Em Outubro do ano passado, quatro proprietários de uma editora e livraria em Hong Kong desapareceram. O alarme foi lançado pelo dono que restava, um senhor chamado Paul Lee. Restava, porque também ele desapareceu no início deste ano. O caso é estranho, mas há luzes que o explicam.
É que a editora, Mighty Current, de que Paul Lee e os restantes desaparecidos são proprietários tem vendido livros sobre as actividades menos legais dos principais dirigentes chineses. O lançamento de uma obra sobre a vida privada do presidente Xi Jinping terá mesmo sido a gota de água que as autoridades comunistas, que como sabemos não toleram a corrupção, não puderam deixar passar.
Dias depois do desaparecimento de Paul Lee, a sua mulher recebeu uma carta, aparentemente escrita pelo próprio, na qual assumia ter saído livremente de Hong Kong para colaborar com as autoridades chinesas em assuntos urgentes. Terminava dizendo que tudo estava bem com ele ao mesmo tempo que pedia que continuassem a gerir bem a editora e a loja.
A ironia é deliciosa, não fosse tudo verdadeiro e aterrador. Mas esta história tem algo que nos toca a nós, portugueses. É que em 2013, Jerónimo de Sousa foi com o PCP numa visita oficial à China, no seguimento da qual, e de acordo com entrevista do líder do PCP ao jornal “Avante!”, as autoridades chinesas “reafirmaram-nos a determinação do PCC em persistir com firmeza no caminho da construção do socialismo”. Ora, se o socialismo é aterrador, o silêncio perante estas cumplicidades é, no mínimo, inquietante.
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