Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Crimes e mistérios no Porto

Partindo do pressuposto que uma cidade bela é forçosamente imperfeita, deambulamos por alguns crimes e mistérios ocorridos na cidade do Porto oitocentista, conhecendo os protagonistas de façanhas nada poéticas, os seus motivos e as implicações que estes casos tiveram nas suas vidas.

Vicente Urbino de Freitas
Um dos crimes mais marcantes ocorridos no Porto, que abalou a opinião pública de então, foi o caso do médico Vicente Urbino de Freitas. Este destacado lente de fisiologia na escola médico-cirúrgica magicou uma perfeita e ardilosa maneira de ser ver livre dos herdeiros à fortuna do sogro.
Começa por matar o cunhado José, e prossegue o plano, tentando envenenar os sobrinhos, que moravam com os avós na Rua das Flores.
Em plena Semana Santa, chega à casa da Rua das Flores, uma misteriosa encomenda dirigida à sobrinha Berta Fernanda, contendo amêndoas e três apetitosos bolos de coco e chocolate, em número igual ao número das crianças da casa. Apesar da relutância da avó, em deixar as crianças comer estes doces, pois a encomenda tinha vindo de remetente desconhecido, lá acaba por ceder, primeiro deixando os netos provar as amêndoas e como nada de mal acontece, no dia seguinte distribui pelas crianças os bolos. Estas ao comerem acham o sabor estranho, e todos se sentem mal! A avó chama o reputado familiar para acudir nesta aflição. Urbino receitou às crianças café e água morna e como as crianças pioram recomenda clisteres de cidreira, com a expressa recomendação que fizessem uma retenção tão longa quanto possível. As meninas, porém logo evacuaram. O Mário, mais crescido, quis seguir as orientações do tio, tanto quanto conseguisse, fazendo grande retenção. Daqui resultou uma morte dolorosa à semelhança do tio José. Começa por se atribuir a culpa a um tio de Berta e mais tarde a miss Lothe, isto antes do Comissário Geral da Polícia, saber da existência dos clisteres ministrados por indicação de Urbino de Freitas.
Com base nos factos, nas várias e rápidas diligencias policiais, e nas contradições encontradas no seu testemunho no dia 15 de abril, Vicente Urbino de Freitas é preso na cadeia da relação a 16 de abril de 1890.
Mas terá sido Urbino realmente um criminoso?
Segundo o escritor Gomes Monteiro, uma das principais razões da condenação do réu foi o interesse invulgar do Delegado do Ministério Público, Pestana da Silva.
Dizia-se que o senhor delegado havia sido rejeitado por Maria das Dores, que tinha escolhido para marido, Vicente Urbino de Freitas. Terá sido este detalhe, o fator decisivo para a condenação do ilustre médico? Ou uma estratégia para confundir a acusação e a opinião pública?
Henriqueta Emília da Conceição e Sousa
Protagonista de um crime invulgar. Nascida no Porto em 1840 foi uma mulher marcante no seu tempo.
Órfã, tem como destino imediato o Recolhimento das Raparigas Abandonadas, e aí permaneceu alguns anos.
Já crescidinha, uma tia vai buscá-la ao Recolhimento das Raparigas Abandonadas e sob a sua proteção ainda trabalhou numa fábrica de fósforos. Mas terá sido por pouco tempo, uma vez que o trabalho convencional, nunca terá sido a sua prioridade.
Henriqueta marcada por uma infância solitária e cruel, violada com apenas 7 anos de idade, dedica-se à prostituição. Dava nas vistas pela sua exuberância, convivendo naturalmente e com o mesmo há vontade com bandidos e aristocratas…
Favorecida por alguma inteligência, e muita esperteza, faz fortuna com as suas artimanhas. Aos 20 anos já esquecida da vida humilde que havia levado, vivia em aposentos de luxo.
Henriqueta Emilia da Conceição e Sousa manteve um relacionamento com Teresa Maria de Jesus, que faleceu em 1868.
Henriqueta perdeu então a alegria de viver, a saudade foi tanta que engendrou uma situação peculiar que lhe permitisse estar em contacto com esta.
Assim, em 21 de Outubro de 1868, comprou terrenos no Cemitério do Prado Repouso e aí manda construir um mausoléu enriquecido com uma belíssima imagem de S. Francisco, que manda propositadamente vir de Itália.
Continua então a fazer diligências para dar seguimento ao seu plano. Um passo importante nesta operação foi o requerimento apresentado ao Deão Capelão do Cemitério de Agramonte para a exumação do corpo de Teresa.
Em dezembro de 1868, efetiva-se a trasladação, e no momento em que na nova urna se encontra Tereza de Jesus, pede a todos os presentes para a deixarem a sós, para que esta pudesse sozinha despedir-se desta grande amiga, pela última vez.
Henriqueta degolou a cabeça da amiga, embrulhando-a numa toalha e guardando-a rapidamente numa bolsa. Depois e como se nada tivesse acontecido e já na presença dos funcionários do cemitério e amigos presentes, assiste à cerimónia fúnebre.
Mas esta mulher de espírito livre acha muito natural esta presença estranha, por isso não a esconde, dando lhe até lugar de destaque.
Recebendo visitas com regularidade, começa evidentemente a circular pela cidade, este caso tão bizarro. Assim, e por ordem do Administrador do Bairro oriental, no dia 8 de março de 1869, dois oficiais de diligências entraram em sua casa e apreenderam esta doentia relíquia.
Assumiu toda a verdade e pagou uma multa, saindo em liberdade. Mas o processo tinha de seguir os normais procedimentos.
Assim, o juiz do primeiro distrito criminal, foi ao Cemitério proceder às necessárias averiguações respeitantes à profanação do cadáver de Teresa Maria de Jesus.
No entanto, o Dr. Nogueira Soares foi eleito deputado partisse para Lisboa para ocupar o seu lugar no Parlamento. Esta substituição no 1º Distrito Criminal atrasou o processo, situação altamente vantajosa para Henriqueta Emília, que conseguiu ainda que com dificuldade esquivar-se à ação da justiça.
Ana Augusta Plácido e Camilo Castelo Branco
Também o amor de Camilo Castelo Branco e de Ana Augusta Plácido, foi evocado. Um amor que vem contrariar os bons costumes e a moralidade vigente na sociedade oitocentista.
Estes conhecem-se em 1850, num baile da Associação Portuense. Nesta altura, a jovem Ana Plácido, estava prometida a um comerciante abastado, o que à época se consideraria um “excelente partido”.
Camilo não conseguira esquecer Ana. Assim, por volta de 1858, este D. Juan, começa a cavalgar junto da casa onde vivia Ana Plácido com o marido, que insatisfeita com o seu casamento não se coibia de o vir cumprimentar.
Este ato de extrema imoralidade não caiu com bons olhos à sociedade portuense. Nenhuma mulher poderia ficar impune a estes amores extra conjugais, infringindo as regras estabelecidas.
Apesar de inúmeras vezes ter sido advertida para o grande perigo que corria, não contrariou este amor. Contra todos os argumentos, avançou para os braços de Camilo, abandonando o marido e foge com Camilo para Lisboa.
Conhecido o escândalo, a esposa adúltera é posta em reclusão no Convento da Conceição de Braga, mas ao fim de pouco mais de um mês foge, retomando a convivência com o seu grande amor.
A 26 de Março de 1860 Ana Plácido é pronunciada pelo Crime de Adultério e é presa na Cadeia da Relação do Porto e Camilo, depois de vaguear pelo Minho e Trás-os-Montes, aí se entrega a 1.10.1859, acusado por ter copulado com mulher casada.
Aguardaram presos, durante mais de um ano, o julgamento em que o júri não considerou provados os factos e, por isso, foi proferida sentença absolutória. O julgamento, aconteceu num clima de grande tensão, correspondente à grandiosidade do escândalo.

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