O Porto não pediu, o Porto embarcou na viagem. Alimentou a expectativa da vitória por sugestão. Não podia ser de outra forma. Não se nega uma prenda tão faustosa como a sede do Infarmed. Afinal, Lisboa, o Governo de Lisboa, tinha uma cabeça centralista mas um coração que bombeava iniciativa para outras partes do território. Mas, no final, não sobrou nada. O Porto foi enganado. Enxovalhado. Não há outra forma de dizê-lo. Não pôde festejar uma conquista que não quis e que lhe prometeram com a mesma leviandade com que lha tiraram. A máquina centrifugadora do Estado carbura com a eficácia de um motor japonês. Mastiga e deita fora.
Não há, na análise fria dos acontecimentos, uma lógica capaz de justificar o comportamento sinuoso do ministro da Saúde e do primeiro-ministro. Foi a pressão exercida pelos trabalhadores? Foi o lóbi das farmacêuticas? Foi o relógio eleitoral? Ou foi nada? O mesmo nada com que se lançou o Porto a um naco suculento de influência, ancorado num processo manco desde o berço, que foi gatinhando, de forma trôpega, até uma aparatosa e esperada queda? Desconfio que é neste nada que se encontra tudo. E isso é assustador pelo que representa. Pela dimensão com que um Governo se entregou a um ato tão tristemente amador.
A descentralização é um verbo de encher. Já desconfiávamos. Comprovámo-lo agora. E, no entanto, andamos quase um ano nisto. Nesta mentira. Faça-se um estudo, crie-se um grupo de trabalho, encontre-se um edifício, os trabalhadores deslocados que tenham paciência e comecem a pensar na (nova) vida. António Costa não teve a coragem (e a honestidade) de se comprometer. Adalberto Campos Fernandes foi o equilibrista do costume, dos que gingam sem rede, porque tantas asneiras depois continua sentado na cadeira de ministro. No final, foi só um desconseguimento que o Governo saberá compensar mais perto das eleições. O Infarmed no Porto é tão bom, não foi?
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