O país está entregue a cliques há demasiados anos. Especialistas na distribuição de benesses aos bem-comportados dos aparelhos partidários, pululam os tipos bem falantes de cujo poder decisório o país depende - e os resultados não são brilhantes, estão à vista de todos. Não é mero acaso o divórcio patente entre a maioria dos portugueses e a classe política....
Numa lógica de sobrevivência de uns quantos profissionais da política, o fechamento dos partidos é, em si mesmo, um risco para a democracia. Portugal dispensa, naturalmente, o surgimento de populismos perigosos e, sob pressão da sociedade civil, um tal risco só pode ser neutralizado pela introdução de um movimento de retoma de credibilidade dos partidos existentes - o que exige coragem e a saída de uma zona de acomodação de muita gente, experiente e de saber construído nas empresas, nas universidades, no mundo do trabalho, enfim, filiados e de quotas pagas no atual espetro partidário mas sem paciência para aturar certas coisas.
O sistema político nacional vive hoje um preocupante bloqueamento; a construção de alternativas credíveis escasseia, de facto, e o esboço de quando em vez agitado aparecimento de novos partidos, situem--se eles mais à Direita ou mais à Esquerda, tenderá a nada resolver. Dispensa-se mais do mesmo - incluindo a confrangedora incapacidade para a constituição de "think thanks" partidários credíveis.
Embora difícil, desconstruir o atual círculo controleiro nos partidos políticos é pois a única via capaz de revitalizar o sistema democrático. A proximidade do haraquíri para os mais bem instalados nos centros de decisão pode permitir uma esperança, embora ténue: talvez vejam na reciclagem de comportamentos uma tábua de salvação, para si mesmos e, por tabela, para o país.
Aprofundar a democracia nos partidos é, pois, um ponto de partida necessário e fundamenta o rápido debate de novas práticas.
O tema é recorrente mas, apesar de todas as resistências, merece ser de novo posto em cima da mesa: por que não abrir a decisão da escolha dos chefes partidários à sociedade civil, recusando pois o atual esquema de tráfico de influências de grupos e grupinhos focados no Poder a qualquer preço, mais do que preocupados com critérios de competência?
Mais cedo do que tarde, a opção certa passará pela retirada de um "funil" estreito no sistema de escolhas.
O debate nem sequer é novo.
No plano europeu ganhou acuidade quando o Partido Democrático Italiano e o Partido Socialista Francês tiveram a coragem de abrir à sociedade eleições primárias para a escolha dos seus líderes e nas quais qualquer cidadão identificado com as linhas gerais daqueles partidos passou a dispor de capacidade para influenciar as decisões. Este fim de semana idêntico caminho foi ratificado pelo Partido Socialista Espanhol - depois de há uns meses um grupo de socialistas portugueses ter visto proposta semelhante chumbada no congresso (re)consagrador de António José Seguro.
O espetro partidário português terá tudo a ganhar se for capaz de encontrar fórmulas de decisão mais participadas, as quais exigirão também o reconhecimento dos independentes na Assembleia da República. Ao invés, a defesa dos interesses egocêntricos de uns quantos tenderá a aumentar os riscos de colapso da democracia.
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