O primeiro-ministro veio culpar os banqueiros. Acusa-os de serem responsáveis pela crise. Segundo Passos Coelho, ao não concederem crédito às empresas para investimentos, como se haviam comprometido, os bancos asfixiam a economia.
Mas, por sua vez, os banqueiros vieram garantir que até têm dinheiro disponível, mas as empresas é que não pedem empréstimos. Este passa-culpas seria próprio de miúdos num infantário, mas inadmissível em governantes e banqueiros, que não deveriam comportar-se como garotos.
Uma parte significativa do apoio financeiro externo a Portugal, concedido pela troika, foi canalizada para a Banca. Aos bancos foram garantidos doze mil milhões de euros, para que se pudessem recapitalizar e, de seguida, financiar as empresas. Só assim estas poderiam garantir investimentos, manter e criar novos empregos. Ao fim de dois anos de amarga ajuda externa, verifica-se agora que os bancos foram apoiados com largos milhares de milhões, mas que esse dinheiro não chega à economia. Sabe-se agora, pela voz de Passos Coelho, que este dinheiro não serviu para nada. Deplorável. Por sua vez, os administradores dos bancos vêm manifestar a sua perplexidade pelas afirmações de Passos Coelho. Lobo Xavier, do BPI, acusa-o de estar mal informado, Fernando Ulrich amua com Passos Coelho e Nuno Amado, do BCP, vem mesmo dizer que a ausência de empréstimos resulta do facto de as empresas não pedirem porque não precisam. Esta argumentação não convence ninguém, e muito menos os empresários.
A situação é patética, alguém nos anda a enganar. Das três, uma. Ou Passos Coelho está muito mal informado sobre a situação da Banca e das empresas e deve demitir-se já. Ou os banqueiros desviaram os dinheiros da ajuda externa para outros fins e devem ser investigados. Ou se, como estes afirmam, os empresários, que estão falidos e descapitalizados, já nem sequer recorrem à Banca, pois desistiram de vez – então o que aqui se passa já não é só falta de crédito bancário, é toda uma economia que abdicou de existir. À falta de credibilidade do sistema financeiro, junta-se a incapacidade do governo para gerir a situação. Os bancos não emprestam, o governo não presta e a economia desistiu de empreender. [Paulo Morais, Professor Universitário]
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