Sinto
por esta cidade heróica uma profunda simpatia.
Talvez por ser tão amante da liberdade como eu.
Júlio Dinis, Teatro I
Se querem que lhes
diga francamente, já estou a ficar farto de ouvir (e ler) as catilinárias dos
profetas da desgraça a quem recentemente se acrescentaram os arautos do pânico.
Juntos, constituem parelha de respeito para nos azedarem ainda mais os dias e incutirem,
nos ânimos sensíveis, receios, temores, desânimos acrescidos aos naturalmente
derivados destes tempos ensombrados pelo vírus que de longe nos veio estragar o
estrugido e infernizar o quotidiano.
Os profetas da desgraça (com especial ênfase em alguns que facturam milhares mensalmente), no comentário televisual, na crónica revisteira ou nesse inefável universo das redes sociais, argumentam e investem quase colericamente contra os efeitos perniciosos de um desenvolvimento do país (e desta cidade) assente no turismo. Há dias li escrito que estamos cada vez mais atrasados, na cauda das caudas de todos os indicadores de progresso social, educativo, etc., etc. Por aí fora. Um horror de terra, com gente quase miserável.
Independentemente de,
em democracia, todos terem direito de opinião (só que algumas causam danos, por
vezes irrecuperáveis), acho que tais profetas não têm razão. Lembram-me as
carpideiras (profissionais, eram pagas para isso), que derramavam copiosas
lágrimas de crocodilo sobre os males dos outros. E, sobretudo, ou precisam de
consultar um oftalmologista ou de mudar de óculos para verem melhor a
realidade. Não vêem as alterações profundas que estão a intervir no país na
reabilitação de aldeias, vilas e cidades, na quantidade inumerável de locais,
comércios, alojamentos, empresas que leram bem os sinais dos tempos e se
modernizaram com qualidade inquestionável. Não vêem o que, em muitas
autarquias, o poder local construiu, arejou, renovou para as tornar mais
atractivas para os de fora e geradoras de auto-estima para quem nelas mora. Nem
o esforço e a explosão criativa de jovens empresários que, país fora, estão a
transformar a agricultura (e a vinicultura) em empreendimentos actualizados,
dinâmicos e, céus! internacionalmente competitivos. Não vêem o que em terras
grandes, pequenas e assim-assim foi feito em matéria de equipamentos culturais
– museus, auditórios, centros interpretativos, etc – inovadores ou
valorizadores das tradições locais e de salvaguarda e celebração de patrimónios
e identidades. Basta assistir aos programas sobre as “Maravilhas da Cultura
Popular” e o “Aqui Portugal”, para perceber – quem quer perceber -, como este
povo permanece íntegro, apesar das agressões dos profetas do cosmopolitismo
provinciano e da cultura da pseudo-modernidade. No fundo, os profetas da
desgraça, além da obtusidade dos juízos, demonstram um profundo desprezo pelo
que muita gente (tantas vezes maltratada por um centralismo totalitário e
burocrático), com esforço e perseverança, tem conseguido para transformar
Portugal em algo de que nos possamos orgulhar e, especialmente, num lugar onde
possamos viver melhor.
Por sua vez, os
arautos (ou, melhor dizendo, os viciados) do pânico cumprem a sua missão,
acrescentando aos malefícios e catástrofes anunciados pelos seus homólogos da
desgraça, previsões e notícias demolidoras sobre a pandemia e os seus efeitos
na cidade e no país (no mundo não falam, porque não está nos horizontes do
quarto onde se confinam). Se mandassem, continuaríamos parados, escondidos, e a
cidade seria cercada por barreiras de arame farpado e polícia armada. Ninguém
se mexia, nem saía de casa porque o terror impera. Nada se partilha e comunica.
Nada vale a pena, a não ser amontoar géneros na despensa e comprar quilómetros
de papel higiénico (são finos, o papel de jornal não serve). Alguns, também são
chamados açambarcadores. Estes profetas da desgraça (a que certos meios de
comunicação se juntaram criando o que a OMS designou como «infodemia», ou
pandemia de informação ou informação pandémica) também não têm razão. Além de
serem vesgos para a realidade, juntam ao medo a indiferença pelos outros.
Porque a verdade é que enquanto muitos se confinavam com os seus vencimentos,
reformas, aposentações pagos na hora e se refastelavam no sofá vendo TV ou
no skype dando entrevista doutoral, comentando a desgraça e
mandando palpites, outros, milhares, para sobreviver enfrentaram o inimigo
invisível, mantendo o país a funcionar e as cozinhas apetrechadas. Sem falar
nos muitos profissionais de saúde que arriscaram tudo, os anónimos dos
supermercados, das entregas domiciliárias incessantes, da segurança, dos
transportes e outros, para os quais nunca teremos gratidão à altura do seu
trabalho.
Porque, de facto, o
inimigo existe. Está aí a atormentar-nos, a fazer de nós joguetes de um destino
com tanto de provável como de improvável. Como ninguém sabe o que está para
vir, bom ou mau, resta-nos praticar as cautelas possíveis, ser rigorosos (nem
fui à Baixa festejar a vitória do FCP!), exigir decência e prevenção, mas viver
o que vale a pena do dia-a-dia. E continuar a lutar para melhorar a casa comum
e quem cair que caia de pé, cumprindo o seu dever no lugar competente. Porque,
de facto, esta maldição (sem alimentar teorias da conspiração, nem
imbecilidades trumpistas, acredito que o inimigo veio mesmo das bandas do
Celeste Império do neo-capitalismo) apanhou-nos na pior altura e colocou de
rastos a perspectiva económica que o turismo proporcionava.
É, portanto, a altura
de falarmos sobre este assunto: foi errado assentar uma estratégia de
desenvolvimento, progresso urbano e qualificação da cidade, na sua capacidade
de constituir um destino turístico de excelência? De atrair milhares ou milhões
de visitantes? Foi a expansão do turismo que destruiu o espírito e a forma do ser
portuense? Indígena da Vitória, portista dos quatro costados e tripeiro
visceral, responderei: não. Não foi. A cidade há muito, desde os anos 70 ou 80,
estava em declínio. Em declínio populacional (passou de 327 368 hab., em 1981,
para 216 606, estimados, em 2019). Em declínio comercial, financeiro, político,
cultural e social. E nem a Porto 2001 (que, apesar de tudo, teve contribuições
positivas: Caminhos do Romântico, Funicular dos Guindais, Casa da Música) ou a
construção do Metro (obra estrutural importante mas não suficiente para o
relançamento do Burgo – também Detroit possui o seu Metro e não deixa de ser
uma cidade em extinção), nem o Euro 2004 salvaram a urbe da degradação. Não.
Não foi o turismo que trouxe a catástrofe. Ela começou com o congelamento das
rendas (compreensível num país de moeda forte e sem inflação, mas desajustado
do Portugal pós-25 de Abril), que empobreceu milhares de senhorios e,
abandonada a manutenção dos imóveis, converteu as ruas em cemitérios
arquitectónicos e despovoamento sistemático. E, juntando-se-lhe o abandono do
Centro Histórico e da Baixa, trocados pelas periferias, onde as condições de
habitabilidade eram melhores, e da falta de políticas de habitação no próprio
coração do Burgo, assistimos à terciarização do buraco do donut (alguns
até acharam piada a esta metáfora, considerando-a inevitável das políticas
sociais e económicas do capitalismo pós-moderno, especulativo, fundiário e,
sobremaneira incompetente), ao (que eu designo como) ataque bancário ao
comércio e cafés da Baixa. (E, já agora, as livrarias não foram mortas pelo
turismo. A incomparável Portugália, a Internacional, a Simões Lopes, a
Figueirinhas, a Educação Nacional, a Brasília, a Athena, a Moreira, a Lopes da
Silva, a Progredior, a Leitura, a Avis, a Tavares Martins, a Luso Espanhola, a
Divulgação e mais algumas extinguiram-se na morte da Baixa, dos anos 60 em
diante. Antes do boom turístico cujos danos, neste capítulo,
foram mínimos.) A par, sem gente e numa cidade em crise, fecharam cinemas e
teatros (salvo a Seiva Trupe e o TEP, que constituíram faróis na escuridão)
quase levaram sumiço. O Porto à noite e, em certos locais, de dia metia medo.
Era um fantasma de si próprio, enquanto a Sé, S. Nicolau e Miragaia empobreciam
e se despovoavam. No meio desta tragédia o Projecto SAAL trouxe um fulgor de
esperança no sentido de não continuar a expulsar habitantes mas reabilitar os
locais mais vulneráveis (os resultados dessa política são visíveis nas Antas,
no Leal, na Lapa, nas Águas Férreas). Mas foi sol de pouca dura. Era bom de
mais. Em contra-corrente ao deixar andar, cair e despovoar, o CRUARB afirmaria
outro movimento essencial à manutenção coerente da cidade e da sua população
onde devia permanecer. Mas, além de nunca ter tido os meios suficientes à amplitude
dos objectivos e ao estado degradante a que tinham chegado os locais da sua
actuação, começou a ser claro (ao menos para mim, que, sendo favorável ao
funcionamento do mercado – em condições que sirvam o Bem-Comum -, não sou dado
ao liberalismo selvagem e especulativo), a ser claro, dizia, que o investimento
público não era suficiente para salvar a cidade da degradação e da ruína.
Bastava observar o estado a que chegaram Mouzinho da Silveira, o Bairro da Sé,
Codeçal, Flores, Lóios, ruas de Trás, Loureiro, Chã e por aí fora, sem conta,
para se perceber isso. E só não percebia quem não queria ou vivia em boas
residências para as bandas da Foz ou das Antas. Ou quem ligava mais ao que
diziam as cartilhas e ignorava a calamidade estendida pelas ruas do Porto.
E com todos os alarmes
a tocarem para os portuenses ainda atentos ao que se passava, já neste milénio
surgiria a Sociedade de Reabilitação Urbana, a SRU (que, tantas críticas, ódios
de estimação, gozos e piadas anti-fachadísticas dos defensores das Novas Ordens
viria a concitar). E com ela avançariam as primeiras experiências de
regeneração: Carlos Alberto e seu envolvimento, reabilitação do edifício da
Papelaria Reis, na Rua das Flores e, com o peso de uma imensidão de problemas e
adversidades, o Quarteirão das Cardosas. Contrariamente ao que pensam os
defensores das Novas Ordens, no interior da SRU sucederam estudos, análises,
debates e, por vezes, confrontações no sentido de melhorar os planos e
ajustá-los a uma realidade emergente, urgente, exigente e pragmática.
E com o Estado
centralista a assobiar para o lado em matéria de investimentos para a
reabilitação, designadamente a de carácter social, que deveria caber nos
objectivos que serviriam os interesses da cidade e de parte da população, a
regeneração, ou reconstrução (ou salvação) urbanas foram avançando. E tudo se
precipitou quando, mercê da classificação como Melhor Destino Turístico
Europeu, a chegada dos voos low-cost e a existência de um
aeroporto excelente, o Porto ganhou foros de internacionalização e a governação
autárquica começou a colocar a reabilitação urbana, social e económica como
fundamental aos seus propósitos estratégicos. Num ápice a cidade transformou-se
num enorme estaleiro de obras e sítios vistos, até aí, como abandonados,
perdidos, reprovados foram mudando para sítios cómodos, inovadores e, em não
poucos casos, de excelente arquitectura. E, neste processo que salvou o Burgo
da auto-implosão, o turismo constituiu a alavanca essencial à reconversão e
renascimento de um Porto a cair de podre, quase em ruínas, a viver a nostalgia
por um passado e uma grandeza perdidas.
Apesar do confinamento
e do pós-confinamento, da prisão domiciliária provocada pela maldição asiática,
fui andando por aí a espreitar as obras e concluí um fenómeno espantoso: não
obstante as restrições, convulsões e desgraças profetizadas (independentemente
da tragédia económica que nos atinge), a reabilitação dos espaços urbanos não
cessou. Prosseguiu ou foi concluída. Fui há dias, com a Francisca, à Santini,
da Rua das Flores (infelizmente a dos Lóios ainda não abriu), comer um gelado e
vigiar as obras em curso. Caí das nuvens: além da enorme Casa dos Constantinos
ter sido recuperada para hotel a – para mim – mais bela rua do Burgo, dantes a
caminho da perdição, está quase reconstruída. Razão tinham os técnicos da SRU,
que me garantiam: a qualificação do espaço público induz e atrai o mesmo no
edificado. E podemos comprovar isso no ritmo da reconstrução e nas
consequências das obras efectuadas. A bela e setecentista Casa dos Maias e os
seus dois brasões, durante anos em estado calamitoso e indigno da sua valia,
foi impecavelmente reabilitada para estabelecimento hoteleiro (por mim, tudo
bem). Na esplêndida Casa da Companhia (das Vinhas do Alto Douro), que
pertencera ao Figueiroa que deu nome à Travessa, em Cedofeita, estão em curso
obras de reabilitação que incluem o lado que dá para a Travessa do Ferraz.
Obras que a transformarão, pelo que se vê, em mais uma referência. Em frente, o
edifício setecentista dos Brandões e Silva, na esquina com a Rua da Ponte Nova,
está tapado para remodelação que o libertará da indigência onde definhava. Do
outro lado da Travessa do Ferraz, a um palmo da Casa da Companhia, as duas
moradias dos Sousas e Silvas (com o brasão familiar dos Sousas, de Arronches, a
meio, com a data de 1703) estão praticamente recuperadas incluindo a sua longa
extensão lateral e respectiva capela (que servia de armazém e recentemente nem
isso), Ferraz acima.
Viajantes à
redescoberta da cidade reconquistada ao desleixo e ao atraso, resolvemos subir
a ladeira íngreme da Travessa do Ferraz. Em boa hora chegámos à antes degradada
Rua da Vitória e vimos que um dia destes tudo nela são moradias reconstruídas e
– céus! – habitadas! E, nas traseiras das habitações seis ou setecentistas dos
Caldeireiros, as gruas fazem o seu serviço na regeneração. Foi pena que, de um
dos muros dos quintais das mesmas, derrubados pelas obras, se tenha perdido a
pedra que continha as marcas do impacto de uma bala de canhão – miguelista – do
Cerco do Porto. Mas quem vai adivinhar a importância de um pormenor no granito
de muro cheio de ervas?
Enfim, isto é para
dizer o seguinte: é claro que o impacto da maldição vírica foi um atraso para a
expansão cultural, social e económica do Porto e sua afirmação. E não sou
estúpido para ignorar ou fazer de conta que não existiram danos, algumas
infâmias e consequências negativas do desenvolvimento urbano promovido pelo
turismo, que converteu o Porto numa cidade em convulsão criativa. Houve erros e
efeitos perversos, alguns evitáveis, sobretudo com melhores leis e maior
sensibilidade social de alguns investidores. E, como ouvi a um empresário «Nós
não viemos aqui praticar a caridade», falando da mudança de um bairro operário,
de onde a população de séculos foi excluída, para alojamento turístico.
Realmente não têm obrigações caritativas mas, pelo menos, deveriam manter um
nível de repartição da oferta de modo a que a gentrification (prefiro
escrever a palavra inglesa) cause menos estragos no tecido da cidade. Ao menos
isso: habitação ao alcance da classe média e dos jovens em início de vida
activa. E que os idosos e os comércios antigos não fossem expulsos em nome de
princípios arrogantes e injustos das políticas de arrendamento com tanto de
oportunistas como de incapazes de entenderem as necessidades e carências do
país que somos. Porque o exclusivo objectivo do lucro não cria progresso, de
igual modo uma renovação voltada para a especulação (ainda estou para perceber
a razão da existência de dezenas de andares, apartamentos, residências
devolutos depois de renovados, nas ruas centrais da cidade, ou, pensando bem,
percebo que se encontram em banho maria, esperando o aquecimento do mercado),
tal renovação especulativa, dizia, não constrói a cidade inclusiva que
pretendemos.
Voltando ao princípio.
Os profetas da desgraça tiveram aquilo que sempre vaticinaram: a tempestade
perfeita, que abalou a estrutura económica em que a cidade assentava a sua
regeneração ou, dizendo melhor, o seu Renascimento. Que fez encerrar centenas
de pequenos negócios, inventados para substituir muitos dos que deixaram de
responder aos desafios e exigências da nossa época. Que roubou milhares de
visitantes, fechou as portas a dezenas de Alojamentos Locais, frustrando sonhos
e delapidando algumas poupanças duramente alcançadas. Que transformou lugares
pletóricos de animação e entusiasmo pelo douceur de vivre neles
pressentido, no vazio dos cemitérios. Que trouxe o desemprego e asfixiou o
bulício do Douro, recurso e atracção tornado deserto de que só restavam
recordações. E, além de tudo, a tempestade perfeita roubou-nos amigos, vizinhos
e conhecidos liquidados pela pandemia. Mas não só: proibiu-nos abraços, beijos
e simples conversas cara a cara. Trouxe a pandemia das solidões ainda mais
intensas, promoveu o Skype a vedeta (já estou farto de ver
caras distorcidas e mudo de canal quando aparecem) da conformidade digital. De
qualquer modo, a tempestade perfeita não foi um falhanço da cidade e do seu
modo de viver e prosperar. Foi, sim, o desastre induzido por uma globalização
com tanto de má fé como (se alguém ocultou o surgimento do vírus) de criminoso.
E, perante a tragédia que nos alterou os dias ou damos ouvidos aos
profissionais do pânico e desistimos de viver a cidade (a única maneira de a
fazer reviver) ou cerramos fileiras e enfrentamos o inimigo com as armas da
inteligência, perseverança e segurança. De preferência acompanhados de
sorrisos, alicerçados em ideias e projectos para retomar o que nos foi
subtraído, criar emprego, relançar o comércio, atrair visitantes por todos os
modos e feitios.
Porque, como acontece
às maldições, as tempestades perfeitas também passam. Acabam, extinguem-se. E
quando isso acontecer fica-nos uma cidade renovada, de que podemos orgulhar-nos
e sai da crise sem trair o seu desígnio histórico. Que pode ser mais justa e
acessível a mais habitantes. Que possui instituições científicas de referência,
uma universidade prestigiada, uma oferta hoteleira magnífica, uma vida cultural
à espera de novos públicos, paisagens de excelência, rio e mar (a costa
atlântica continua à espera da reconversão em atractivo). Que mantém vivas
tradições, costumes, hábitos, falares e maneiras de ser que identificam a sua
diferença.
O que se impõe, então,
neste momento inesperado, decisivo e complexo da nossa contemporaneidade? O que
fazer com a cidade (a que, convém não o esquecer, os românticos chamavam eterna)?
Obviamente, resistir. Resistir à tentação de considerar perdida a batalha pela
redenção e persistir criando desígnios, inventar planos, engendrar ambições.
Vencer, em definitivo, a batalha da reabilitação, atacar de frente a guerra
pelo repovoamento (rejeitando a inevitabilidade do efeito donut),
desenvolver as indústrias que interessam, nas áreas tecnológicas, científicas,
digitais, culturais, atrair visitantes (que venham, às centenas, enchendo a
cidade de linguagens e gente diferente). Insistir na cidade como polo de
investigação e ciência. Avançar com projectos que qualifiquem o espaço urbano e
o viver portuense: novas linhas do Metro, Parque Oriental, reconstrução
arquitectónica da Marginal entre as pontes Luís I e Maria Pia, conclusão do
ambicioso Terminal Intermodal, urbanização (há tanto tempo adiada) da encosta
da China e do Vale de Campanhã, abertura à cidade da (inútil) linha da
Alfândega, concretização do Plano de transformação do Matadouro da Corujeira,
em centro cívico e cultural (e sua ligação ao Dragão), reconquistar o Batalha
para benefício de todos, construção da nova travessia do Douro e eliminação da
vergonha da passagem da Ponte de Baixo que há muito deveria ser apenas pedonal.
Tanta coisa para fazer, incluindo o combate sem tréguas contra o Centralismo
que sufoca o país, obrigando-o a repartir com o Norte, equitativamente, os
milhões que vão chegar de Bruxelas (nem devem ir para bolsos corruptos, nem
privilegiar os suspeitos do costume – ignorava que o Presidente da Câmara
também assim designou os «tais»).
Resumindo e
concluindo: o objectivo essencial é, não nos resignando à mediocridade,
ambicionar a lua (para podermos ter a certeza – como diria Jorge de Sena – de,
pelo menos, conseguirmos um bom candeeiro que contente a todos). E, enfrentando
o que ninguém sabe o que pode suceder, continuar a pensar a urbe tripeira à
escala dos nossos sonhos, esperanças e ambições. Porque, trazendo Bernstein à
colação: “What a Wonderful Town” continua a ser esta, nossa, incomparável.
Helder Pacheco
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