Boa noite a todos.
Ontem no seu perfil de facebook, o Sr. Paulo Santos fez uma publicação muito interessante.
A foto que aqui coloco, é a foto que está na sua Publicação.
Encontra-se com a seguinte legenda,
“ 1930..
O presidênte da Cãmara Municipal de ARGANIL..na altura ligado a FOLQUES,mas fez na altura muita inovação pelo concelho desde os anos 20 aos 40 do século XX...
Foi o primeiro PRESIDÊNTE DE CÃMARA a visitar o PIÓDÃO,ainda por caminhos chamemos(cabreiros)..na altura foi um grande feito...esta foto era do espólio dele..Vai gente também da mitica serração Viuva Castanheira e outros amigos dele..ora esta A PRIMEIRA VEZ PARA O MUNDO....GRANDE CAPITÃO ANTÓNIO PEDRO FERNANDES.....PAULO SANTOS. “
Se assim for, esta será certamente a mais antiga foto com os habitantes do Piódão.
Uma autêntica relíquia para os amantes da História local.
Em 1930, a aldeia do Piódão recebeu pela primeira vez a visita do Presidente da Câmara de Arganil.
Nos seguintes artigos, pode-se constatar como a vida era difícil….
Jornal “A Comarca de Arganil”, Nº 1646, 23 de Maio de 1930
“ … E quanto mais nos aproximamos, mais o casario se avista.
A telha e a cal também ali se não vê nas construções, com muito poucas excepções. O caminho e fragoso. E o sr. administrador do concelho fala-nos da injustiça a que aquele povo tem sido votado por não possuir uma estrada carreteira.
Reconhece, com os seus próprios olhos, que o Piodam tem razão nas suas lamentações. E' uma terra mártir. Pois como podem os seus habitantes amanhar as suas terras se ali nem um carro de bois pode ir?! —Irei empregar os meus melhores esforços junto do governo no sentido de obter dotação para uma estrada para este povo, como muito carece — diz-nos o sr. capitão Fernandes.
E estou certo que os meus colegas na camara patrocinarão a proposta que farei para a concessão de uma verba para este fim, 0 que e da maior justiça.
…
Estralejam foguetes no ar.
Estamos já perto da povoação.
Veem ao nosso encontro as pessoas mais gradas da terra—o regedor, sr. Manuel Gomes; o presidente da junta de freguesia, sr. Manuel Nunes Pacheco; e o pároco, sr. padre Júlio de Azevedo Nogueira, já hoje pároco da freguesia de Aldeia da Dez.
Trocados cumprimentos, seguimos para o lugar.
O sol começava a desaparecer para 14 das montanhas que rodeiam o Piodam,—e por isso urgia fazer a nossa visita. Vamos encontrar a povoação muito atrasada; ali não chegou ainda o progresso.
As suas ruas são tristes, com casas escuras, cobertas de lousas para escaparem mais facilmente ao temporal. Não tem calçadas; e é preciso andar-se com as maiores cautelas para se não cair, pois o piso e muitíssimo irregular. De noite, não se pode transitar por aquelas ruas sem ser com uma lanterna na mão, e, mesmo assim, quando menos se espera, os estranhos & localidade arriscam-se a deixar ali algumas figueiras...
E para cúmulo de tudo isto, basta dizer-se, como já acentuamos, que se não pode descer nem a cavalo do alto da serra.
A visita do sr. presidente da camara e administrador do concelho, começou pelas fontes.
A primeira para que foi chamada a sua atenção, esta situada á entrada do lugar, sendo conhecida pela Fontinha. A sua água e absolutamente impropria para consumo, por não ser canalizada e passar por baixo de algumas casas.
Ao centro da povoação existe uma fonte de bica, onde no ano passado foi aplicado o produto do imposto do serviço braçal.
E' conhecida pela fonte do Regalgar, mas está também condenada pelo mesmo motivo. Disseram-nos que essa água, apenas chove, torna-se logo suja e repelente, o que não admira, por se infiltrarem nela todas as imundícies das casas que lhe ficam em piano superior.
Tem ainda o Piodam uma outra nascente, ao cimo do Chão, que no verão e aproveitada para regas e no inverno para consumo.
E' a única fonte cuja água e um pouco mais potável.
De tudo o que o sr. capitão Fernandes via, reconheceu que há ali abundância d'agua, mas o que está é mal aproveitada. E, assim, e sua opinião mandar ali um vedor escolher o local onde deve ser captada a água, para depois ser conduzida em manilhas e fazer-se um chafariz em condições, acabando com o existente que só prejudica a saúde dos habitantes da localidade, sendo ainda a causa de muitas epidemias que ali se teem desenvolvido, como por várias vezes o digníssimo facultativo municipal sr. dr. Alberto do Vale tem dito.
E prometeu logo ali dotar os trabalhos de exploração d'água, com a verba de 500$00, o que foi a seguir aprovado pela camara.
A' entrada da localidade é também preciso fazer-se um pontão sobre o ribeiro que ali passa; e o sr. capitão Fernandes, reconhecendo também a justiça dessa pretenção, declarou que seria concedida uma verba para esse fim.
E cumpriu essa sua promessa, pois esses trabalhos foram dotados com a verba de 200$00. … “
Jornal “A Comarca de Arganil”, Nº 1654, 20 de Junho de 1930
“… Ao terminar o sen discurso, foram levantados também vivas ao sr. Capitão Fernandes, A câmara, etc.
Usou a seguir da palavra o sr. Manuel Nunes Pacheco, que principiou por apresentar as suas saudações ao sr. capitão António Pedro Fernandes, dizendo que era a primeira vez que um presidente do município visitava aquela freguesia para reconhecer das suas necessidades.
…. Finalizando, refere-se ainda ás necessidades do povo das Chães d'Egua, que fica lá para os confins da freguesia, na serra do Gondufo, onde aquela gente vive também sem o menor conforto.
Levanta um viva ao sr. administrador do concelho e outro á A Comarca de Arganil, os quais foram entusiasticamente correspondidos. O povo dispersa a seguir e momentos depois o sr. Manuel Nunes Pacheco obsequiava-nos com uma suculenta ceia, em que não faltou o afamado lombo serrano, após o que recolhíamos ao vale de lençóis. “
Lamento imenso que as gerações filhos da terra, estejam aos poucos a desaparecer.
Mantendo a tradição da nossa sociedade, onde a maioria das coisas “velhas e antigas” acaba por desaparecer, esta foto certamente teria esse destino. (eventualmente iria parar ao lixo)
É assim a vida…
Agradeço ao Sr. Paulo Santos pela sua publicação.
Agradeço a todos que por estas plataformas digitais contribuem, para que a história destes locais não desapareça um dia, juntamente com os últimos habitantes.
Espero um dia encontrar este tipo de acontecimentos perpetuados no museu da aldeia.
Para memória futura, se alguém conseguir identificar alguma pessoa da foto, ou quiser acrescentar alguma informação, ficarei muito grato.
A continuação de um bom Domingo
João Lourenço








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