No ruído de hoje, ouve-se o eco do passado?
Quando falamos de Jorge Nuno Pinto da Costa, o nosso instinto é ligar o seu nome à vitória, à glória, ao topo. Mas a verdade é que nem sempre foi assim. Entre 1982 e 1985, nos seus primeiros três anos como presidente, o FC Porto atravessou um mar de dificuldades, de erros e de críticas, que hoje muitos esquecem. Curiosamente, foi esse início duro que preparou o terreno para a dinastia mais vitoriosa da história do futebol português.
Em abril de 1982, Pinto da Costa assume a presidência do clube no meio de uma autêntica guerra civil interna. Entra com um discurso forte, de rutura com o passado, a denunciar o centralismo lisboeta e a prometer um FC Porto combativo. Mas rapidamente percebe que a tarefa é mais complexa do que parecia. O clube herdava dívidas, divisões internas e uma estrutura pouco profissionalizada. Os primeiros passos foram de modernização e contenção. Sanear financeiramente, adquirir tecnologia, disciplinar o balneário. Mas os resultados desportivos não acompanharam.
Na época 82/83, com o regresso de Pedroto, esperava-se um Porto dominador. Mas o campeonato escapa para o Benfica, e a final da Taça de Portugal, jogada nas Antas após uma polémica intensa sobre o local, termina com uma das noites mais humilhantes da história do clube. Derrota por 1-0 frente ao rival de sempre, com o Benfica a levantar a taça no coração do nosso estádio, perante os nossos. Uma ferida aberta que marcou uma geração. Um golpe no orgulho que, à data, pareceu imperdoável.
O ano seguinte traz ainda mais sobressaltos. Pedroto adoece gravemente e afasta-se. A equipa chega à sua primeira final europeia, mas perde com a Juventus numa noite em que tudo corre mal, dentro e fora de campo. Falta de preparação, erros de arbitragem, problemas de organização. Tudo contribuiu para a derrota. A imprensa acusa o FC Porto de ser ingênuo na Europa e até os adeptos mais fiéis questionam a capacidade de o clube dar o salto. Além disso, pequenos detalhes revelaram a inexperiência organizativa do FC Porto neste palco. Por exemplo, a equipa apresentou-se com um equipamento integral azul improvisado, em vez das tradicionais camisolas listadas, devido a uma imposição da UEFA em cima da hora, já que as cores originais chocavam com as da Juventus. Essa situação pouco habitual, um pormenor logístico, ilustrava como o clube ainda estava a aprender a lidar com finais europeias e protocolos internacionais. Também fora das quatro linhas houve apontamentos de desorganização na logística de viagem e de apoio aos adeptos. Relativamente poucos portistas conseguiram deslocar-se a Basileia, não havendo na altura uma estrutura montada para facilitar deslocações em massa de sócios, ao contrário do que os adversários mais habituados a finais faziam. Anos mais tarde, o próprio presidente Pinto da Costa reconheceria esses erros cometidos na primeira final europeia. Deu como exemplo jogadores como Fernando Gomes, que nos dias que antecederam o jogo estavam mais preocupados em negociar contratos com marcas desportivas do que concentrados na final. Esse tipo de distração, nas palavras do presidente, era sintomático da falta de experiência e da estrutura ainda por consolidar.
Mas o momento mais humilhante ainda estava para chegar. Em 1984, já com Artur Jorge ao leme, uma escolha arriscada e duramente criticada na altura, o FC Porto é eliminado pelo modesto Wrexham, da quarta divisão inglesa, na Taça das Taças. Uma queda estrondosa que gerou revolta nas Antas e escârnio fora delas.
Mesmo assim, Pinto da Costa resistiu. Aprendeu. Ajustou. Protegeu o treinador. Reformulou o plantel. E, em 1985, chegou finalmente o campeonato nacional. Não como uma vitória isolada, mas como o resultado de um caminho feito de pedras, críticas e superação…
0 comentários:
Enviar um comentário