Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Salas vazias de cinema e futuro

Fecharam portas há já alguns anos e continuam fechadas, (quase) abandonadas. A cidade já teve mais 50 salas de cinema. Hoje, esse número não chega a uma dezena. Fomos saber o que é feito desses cinemas míticos, onde o Porto passou tardes e noites memoráveis.


O Porto já foi cidade de cinema e de cinemas. De salas que preencheram o imaginário de gerações e que ofereciam porta de entrada para a cultura. E para o sonho. A realidade hoje é completamente diferente e está longe – muito longe – dos tempos em que a Invicta possuía mais de 50 espaços de exibição cinematográfica. Hoje, o número não atinge sequer a dezena. O P24 foi saber o que é feito de algumas das salas que um dia foram míticas e hoje são apenas espaços onde sobra a lembrança de tardes e noites memoráveis. Mas que continuam a ser cinemas. Sem filmes dentro, porém.

Central Shopping
Inaugurado em meados da década de 1990 na rua Santos Pousada, próximo do Campo 24 de Agosto, o Central Shopping possuía um complexo de cinemas assinalável, onde se destacava uma sala com ecrã de resolução máxima e conforto praticamente inigualáveis no Porto, à época, para além de outras salas mais pequenas, tipo estúdio, onde passavam os filmes em destaque no circuito comercial. Depois de nos primeiros anos a experiência ter corrido sem problemas, o início da década de 2000 trouxe um rápido e acentuado declínio na utilização do centro comercial situado no coração da cidade. Os cinemas que integram o shopping não ficaram atrás e acabaram, também, por sofrer, com o número médio de espectadores a descer cada vez mais. Previsivelmente, as salas de cinema acabaram por fechar. O shopping também, não havendo planos, segundo apurou o P24, para que reabra em breve.
Charlot
O Shopping Center Brasília fez história no Porto. Foi o primeiro centro comercial inaugurado em Portugal e em toda a Península Ibérica, corria o ano de 1976. Com quase 400 lugares, o cinema Charlot tornou-se sala de referência. Multidões enchiam o Brasília para assistir às sessões no então moderno cinema portuense. Com o passar do tempo e o advento de outras grandes superfícies, o Brasília foi passando de moda e o Charlot, consequentemente, foi arrastado na corrente e encerrou definitivamente em 2001. Desde então sobraram propostas, faltaram certezas. “Já se ouviu falar de muita coisa, só que nada em concreto. Até supermercados quiseram instalar-se aqui”, conta ao P24 um elemento da agência IMB, empresa que construiu o Brasília e é dona do Charlot. “A questão é que nunca houve avanços formais para nada”, acrescenta. Aberto esporadicamente para iniciativas como festas de Natal da Junta de Freguesia de Cedofeita ou eventos solicitados por particulares, o Charlot pode ter futuro, “basta que apareça uma proposta que seja sólida”. Como cinema é que nem pensar, “o interior está degradado e não há espectadores que consigam sustentar uma sala de forma rentável hoje em dia”.
Estúdio Foco
O Estúdio Foco foi inaugurado em Setembro de 1973 e durante duas décadas foi dos cinemas mais inovadores da cidade do Porto. Sobretudo no que ao conforto do público e à qualidade de exibição dizia respeito. As cadeiras eram adaptáveis ao peso do espectador e os projectores dos mais sofisticados da Europa. Localizado na rua Afonso Lopes Vieira, a dois passos do Hotel Tivoli – que também fechou, há 7 anos, e está ao abandono –, foi adquirido, como tantos outros, pela Lusomundo e, com o passar do tempo, deixou de passar filmes comerciais e optou por cinema mais alternativo e fora do circuito habitual. Encerrou em 1993 e desde então nunca mais foi reactivado. Tinha capacidade para mais de 450 pessoas e era frequentado por público que procurava opções que fugiam às fitas ‘mainstream’, enfim, outro tipo de películas. Não há perspetivas para que seja reaberto.

Lumière A e Lumière L
Na rua José Falcão encontravam-se a dupla sala de cinema Lumière. Baptizadas com as iniciais dos irmãos franceses que inventaram o cinema, Auguste e Louis Lumière, as duas salas abriram em 1978, no advento de outros espaços dedicados à sétima arte mais compactos que daí para a frente foram nascendo um pouco por toda a cidade – à semelhança do que acontecia simultaneamente em Lisboa, aliás. Depois do fecho veio a indefinição em relação ao futuro das galerias Lumière. Até que, no verão do ano passado, e após várias tentativas de renovação nos últimos anos, várias lojas alternativas ocuparam o que havia sido uma indefinida e abandonada praça comercial. E o Lumière voltou a ganhar vida. Os cinemas, esses, é que jamais foram reaproveitados para a função original. Fecharam em 1997. Para sempre. As antigas bilheteiras são hoje o Namban Oporto Kitchen Kiosk – uma loja de conveniência japonesa.

Nun’Álvares


A funcionar desde 1949, na rua Guerra Junqueiro, o cinema Nun’Álvares também sucumbiu ao aparecimento em massa dos multiplex dos centros comerciais que na década 1990 se multiplicaram pelo Porto e arredores. Mesmo assim conseguiu aguentar-se até 2005, altura em que encerrou definitivamente. Ou quase. Porque em 2009 o empresário Elias Macovela reabriu o Nun’Álvares e ofereceu à cidade um local onde se reuniam amantes do cinema, especialmente os que iam atrás de filmes que dificilmente passariam nas salas convencionais. A experiência acabou por não durar muito. Em 2011, o espaço voltou a deixar de ter uso – e assim se mantém até ao momento – com alguma polémica relacionada com alegados salários em atraso de três funcionários, que chegaram mesmo a avançar para os tribunais. “Motivos técnicos” foi, porém, a justificação apontada então por Elias Macovela para a decisão. O Nun’Álvares continua sem futuro à vista.

Pedro Cem

Era uma sala pequena mas quase mítica do Porto, situada numa pequena galeria comercial homónima na rua Júlio Dinis, com o Palácio de Cristal à vista. Inaugurado no início dos anos 1980 e entretanto adquirido pela Lusomundo ao proprietário particular que o dinamizara, o Pedro Cem deixou de exibir películas corria o ano de 1997, precisamente na altura em que começaram a multiplicar-se pela cidade e Área Metropolitana as tais salas multiplex, instaladas em modernos centros comerciais. Com capacidade para cerca de 350 espectadores, o Pedro Cem tinha sempre em cartaz os filmes mais em voga e contava, frequentemente, com casa cheia. Depois do fecho, poucas iniciativas foram realizadas para que se reabilitasse. A possibilidade de reabrir nunca foi colocada e a venda acabou por ser o destino natural.

Shopping Cidade do Porto

O Centro Comercial Cidade do Porto, no Bom Sucesso, teve quatro salas de cinema activas desde a sua inauguração, em 1994. Até Julho de 2010. Desde então, e já lá vão cinco anos, que as salas, propriedade da administração do Shopping, têm uso muito reduzido. É certo que já não projectam filmes, mas uma vez por mês são cenário para duas iniciativas: a Comédia, um espectáculo de stand-up comedy, e os Teatrinhos Musicais, destinado a crianças. De resto, “pode ser alugado a particulares, também”, conforme indicou fonte próxima da administração do Cidade do Porto. O encerramento das salas, que eram exploradas pela Medeia Filmes e privilegiavam o cinema alternativo, provocou polémica e protestos. Pouco antes de se concretizar o fecho, meses e meses anunciado como praticamente inevitável, um grupo de cidadãos, no qual se incluíam nomes como o do realizador Manoel de Oliveira, organizou um abaixo-assinado a pedir a manutenção do espaço. No entanto, a pressão popular não surtiu efeito e a decisão foi irrevogável. Até hoje.

STOP

Outro centro comercial do Porto que, em tempos, também teve nos cinemas importante fonte de receita e de movimento foi o STOP. Este shopping situado na rua do Heroísmo, paredes-meias com o Museu Militar – antiga sede da PIDE durante o Estado Novo – e hoje praticamente dedicado às artes, nomeadamente à música – possui dois cinemas, ambos pertencentes à Lusomundo e que abrem portas muito esporadicamente. Encerradas há pouco mais de 20 anos, as salas do STOP “não estão à venda, nem sequer para aluguer”, conforme expressou ao P24 a administração daquele centro comercial. “Podem é ser usadas em eventos de curta duração, de poucas horas. Como conferências de imprensa, por exemplo”, acrescentou a mesma fonte.
Sem utilização à vista, pelo menos a curto prazo, os cinemas do STOP, “ainda em bom estado, excepto a nível de iluminação”, chegaram a ser sugeridos para palco do Fantasporto por Luís Filipe Menezes, candidato do PSD à Câmara do Porto nas eleições autárquicas de 2013. Algo que nunca viria a acontecer.

Dolce Vita e Campo Alegre, os resistentes

O Porto, segunda cidade do país, possui apenas dois locais com salas de cinema: o Centro Comercial Dolce Vita, nas imediações do Estádio do Dragão, e o Campo Alegre, junto ao Planetário e à Faculdade de Arquitectura. Há hoje oito salas onde é possível assistir a cinema na Invicta – sete no Dolce Vita e a sala do Campo Alegre. Longe vão os tempos em que as salas do Porto eram mais de meia centena…

O caso específico do Batalha

Parece paradigmático. O mais simbólico cinema do Porto, o Batalha, encerrou em 2000 e desses 15 anos para cá tem vivido uma sucessão de episódios que, contudo, não evitaram a sua morte lenta.

Propriedade da Neves & Pascaud, o emblemático imóvel foi classificado pela secretaria de Estado da Cultura, em 2012, como monumento de interesse público. Ou seja, está limitado a ser utilizado, em exclusivo, como cinema, pela Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN).
Reabilitar a actividade original é algo que não passa pela cabeça dos administradores. Fonte da Neves & Pascaud garantiu ao P24 que o Batalha não voltará a ser cinema de certeza absoluta.

“[Hoje em dia] as salas estão concentradas nos centros comerciais e uma sala com as características do Batalha nunca atingiria número suficiente de espectadores que permitisse a sua rentabilidade. Portanto, está fora de questão”, explicou a fonte ouvida pelo nosso jornal.

Como o uso do Batalha está destinado somente a um fim, a venda do edifício também se afigura difícil. A mesma fonte acrescentou que “todas as propostas apresentadas visavam a alteração do ramo, o que é impossível” dada a classificação do imóvel pela DRCN.

Entretanto, acumulam-se actos de vandalismo no exterior – pinturas, vidros partidos, etc. E os sinais de abandono são mais do que evidentes. Porta aberta apenas muito raramente, só para raros comícios políticos. O tempo das multidões à porta do Batalha ficou lá atrás, na lembrança de um passado rico em memórias cinematográficas felizes.

A Neves & Pascaud é também proprietária do Trindade, outro dos cinemas que se encontram desactivados no Porto. Abre apenas de forma ocasional para receber alguns eventos e tem servido de palco nos últimos anos para o Desobedoc – Mostra de Cinema Insubmisso.

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