Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Cómicos

Tomo a liberdade de transcrever um artigo de opinião de Jorge Maia, inserida no jornal O JOGO de hoje.
Só deixo uma opinião: e não se pode exterminá-los ???
A Comichão, perdão, Comissão Disciplinar da Liga continua desesperadamente à procura de um lugar ao sol no mundo do espectáculo pela via da comédia.
Cada comunicado é uma pérola de humor ainda mais rara que a anterior, uma mistura de "non-sense" com a mais fina ironia e a comédia de costumes a que ninguém se acostuma. O último, por exemplo, é um convite irresistível à gargalhada. Eu próprio ainda não recuperei o fôlego e confesso estar a escrever estas linhas com lágrimas a escorrerem-me pelo rosto. A coisa explica-se em poucas palavras: Pinto da Costa foi multado em 850 euros e repreendido por escrito por alegadamente ter ameaçado, protestado ou adoptado atitudes incorrectas - à escolha do freguês - em relação à equipa de arbitragem do jogo com o Moreirense. Ora, acontece que o presidente do FC Porto viu a partida na bancada, ao lado do delegado da Liga, não teve qualquer contacto com a equipa de arbitragem nem proferiu quaisquer declarações sobre o trabalho de Bruno Paixão. É de morrer a rir, não é? Ainda mais quando se percebe que o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, não mereceu qualquer tipo de repreensão - quanto mais uma multa - pela conferência de Imprensa que promoveu no final do jogo com o Penafiel para desancar no árbitro Pedro Proença. A menos que... esperem, a menos que a Comissão Disciplinar tenha castigado Pinto da Costa pelas declarações de Luís Filipe Vieira. Que grandes cómicos, os senhores juizes! Já agora, também podiam ter punido o Penafiel com um jogo de interdição pelos desacatos provocados pelos adeptos do Benfica. Ou então aplicado uma partida de suspensão a Odair pela violenta narigada que deu no isqueiro que lhe atiraram das bancadas.
Enfim, duas tímidas sugestões de um simples amador nestas coisas da comédia.

1 comentários:

conservadorismo cego, a sua desumanidade perante o “drama” das mulheres, a “exclusão” dos homossexuais, o risco da Sida e tudo o resto que faz parte da nossa vida. No Ocidente, rico e ilustrado, a Igreja e o Papa e as suas encíclicas são analisadas à lupa, na sua intransigência absurda e no dogmatismo que lhes dá corpo. A opinião de um padre, de um bispo e de tudo o que cheire a sacristia está sob permanente escrutínio. Ao menor deslize, aparece imediatamente um Louçã ou um Rosas ou um outro qualquer da mesma família, disposto a dar a vida pelo laicismo e a denunciar os mais mesquinhos abusos.
Ainda há pouco tempo, em Portugal, neste Portugal que tão bem compreende o Islão, se armou um pé-de-vento por uma dúzia de crucifixos. Agora, recolhidos os crucifixos das primeiras páginas dos jornais, olhamos deslumbrados a violência e o fanatismo que nos chegam de todo o mundo, através das imagens da televisão. E compreendemos. Qualquer Francisco Louçã compreende incondicionalmente o fundamentalismo religioso que alastra pelo Islão onde a homossexualidade é negada, a mulher oprimida e as minorias um caso em vias de extinção.
Até o Governo, numa nota assinada em nosso nome, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, decidiu esclarecer o mundo que “Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos”. Maomé não pode ser ofendido. “Cristo e a sua Mãe, a Virgem Maria” comungam também deste especial destino. Para o quadro ficar completo, só falta mesmo saber como é que o Governo vai manifestar a sua “discordância” no que toca à publicação de “desenhos ou caricaturas” que ofendam “as crenças e as sensibilidades dos povos”. O eng. Sócrates que se explique.
ccs
(publicado na revista Sábado)
posted by ccs at 1:35 PM 40 comments

EXPLICAÇÕES


As críticas dão-lhe vontade de "rir". Como se ele não fosse um ocidental de gema e como qualquer ocidental de gema não dispensasse juras diárias à democracia e aos direitos humanos, tudo coisas "tão óbvias" que ele não precisa de andar constantemente a "repeti-las" sempre que "há um acto de violência em qualquer parte do mundo”. Tem havido uns tantos, é verdade. Mas ele preferiu filosofar sobre a civilização muçulmana, a história das religiões, a sacralidade dos símbolos e os limites à liberdade de expressão. Ele preferiu “sublinhar” a necessidade de “compreender a civilização muçulmana”, deixando a solidariedade com a Dinamarca entregue ao silêncio e às obscuras "vias" da diplomacia. Afinal, o que nos faz falta é compreender: tivesse a Dinamarca compreendido que “na civilização islâmica não há distinção entre a Igreja e o Estado, nem entre política e religião” e não se tinha posto a brincar com os seus "símbolos sagrados” (porque "eles" - os muçulmanos, não os símbolos - se "ressentem" de uma maneira “muito mais forte e muito mais grave do que nós”). Infelizmente, os dinamarqueses não compreendem estas subtilezas do islamismo. E depois, lá temos nós (e ele) que pôr "água na fervura" para evitar que isto descambe num "choque de civilizações". Perante estes esclarecimentos, falta agora compreender o que sucedeu a "Cristo e a Sua Mãe, a Virgem Maria". Afinal, já se pode brincar com eles? Por cá, como se sabe, a separação entre a Igreja e o Estado é um facto. E os católicos, ainda por cima, parece que se "ressentem" menos com esta história dos símbolos. Infelizmente, neste ponto (crucial), Freitas do Amaral foi omisso. No resto, foi cristalino. E mostrou que, como já se tinha compreendido, quem não compreendeu nada...foi ele.
ccs
posted by ccs at 12:58 PM 39 comments

Quarta-feira, Fevereiro 08, 2006
JORNALISTAS
Entre blasfémias, cartoons e polémicas, descobri, com algum espanto, que alguns dos maiores arautos da moderação e do bom senso são jornalistas. Defendem um jornalismo "sério" e "responsável". Zeloso dos seus próprios limites e do fanatismo dos outros. Um jornalismo bem comportado que dita as regras do que deve ser publicado e do que não deve ser publicado. Um jornalismo consensual, aberto a grandes tiragens, que faz a bissectriz e sossega os espíritos dos seus leitores. Um jornalismo que tem territórios sagrados, zonas onde ninguém se aventura sob pena de ser castigado por força das circunstâncias. Um jornalismo que, curiosamente, exclui outros tipos de jornalismo e parte das publicações que fazem a fortuna do ocidente. Por esses lados, não há tablóides, revistas pornográficas ou jornais alinhados pela provocação barata ou pelo insulto gratuito. Há um modelo único, definido por critérios únicos que excluem o risco e o excesso, em nome do respeito pelo outro e da superior harmonia dos povos. A liberdade absoluta é um mito. Ou uma licenciosidade, como diria Freitas do Amaral. Com a fé dos outros não se brinca. Ou melhor, com a fé dos muçulmanos não se brinca. O mundo está demasiado perigoso para que o ocidente, rico e ilustrado, se dê ao luxo de brincar com o fundamentalismo alheio. A fé, diz João Morgado Fernandes, é "um conjunto mais ou menos irracional de coisas íntimas" (não é!) e coisas íntimas ele obviamente não discute. A não ser que as coisas íntimas lhe digam respeito, como acontece com a religião católica, que ele não pratica, mas cuja influência sofre. Aí sim ele brinca com a “carcaça” da coisa. Mas com a fé não. Nem ele, nem ninguém que ele preze ou que estime. Que bom seria se o mundo fosse todo, assim, tão simples e tão previsível. Infelizmente não é.
ccs
posted by ccs at 11:42 PM 11 comments

CONTRIBUIÇÕES

(Enviado por Francisco Espada)
posted by ccs at 9:45 PM 9 comments

MANIFESTAÇÃO
COMUNICADO - CONVITE

Na próxima 5ª feira, 9 de Fevereiro, pelas 15 horas, um grupo de cidadãos portugueses irá manifestar a sua solidariedade para com os cidadãos dinamarqueses (cartoonistas e não-cartoonistas), na Embaixada da Dinamarca, na Rua Castilho nº 14, em Lisboa. Convidamos desde já todos os concidadãos a participarem neste acto cívico em nome de uma pedra basilar da nossa existência: a liberdade de expressão. Não nos move ódio ou ressentimento contra nenhuma religião ou causa. Mas não podemos aceitar que o medo domine a agenda do século XXI. Cidadãos livres, de um país livre que integra uma comunidade de Estados livres chamada União Europeia, publicaram num jornal privado desenhos cómicos. Não discutimos o direito de alguém a considerar esses desenhos de mau gosto. Não discutimos o direito de alguém a sentir-se ofendido. Mas consideramos inaceitável que um suposto ofendido se permita ameaçar, agredir e atentar contra a integridade física e o bom nome de quem apenas o ofendeu com palavras e desenhos num meio de comunicação livre. Não esqueçamos que a sátira – os romanos diziam mesmo "Satura quidem tota nostra est" – é um género particularmente querido a mais de dois milénios de cultura europeia, e que todas as ditaduras começam sempre por censurar os livros "de gosto duvidoso", "má moral", "blasfemos", "ofensivos à moral e aos bons costumes". Apelamos ainda ao governo da república portuguesa para que se solidarize com um país europeu que partilha connosco um projecto de união que, a par do progresso económico, pretende assegurar aos seus membros, Estados e Cidadãos, a liberdade de expressão e os valores democráticos a que sentimos ter direito.
Pela liberdade de expressão, nos subscrevemos
Rui Zink (916919331)
Manuel João Ramos (919258585)
Luísa Jacobetty
posted by ccs at 9:16 PM 42 comments

REALIDADES
O Hamas governa a Palestina. O Irão decidiu recomeçar o enriquecimento industrial de urânio, digam o que disserem a ONU e a "Europa". No Iraque, a América está numa posição desesperada. No Afeganistão, os senhores da guerra mandam como sempre fora de Cabul, os Taliban voltaram à cena e a presença da NATO não passa de cosmética. E, no entanto, parece que o grande problema do Ocidente no Islão é o caso das caricaturas. A boa propaganda, e a histeria da "rua" muçulmana foi boa propaganda, consegue esconder o essencial.

Enquanto se discute a liberdade de expressão, não se discute o avanço táctico do islamismo político, nem a inquietante impossibilidade de lhe responder. Já se provou que as sanções não servem de nada. O Afeganistão e o Iraque mostraram a futilidade de uma intervenção militar, sem um exército capaz de ocupar efectivamente o território. Mas, como é óbvio, a América e a "Europa" não podem ou querem mandar um milhão e meio de homens para o Iraque (há lá hoje 140.000) ou 300.000 para o Afeganistão (há lá hoje 15.000).


Resultado: o Ocidente continua à mercê da chantagem do petróleo, agora agravada pelo populismo de Chávez na Venezuela e pelo banditismo na Nigéria. Só que a chantagem tem limites. Não vale a pena procurar um compromisso com o Islão, porque o Islão nunca aceitará um compromisso. A "guerra santa" contra o "infiel" fornece um bode expiatório à miséria universal, à injustiça e ao atraso de uma civilização falhada. Sem ela, era o caos. Mas, tarde ou cedo, o Ocidente, perturbado na sua abundância e nos seus prazeres, tenderá a esquecer os grandes princípios para se lembrar das realidades do mundo. A bomba do Irão, até por causa de Israel, talvez seja o ponto decisivo.
vpv
posted by ccs at 5:36 PM 38 comments

Terça-feira, Fevereiro 07, 2006
NOTA AO GOVERNO
O Governo, numa nota assinada em nosso nome, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, decidiu anunciar ao mundo que “Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos”. Na mesma nota, ficamos também a saber que “Cristo e a sua Mãe, a Virgem Maria” comungam deste especial destino. De um ponto vista nacional, não deixa de ser uma boa notícia para César das Neves que, a partir de agora, poderá contar com a cooperação do Governo nalgumas das suas solitárias cruzadas. De um ponto de vista mais pessoal, gostaria de perguntar ao Governo que medidas tenciona tomar para evitar a publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendam as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos e católicos (já que o Governo, na sua ânsia de discordar, se esqueceu lamentavelmente dos protestantes, dos ortodoxos, dos judeus, dos anglicanos e até das testemunhas de Jeová). Para além disso e antes do “choque religioso” aparecer, em forma de pacote e com a bênção de uma entidade ecuménica, pretendia também saber:

1.O que é a sensibilidade religiosa de um povo?

2.O povo português tem uma sensibilidade católica? Se sim, deve o Governo voltar a pôr nas escolas os doze crucifixos que mandou retirar? E não pode prender Francisco Louçã sempre que ele disser mal da Igreja ou do Papa? Ou multá-lo se for uma ofensa pequenina?

3.Está na forja algum instituto (ou alguma polícia especial) que ajude os portugueses a apurar a sua sensibilidade?

4.Aceitam-se denúncias?

5.Para além de Cristo, da Virgem Maria e de Maomé, já identificados na nota governamental, existem outros símbolos que não possam ser alvo de desenhos e/ou caricaturas?

6.Os portugueses, enquanto cidadãos de sensibilidade católica, podem sugerir símbolos pelos quais tenham uma especial devoção?

7.Moisés entra nessa lista?

8.E Santo António?

9.A publicação num blogue de um kit da crucifixação pode levar à ilegalização do blogue?

10.As denúncias são remuneradas? Se sim, para onde posso mandar a minha lista ainda que a título provisório?

Atentamente
ccs
posted by ccs at 10:50 PM 61 comments

PRESIDENTES
Nem o Presidente em exercício, nem o Presidente eleito acharam por bem dar a sua opinião sobre a ofensiva da propaganda muçulmana contra o Ocidente. Parece que a coisa não é com eles. Grandes figuras, não há dúvida. Um Estado com este género de chefes nunca estará em perigo. Os portugueses podem dormir descansadíssimos.
vpv
posted by ccs at 5:12 PM 39 comments

O DIOGO DO COSTUME


Diogo Freitas do Amaral nunca deixará de ser o menino exemplar do salazarismo e o discípulo dilecto de Marcelo. Perante a histeria muçulmana, que é um acto político de intimidação do Ocidente, escolheu a subserviência. Este "súbdito", como ele um dia a si mesmo se descreveu, não hesitou em condenar as caricaturas dinamarquesas (que não passam de um pretexto), porque ofendem a "sensibilidade religiosa" do Islão e porque incitam a "uma inaceitável guerra de religiões". Como se a "rua" que se manifesta, se manifestasse espontâneamente com conhecimento de causa e como se quem incita à "guerra de religiões" não fosse o próprio Islão. Freitas finge que não vê o carácter deliberado e fabricado de um "movimento", que chegou ao mundo inteiro em pouco mais de uma semana, e colabora em paz de espírito com os piores fanáticos. Nem desprezo merece.

Para acabar, e no espírito da escola a que pertence, Freitas, já agora, também se queixa da liberdade. "Liberdade sem limites", sentenciou ele, com certeza com o dedinho espetado, não é liberdade, é licenciosidade". Salazar aprovaria o sentimento, mas não a ignorância. "Licenciosidade" significa "desregramento dos costumes" e "do comportamento"; o contrário ao "decoro" e "à moral estabelecida". Freitas, coitado, estava a pensar em "licença".

É triste pensar que este homem representa Portugal e, apesar de tudo, um governo socialista.
vpv

posted by ccs at 4:57 PM 51 comments

HITLER E AS CARICATURAS

Hitler costumava arranjar "incidentes" para "justificar" a política de armamento e agressão. Ou era um adido assassinado em Paris por um judeu (que serviu para "explicar" a "Noite de Cristal do Reich") ou as sevícias que a Checoslováquia ou a Polónia alegadamente infligiam a meia dúzia de "arianos", coitadinhos, longe dele e da Pátria (que "justificaram" a guerra). Mas não se aprendeu nada com este velho truque e poucos até agora perguntaram o óbvio: por que raio este alarido, tipicamente goebbeliano, em nome de umas caricaturas, publicadas num obscuro jornal da Dinamarca (na Dinamarca?), há quase quatro meses? Que mal, na prática, essas caricaturas fizeram ao Islão? Como é que, por todo o Islão, "a rua" se indigna com uma blasfémia que não conhece? "Quem manda e comanda essa "espontaneidade"? Quando a "Europa" e a América deixarem de coçar a sua interessante consciência (mea culpa), talvez se perceba o fim do exercício.
vpv
posted by ccs at 1:35 AM 47 comments

Segunda-feira, Fevereiro 06, 2006
CIVILIZAÇÕES
O Aspirina B conta uma história. Um dia, perguntaram a Gandhi o que achava da civilização ocidental. "Acho que seria uma excelente ideia", teria ele respondido. Não sei se respondeu isso ou não, mas não me espanta a frase, atribuída a quem é. Gandhi foi um produto típico do Império Britânico: um advogado, um pregador e um prematuro spin doctor, que o Império Britânico e o Ocidente resolveram sacralizar por razões de estratégia e oportunismo. O facto é que a "não-violência" exige dois parceiros. Sem a moderação e o legalismo do Raj e, sobretudo, sem o espírito "liberal" da opinião pública inglesa, não haveria Gandhi. Facto que ele próprio não ignorava e com que sempre manifestamente contou - tanto mais que, durante a vida inteira, viveu e agiu à sombra da benignidade do sistema. Não se imagina a "não-violência" do Mahatma face à China ou, por exemplo, à Rússia de Estaline ou dos czares. Quando acabou a tutela do Ocidente, da tal hipotética "civilização" que Gandhi desprezava, ficou a intransigência hindu e muçulmana, o Estado muçulmano de Jinnah e meio milhão, um milhão, dois milhões de mortos…ninguém sabe ao certo.
Como se diz na América, uma certa ignorância da Aspirina "vem com o território". Mas, de qualquer maneira, a Aspirina, no caso Rui Tavares, pergunta se a civilização do Holocausto e do Gulag merece ser considerada "superior". A pergunta é séria e merece uma resposta séria. Começo por confessar que, sem confundir o Holocausto com o Gulag, às vezes, muitas vezes, quase constantemente, duvido. Mas, do meu ponto de vista infinitamente insignificante (que nem a História, nem Deus, nem o seu profeta ou o seu vicário recomendam), não me parece discutível que a civilização ocidental contribuiu mais para a liberdade e felicidade do homem - e da mulher - e para o domínio do homem sobre a natureza do que qualquer outra civilização conhecida. Mais prosaicamente, em 2005, não imagino espécie de futuro para uma civilização fanática, despótica e analfabeta e consigo imaginar algum futuro, e até depor alguma cautelosa esperança, na angústia, na desordem e no perpétuo conflito, que é, como lhe compete, a civilização do Ocidente, Peço desculpa pelo tom altissonante da última frase.
vpv
posted by ccs at 7:14 PM 66 comments

Domingo, Fevereiro 05, 2006
O MUNDO NÃO É PERFEITO
Lamento, mas esta não é uma questão de gosto. O valor ou a oportunidade dos cartoons publicados no Jyllands-Posten, o já famoso jornal dinamarquês, não são para aqui chamados. Nem me parece razoável passar-se um atestado de ingenuidade a quem supostamente não reconhece o carácter gratuito e provocador dos ditos cartoons. Pessoalmente acho-os deploráveis, como acho deploráveis muitas das manifestações anti-religiosas que por aí pululam. Desagrada-me a forma gratuita como, por vezes, é ridicularizada a fé e ainda me desagrada mais a forma como isso, entre nós, se banalizou. Mas entre o meu legítimo desagrado e a ilegítima censura sobre o que me desagrada, não tenho dúvidas: prefiro o meu legítimo desagrado. Defender o direito de publicação de uma dúzia de cartoons sobre Maomé não me obriga a defender o seu conteúdo e muito menos a concordar com os objectivos explícitos (ou não explícitos) dos seus autores: obriga-me apenas a defender uma coisa tão simples como a liberdade de expressão. Se a liberdade de expressão se mantivesse sempre nos limites do “aceitável”, como alguns pretendem, não precisaria de ser defendida. São precisamente os excessos que a põem à prova. E são quase sempre esses excessos que nos parecem deploráveis. O mundo não é perfeito.
ccs
posted by ccs at 11:23 PM 54 comments

PENSE BEM
Escreve Daniel Oliveira, com aquela precisão e profundidade que nunca o abandonam: " O que não aceito é que Cristo e Moisés sejam intocáveis e Maomé motivo de recorrente galhofa".
De onde vem ele? De que mundo, de que espécie de galáxia escondida? "Cristo" ou "Jesus" são as palavras preferidas da blasfémia ocidental e, particularmente, anglo-saxónica. Ainda há meia dúzia de anos, de Saramago a Mailer, toda a gente deu a sua pequena versão ateia ou blasfematória do Novo Testamento: um hábito que vem de Strauss (1846), Schweitzer e Renan, e à qual, de resto, pertence gloriosamente o Eça de "A Relíquia", o mais pérfido e genial da escola. Existe por aí uma indústria académica, dedicada a negar a divindade de Jesus (dizer "Cristo" já a reconhece), em que se distingue ( e digo "distingue" sem sombra de ironia) um professor de Oxford, condecorado e glorioso, Geza Vermes. A TV5 passou uma série "A origem do cristianismo", à venda na Amazon, que, da ortodoxia, não deixa pedra sobre pedra. O próprio Ratzinger chegou onde chegou com a sua guerra, no Concílio Vaticano II, contra a exegese histórica. Podia escrever páginas, dicionários, bibliotecas, com exemplo atrás de exemplo, do cartoon ao tratado. Aqui na terrinha a "reacção" esteve representada por Nuno Abecassis, pelo indescritível Sousa Lara e por um anacronismo que barafusta no "Diário de Notícias". De Moisés, não sei - mas Cristo "intocável"?
Daniel Oliveira que pense bem.
vpv
posted by ccs at 8:46 PM 100 comments

A LEI DO MAIS FORTE

O primeiro-ministro Sócrates declarou que "o uso gratuito e irrestrito" da liberdade de imprensa pode conduzir "à lei do mais forte". Nas "sociedades democráticas, segundo Sócrates, a imprensa deve ser "responsável" e "respeitar a dignidade" do próximo. D. António Marta, bispo de Viseu, concorda: nada de "extremos"! E até D. Januário, mimo episcopal da esquerda, vai avisando que "há limites". Tudo isto, como se calcula a propósito dos cartoons dinamarqueses, que para D. António, "acenderam um rastilho difícil de controlar". Que dizer disto? Em primeiro lugar, que a linguagem hipócrita da Ditadura volta sempre à superfície com assombrosa facilidade. Salazar teria aprovado fervorosamente Sócrates, D. Januário e D. António. Passou a vida a pregar o mesmo. Só insistia na censura, e com muita pena, jurava ele, precisamente para evitar "o uso gratuito e irrestrito" da imprensa, garantir a "responsabilidade", estabelecer "limites", proibir "extremos" que "acendessem rastilhos". Afinal, o homem tinha razão. Não se devem deixar à solta os jornalistas. Existem "valores" com que não se brinca e que a autoridade, com a sua superior moral e sapiência, está por natureza obrigada a defender.

Claro que sem liberdade de imprensa, por muito relativa que ela fosse, a Europa seria hoje muito diferente. Sem Erasmo, a Reforma, o iluminismo e o socialismo; e sem a arte, a ciência e a crítica bíblica, a Europa ocidental, para sossego e conforto do seu espírito, seria agora quase oriental e, com sorte, até talvez muçulmana. Uma hipótese que aparentemente agrada a toda a gente que por aí rasteja para não ofender ou amansar a conhecida susceptibilidade do Islão. A tirania do "politicamente correcto" já não permite pensar que a civilização greco-latina e judeo-cristã da Europa e da América é uma civilização superior; e superior, muito em especial, à civilização falhada muçulmana e árabe. Mas, quer se pense quer não, o facto permanece e a subserviência do Ocidente perante a intimidação islâmica, a propósito dos cartoons da Dinamarca ou de qualquer outro pretexto, envergonha e humilha.

Principalmente porque, ao contrário do que Sócrates resolveu explicar, com o seu oportunismo e a sua absoluta inconsciência cultural, a liberdade (no caso, da imprensa) não leva à "lei do mais forte". O que leva à "lei do mais forte" é o petróleo e o dinheiro do petróleo. Quando o Islão berra, a Europa treme. O resto, a baixa retórica do relativismo, não passa da eterna sabujice da dependência.
vpv
(publicado no jornal Público)

posted by ccs at 4:55 PM 52 comments

TOLERÂNCIAS...
Daniel Oliveira, o mesmo Daniel Oliveira do Bloco de Esquerda, especialista nos vícios da Igreja e na denúncia dos seus escandalosos abusos, apareceu ontem na SIC-Notícias como o grande defensor do direito à indignação por parte dos que se sentem justamente ofendidos nos preceitos da religião. O direito à indignação explica tudo o que se passa no Islão: multidões em fúria, exigindo vingança e queimando bandeiras dinamarquesas; retaliações diplomáticas; ameaças de bomba; destruição de embaixadas; sanções económicas. Para Daniel Oliveira, são simples manifestações de quem se sente ultrajado nas suas mais profundas convicções. Qual é o problema de se queimar, aqui e ali, uma bandeira, num legítimo acesso de indignação? Os que se sentiram ofendidos com a caricatura do Papa com um preservativo no nariz, não fizeram também…um abaixo-assinado? Se uns se entregam à violência de um abaixo-assinado por que não hão-de os outros queimar pacificamente umas bandeiras e destruir duas ou três embaixadas? Pois é! Não perceber isto é não perceber o essencial de uma esquerda complexada que faz gala no ataque à Igreja para melhor poder… respeitar o Islão.
ccs
posted by ccs at 1:01 PM 87 comments

Sábado, Fevereiro 04, 2006
A REFERÊNCIA
A "iniciativa cívica" e o "poder do cidadão" não duraram muito. Alegre voltou ao parlamento. Ficar de fora, disse ele, "não seria compreendido pelos que o apoiaram". E nós que pensávamos…Pronto, está bem. É tudo ao contrário? Perfeito. Parece que lá no "Movimento" o pressionaram tanto que ele correu para S. Bento só "para ter um pouco de sossego". Em S. Bento, sossego é o que não lhe vai faltar. Quanto ao resto, continua, evidentemente, uma "referência" para o tal "milhão". Não sei se custa muito ser uma "referência". Espero que não.
vpv
posted by ccs at 8:04 PM 16 comments

OLHA QUEM FALA
Leonor Beleza, pensando em Barroso e Guterres, deplora a "falta de maturidade" dos políticos portugueses. Quem se lembra da maturidade com que ela geriu o Ministério da Saúde fica um pouco perplexo. Mas suponho que já não vale a pena dizer nada sobre esta extravagante invenção de Cavaco. Os malucos passaram a governar o manicómio.
vpv

posted by ccs at 8:02 PM 23 comments

SÓ COM O JOGO
Os portugueses são quem aposta mais no "Euromilhões", 27 por cento do total. Por aqui se vê a esperança que têm de ganhar uma vida decente com o seu trabalho.
vpv

posted by ccs at 8:00 PM 32 comments

QUE COISA ESPANTOSA!
Pacheco Pereira já tinha avisado: as presidenciais encerravam um ciclo, alteravam as regras do sistema partidário, enfim, levantavam questões interessantíssimas. Só os parvos é que não compreendiam a dimensão da coisa e andavam por aí a desfazer na campanha e na superior qualidade do debate eleitoral. Ficámos à espera! Hoje finalmente apareceu isto. Uma pérola pós-presidencial. Uma reflexão portentosa, enfiada em meia dúzia de linhas: “bater” em Manuel Alegre e no seu movimento cívico é a última manifestação de mau perder do “tardo-soarismo”. Ora aí está! Uma questão interessantíssima, recheada de consequências e reveladora do novo ciclo. O “tardo-soarismo”? Que coisa espantosa!
ccs
posted by ccs at 7:52 PM 10 comments

Sexta-feira, Fevereiro 03, 2006
ANTIGAMENTE
Quando os padres saíam da Igreja para se casar, o António Alçada um dia disse: "Isto está tudo perdido. Só os padres é que acreditam no casamento".
vpv
posted by ccs at 7:40 PM 14 comments

MORAL DE UMA HISTÓRIA


No Iraque, eleições feitas sob ocupação estrangeira mostraram outra vez, como se fosse preciso, que o Iraque não existe. Existe um território, inventado num acesso de euforia imperial pela Inglaterra e pela França, com habitantes rigorosamente divididos por etnia, religião e tribo. Da classe média secular, nacionalista e moderna de que nos falavam com zelo os defensores da guerra não se viu a sombra. Ao lado, no Irão, em que se esperava a emergência progressiva dos "moderados", ganhou um radical, Ahmadinejad, que nega o Holocausto, pretende destruir Israel e quer a bomba. Na Palestina, o Hamas um partido armado e terrorista, campeão e promotor dos "mártires", tem agora a maioria no "parlamento" e tenciona firmemente continuar igual a si mesmo, quanto mais não seja porque, se não ficasse, aparecia logo à sua esquerda, um segundo Hamas com um nome qualquer, muito pior do que ele.

A democracia que Bush, Blair e um certo Ocidente bem-pensante consideram a panaceia universal, só pode produzir no Médio Oriente, e no mundo islâmico em geral, uma absoluta catástrofe. Se houvesse eleições livres no Afeganistão, no Paquistão, na Síria, na Arábia, no Egipto, na Líbia, na Tunísia, na Argélia e em Marrocos desaparecia num minuto toda a gente com a mais vaga veleidade de negociar ou conviver com o Grande Satã americano e o pequeno Satã da velha Europa. Por muito que nos custe e custe ao perigosíssimo Presidente Bush, sem os tiranos, que, para nosso bem e conveniência deles, conservam as massas muçulmanas numa relativa passividade, não escapávamos com certeza a um triste fim. Em 1914, ninguém, por definição, conseguiu imaginar o inimaginável, nem sequer, e apesar de Hitler, em 39. Hoje também não. Mas devíamos tentar.

Há factos tão simples que até Bush anda perto de reconhecer. As regiões do petróleo, do Médio Oriente à Venezuela de Chávez são incontroláveis, política e militarmente. A dependência do petróleo da América e da Europa é quase total. O consumo de petróleo aumentou, e vai continuar a aumentar, por causa da China e da Índia. E a miséria da "rua" na Arábia ou em Marrocos, conhece, inveja e odeia, como dantes não acontecia, esta ilha do Ocidente, rica, arrogante e vulnerável. Sobretudo, vulnerável. No Iraque, na Palestina, no Irão, a América e a "Europa" exibem dia a dia a sua essencial fraqueza. É pouco provável que se perca a moral dessa parte da história.
vpv
(publicado no jornal "Público")
posted by ccs at 6:55 PM 31 comments

POR AMOR DE DEUS
Vi agora que o meu post anterior deu azo a um equívoco que me parece grave. Por isso, gostaria de deixar desde já claro que o texto em causa pretedendia ser uma crítica aos que consideram que o casamento é um exclusivo heterossexual. E não obviamente um sátira às pretensões dos homossexuais nesta matéria. Caro Eduardo Pitta, estou de acordo consigo. Considero que o actual enquadramento legal das uniões de facto é insuficiente. Aliás, como já referiu, até pessoas como António Lobo Xavier e Guilherme Silva consideram o mesmo. Mais: essas mesmas pessoas defendem uma maior aproximação (em matéria de direitos) entre as uniões de facto e o casamento. O que não aceitam é que os homossexuais possam "concurspar" o carácter quase "sagrado" do casamento. É essa "lógica que me escapa". Porque não me parece que os motivos apresentados, nomeadamente por Pacheco Pereira, tenham qualquer coerência teórica.


1. Por que é que o carácter "conservador" do casamento (dando isto como adquirido) há-de impedir o casamento