Benquerença malquerença
Como diria George Orwell, as dúvidas são todas iguais mas há algumas dúvidas mais iguais que as outras. Há dúvidas boas, daquelas que justificam o benefício da dúvida; e há dúvidas más, daquelas que normalmente resultam em terríveis erros judiciais e respectivas injustiças. Veja-se o caso de Olegário Benquerença. Na última temporada ajuizou um lance duvidoso. Petit chutou a bola de longe, Baía largou-a mas acabaria por desviá-la à segunda. Para Olegário, o guarda-redes do FC Porto conseguiu desviá-la antes de entrar na baliza; para os bilhões de benfiquistas espalhados um pouco por todo o universo conhecido, a bola estava toda lá dentro. O lance foi analisado ao microscópio, foi recriado digitalmente por supercomputadores, foi investigado por reputados físicos e químicos e a dúvida persistiu. Apesar disso, Olegário não beneficiou da dúvida, foi prejudicado por ela, cruxificado e mandado para o degredo dos jogos anónimos.
Passaram-se uns meses e Olegário foi nomeado - até parece coisa de sorteio - para apitar a Supertaça. Logo apareceram um senhores de dedo em riste a avisar que iam estar muito atentos às dúvidas de Benquerença, enquanto se benziam furiosamente com a outra mão. Mas desta vez, Olegário portou-se bem. Houve um lance que uns acharam duvidoso e outros não. Geovanni entrou de forma dura sobre Ricardo Chaves no meio-campo defensivo do Benfica. Talvez fosse falta, mas Benquerença mandou seguir. O Benfica marcou o seu golo na sequência desse lance e o árbitro, bem, o árbitro mereceu o benefíco da dúvida. Não valeu a pena analisar a coisa ao microscópio, nem recriar o lance num supercomputador, nem usar a canela de Ricardo Chaves como prova nº 1, nem perguntar a opinião a um reputado físico. Os senhores de dedo em riste guardaram-no no lugar do costume e calaram-se muito caladinhos. O que Olegário Benquerença aprendeu nos últimos meses devia fazer parte dos manuais para aprendiz de árbitro: em caso de dúvida, beneficia-se o Benfica. É um sossego.
Falta a Olegário aprender a engolir sapos. Se tivesse engolido um, se tivesse cumprimentado quem passou o último ano a insinuar que ele, Benquerença, é desonesto e mal intencionado, talvez tivesse ganho uma palmadinha nas costas depois do grande trabalho que assinou no Estádio do Algarve. Nunca é tarde para aprender.
Como diria George Orwell, as dúvidas são todas iguais mas há algumas dúvidas mais iguais que as outras. Há dúvidas boas, daquelas que justificam o benefício da dúvida; e há dúvidas más, daquelas que normalmente resultam em terríveis erros judiciais e respectivas injustiças. Veja-se o caso de Olegário Benquerença. Na última temporada ajuizou um lance duvidoso. Petit chutou a bola de longe, Baía largou-a mas acabaria por desviá-la à segunda. Para Olegário, o guarda-redes do FC Porto conseguiu desviá-la antes de entrar na baliza; para os bilhões de benfiquistas espalhados um pouco por todo o universo conhecido, a bola estava toda lá dentro. O lance foi analisado ao microscópio, foi recriado digitalmente por supercomputadores, foi investigado por reputados físicos e químicos e a dúvida persistiu. Apesar disso, Olegário não beneficiou da dúvida, foi prejudicado por ela, cruxificado e mandado para o degredo dos jogos anónimos.
Passaram-se uns meses e Olegário foi nomeado - até parece coisa de sorteio - para apitar a Supertaça. Logo apareceram um senhores de dedo em riste a avisar que iam estar muito atentos às dúvidas de Benquerença, enquanto se benziam furiosamente com a outra mão. Mas desta vez, Olegário portou-se bem. Houve um lance que uns acharam duvidoso e outros não. Geovanni entrou de forma dura sobre Ricardo Chaves no meio-campo defensivo do Benfica. Talvez fosse falta, mas Benquerença mandou seguir. O Benfica marcou o seu golo na sequência desse lance e o árbitro, bem, o árbitro mereceu o benefíco da dúvida. Não valeu a pena analisar a coisa ao microscópio, nem recriar o lance num supercomputador, nem usar a canela de Ricardo Chaves como prova nº 1, nem perguntar a opinião a um reputado físico. Os senhores de dedo em riste guardaram-no no lugar do costume e calaram-se muito caladinhos. O que Olegário Benquerença aprendeu nos últimos meses devia fazer parte dos manuais para aprendiz de árbitro: em caso de dúvida, beneficia-se o Benfica. É um sossego.
Falta a Olegário aprender a engolir sapos. Se tivesse engolido um, se tivesse cumprimentado quem passou o último ano a insinuar que ele, Benquerença, é desonesto e mal intencionado, talvez tivesse ganho uma palmadinha nas costas depois do grande trabalho que assinou no Estádio do Algarve. Nunca é tarde para aprender.
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