Férias é aquele momento que você toma uma água de coco, deita-se na rede e, entre uma soneca e um bocejo, pega no primeiro livro que estiver à mão para ler. O primeiro? Mas a vida é tão curta para ler tantas obras interessantes, por que pegar qualquer uma? O negócio é escolher com cuidado, mas acima de tudo ler um livro que lhe agrade, seja por uma grande história, por ensinar alguma coisa a você, ou apenas por diversão.
A lista abaixo foi elaborada pelos colunistas do Homo Literatus a indicarem livros para as pessoas lerem nas férias. O resultado foi uma lista plural, que mais se assemelha a um cardápio, onde você escolhe aquilo que mais lhe agradar.
Bon Appétit!
1) Cinzas do Norte, de Milton Hatoum – Órfão e pobre, o narrador-personagem Lavo relata o brutal conflito familiar do amigo Mundo com seu pai, o milionário Jano. Vencedor de um Jabuti de melhor romance (2005), Hatoum faz com que o seu leitor não queira largar o livro, que mostra a que ponto a estrutura de uma família pode ser abalada quando pai e filho são ideologicamente diferentes numa Manaus decadente, à mercê da ditadura militar.
- Por Murilo Reis.
2) Vésperas, de Adriana Lunardi - Livro de contos da escritora brasileira contemporânea Adriana Lunardi. De maneira sensível e poética, misturando elementos biográficos e ficcionais, são narradas as vésperas das mortes das escritoras Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Fizgerald e Júlia da Costa. É um livro curto, leve e extremamente tocante. Óptima obra para os amantes da leitura e da escrita.
- Por Nicole Ayres.
3) Na Natureza Selvagem, de Jon Krakauer – Provavelmente você está familiarizado com o filme de Sean Penn, mas a prosa forte de um Jornalista com “J” como Krakauer, recheada de detalhes da pungente história de Chris McCandless valem um novo mergulho dentro das florestas geográficas e da alma que habitam este planeta.
- Por Cecilia Garcia.
4) Expurgo, de Sofi Oksanen – Um romance histórico sobre o domínio soviético na Estónia. Expõe lembranças da vida de duas mulheres comuns de gerações diferentes, que acabam se encontrando numa casa rural na Estónia e de como a política está directamente relacionada à vida pessoal das duas personagens. Como li em uma crítica: um romance árido, um “soco no estômago”, aquele tipo de romance que conta uma história sem nenhuma comiseração.
- Por Eliane Boscatto.
5) 2666, de Roberto Bolaño– Planeado para sair em cinco volumes, o romance foi publicado postumamente num único volume de mais de 800 páginas. Mas, vale a pena se aventurar por estas tantas páginas. O livro foi publicado pela Companhia das Letras, sob a competente tradução de Eduardo Brandão. A história gira em torno de um escritor fictício, Benno Von Archimboldi, cuja vida e obra acabam por unir quatro intelectuais dispostos a descobrir seu paradeiro. Parte da narrativa decorre no México, mais especificamente numa pequena cidade fronteiriça onde ocorrem misteriosos assassinatos, e parte decorre também na Europa da Segunda Guerra.
- Por Vera Helena Saad Rossi.
6) Bangalô, de Marcelo Mirisola – Um romance carregado de subjectividade, com elementos grotescos que nos fazem pensar sobre o lado mais humano dos humanos (ou seria animal?). Um homem, solitário, viciado em sexo e em busca da amada, tem que lidar com as transformações e condições da mulher (e vida) moderna, deixando evidente sua repulsa, mau humor e intolerância com o mundo à sua volta. O desfecho, surpreendente, é daqueles que nos persegue por dias e dias, causando a típica ressaca literária. Tudo isso em apenas 128 páginas.
- Por Priscila Yamany Medeiros.
7) Dublinenses, de James Joyce - O primeiro livro de ficção de um maiores autores da literatura moderna do século XX mostra que é possível ler Joyce sem dificuldades e com demasiado prazer. A colectânea de quinze contos aparentemente simples, escritos na juventude de seu respectivo autor, reconstrói com precisão a atmosfera de Dublin nos primeiros anos de 1900, através de pequenos episódios na vida de suas personagens (ambas pertencentes à classe média irlandesa). O livro segue uma ordem cronológica imposta pelo autor: infância, juventude e maturidade; e em ambas as pontas (primeiro e último capítulo) do livro a morte se apresenta como tema. Dublinenses nos conduz a momentos de pura reflexão e, particularmente, de raiva (risos), porque sempre quando entramos no universo íntimo de suas personagens, a história simplesmente acaba. E a sensação de querer continuar vivenciando mais um pouco a vida de algumas daquelas personagens é f***. Para quem tem medo de Ulysses, esta colectânea é um bom começo. Aliás, um excelente começo.
- Por Márwio Câmara.
8) Ficção completa, de Bruno Schulz – Reúne toda a literatura desse escritor polaco cuja prosa é poesia efervescente. Começa com dois livros de contos, Lojas de canela e Sanatório sob o signo da clepsidra, de onde seguem outros quatro contos soltos, intercalados vez ou outra por seus desenhos (Schulz era professor de desenho e artista). Termina em um brilhante posfácio do tradutor do livro, Henryk Siewierski. Nas narrativas de Schulz, um menino lida com as doenças de seu pai e com o amor; uma cidade de província perde contra a loucura e o progresso; as personagens sofrem metamorfoses em animais, máquinas e objectos; a matéria “goza de uma fecundidade infinita”, prolifera como fungo; e a realidade se contamina perante todos os sonhos.
- Por Ygor Speranza.
9) Um artista da fome/A construção, de Franz Kafka – Sem tirar os méritos de A Metamorfose, considero a perspectiva da obra de Kafka muito mais ampla se o leitor inicia sua leitura pelos contos. Este livro traz quatro contos no mais alto estilo kafkaniano da narrativa curta, além de uma novela complexa por sua multiplicidade de interpretações. Em A Construção, ao descrever um animal, vivendo num lugar subterrâneo, atónito, o autor estaria falando dele mesmo? A leitura fica melhor ainda se você souber que esta foi a última peça literária escrita por Kafka antes de morrer.
- Por Vilto Reis.
10) O céu está em todo lugar, de Jandy Nelson – Conta a história de Lennie, uma garota que sempre viveu à sombra da irmã até o dia em que, repentinamente, a perde para a morte. De um lado, Lennie encontra conforto e compreensão na companhia de Toby, de outro, uma nova alegria e esperança na companhia de Joe. Durante sua trajectória, ela descobre que sua felicidade não depende dos outros, mas dela mesma. Eu li este livro no verão de 2012 e gostei bastante. Trata de aprender a caminhar com os próprios pés, de sonhar os próprios sonhos e de viver a própria vida.
- Por Sté Spengler.
11) Calvin e Haroldo, de Bill Watterson – É o primeiro livro da dupla que ainda diverte milhões de leitores pelo mundo em tirinhas nos jornais. Aqui ficamos sabendo como Calvin consegue capturar seu tigre de pelúcia de estimação com um sanduíche de atum, vemos o primeiro confronto com Moe e Suzie Derkins. Leitura para lembrar a magia da infância. Desafio a não se tornar fã depois da primeira tirinha lida…
- Por Marcelo Gabriel Delfino.
12) A mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar – Romance que narra a saga da anónima mulher que escreveu sobre a história da humanidade. Vencedor do Prêmio Jabuti de melhor romance do ano 2000, esse livro do médico gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011) irá surpreender seu leitor numa agradável viagem literária, com momentos de humor e comoção.
- Por Murilo Reis.
13) O marinheiro que perdeu as graças do mar, de Yukio Mishima – Dividido em três focos narrativos, este breve romance, de um dos maiores génios da literatura japonesa, revela a perspectiva de um menino de treze anos; sua mãe, uma mulher bem resolvida que é viúva; e um marinheiro interessado em conquistá-la. Delineado com uma precisão estética, embora com simplicidade de linguagem, aparentemente, o romance aborda a natureza humana, revelando a crueldade que está latente em cada um de nós.
- Por Vilto Reis.
14) A abadia de Northanger, de Jane Austen – A história de uma heroína feia e atrapalhada, que nem tinha nascido pra ser heroína e faz uma viagem para Bath – sua primeira para o “mundo exterior” – vale a pena, pois o humor britânico de Austen e as reviravoltas na trama são leves e combinam perfeitamente com o clima de “tô fazendo nada”.
- Por Cecilia Garcia.
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