo que se tornaram já parte da praxe da companhia e todos nós nos vamos já habituando a interiorizar esse factor nas nossas expectativas – nós somos efectivamente praxados, uma e outra e mais outra vez, de forma humilhante.
Continuo, no entanto, a manter intacta a minha capacidade de ser surpreendido quando um voo Lisboa-Porto é “cancelado por falta de tripulação” ou por “motivos técnicos” – e a TAP nada diz aos passageiros e nada esclarece durante o voo, limitando-se a distribuir as pessoas pelos voos seguintes, a contragosto e com má cara, proclamando, depois da aterragem 4 ou 5 horas após a hora prevista, que “a TAP espera que tenham tido um voo agradável”.
E também me surpreendo por ver em Nova Iorque a United Airlines anunciar voos diários para o Porto enquanto a TAP usa os táxis Nova-Iorquinos para orgulhosamente se auto-proclamar como a melhor ligação a… Madrid!
Está aqui bem marcada – para além do puro e simples desrespeito e desinteresse pelos clientes – a herança genética algo sarcástica das empresas que já foram monopolistas e que se habituaram a viver imersas numa cultura de sobranceria incumbente.
E é justamente por isso que não podemos ter ilusões – os pontapés vão ser cada vez mais e com mais força! Já estou a contar com uma avalanche crescente de cancelamentos de última hora (pontapés de penalty) e de “atrasos” para poupar aviões (pontapés de canto); com as faltas de tripulação seguríssimas (pontapés de baliza); com explicações raras e inusitadas (pontapés de bicicleta); com os habituais problemas técnicos (pontapés livres) e, de quando em vez, com umas palavrinhas simpáticas na televisão a propósito da excelência (pontapés na inteligência).
Dizendo-o frontalmente: a TAP/TAL gere o Porto a pontapé e custa tempo e dinheiro em quantidades incalculáveis aos utentes, às empresas e ao país, com a sua ineficiência endémica, com uma má vontade chocante e, ainda por cima, com uma cara de pau nunca vista.
E nós, passageiros contrariados, que temos mesmo que voar para o (e do) Porto várias vezes por semana, a quem foi prometida (e continua a ser apregoada aos sete ventos!) uma ponte aérea confiável, ágil, barata e pontual; nós, que nunca recebemos nenhuma dessas quatro características; nós, que vivemos numa cidade do Porto que merece da TAP/TAL um total desrespeito, só temos vontade de dar um pontapé nos… aviões da TAP/TAL.
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