Como se viu em Monchique, a mitológica “habilidade” de António Costa é o resultado de uma baixa de expectativas e de exigência sem paralelo na história recente de Portugal.
O concelho de Monchique ardeu durante sete dias. Terá sido, este ano, o maior incêndio na Europa. As televisões filmaram as chamas, os jornais discutiram as falhas na prevenção e no combate, e os banhistas das praias do Algarve encheram as redes sociais com um céu a que o fumo e a cinza deram um ar invernoso. Houve 41 feridos, casas destruídas, pessoas evacuadas – algumas à força, no meio de desorientação, caos, e pânico. Nada disso, porém, impediu o primeiro-ministro de, entre todas as palavras do dicionário, escolher “sucesso” quando teve de falar de Monchique.
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A mitológica “habilidade” de Costa é o resultado de uma baixa de expectativas sem paralelo na história recente de Portugal. Os portugueses viveram desde a década de 1960, durante quarenta anos, à espera da convergência com a Europa do norte: um dia, teríamos as suas oportunidades, os seus direitos, os seus critérios de qualidade, os seus serviços públicos. (...) O actual governo marcou o fim dessa vasta onda de aspiração social. As suas reposições e aumentos são um sinal de como uma sociedade envelhecida e endividada deixou de querer e de exigir, enquanto o país caminha para voltar a ser um dos mais pobres da União Europeia. Neste mês, o governo escreveu a milhão e meio de pensionistas a dar-lhes a boa nova de acréscimos de pensões no valor de 1,16 euros mensais — e a maior parte da imprensa deu, por isso, a próxima eleição como ganha. Há trinta anos, só aumentos de 16% pareciam estimular o eleitorado. Mas esta é agora a medida daquilo que a oligarquia acha suficiente para se manter no poder: mais um euro por mês.
Para valorizar a mediocridade dos seus aumentos, Costa contará certamente com mais um contraste: “os outros cortaram, ao menos este, embora pouco, sempre vai dando alguma coisinha”. É um facto – e é a tragédia desta história. Passos Coelho teve de cortar salários e pensões para salvar o país. António Costa cortou esperanças e expectativas para se salvar a si próprio.
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