"O caminho está, portanto, aberto. Agora é preciso também que portugueses e brasileiros voltem os olhos para esta velha nação em que, há já mais de mil anos, nasceu a sua e nossa língua", diz político galego.
No mês de Setembro, o Parlamento da Comunidade Autónoma Espanhola da Galíza deverá votar a Iniciativa Legislativa Popular Vicente Paz-Andrade, que tem 17 mil assinaturas, com três artigos prevendo a incorporação progressiva do ensino do português na grade curricular e futura exigência em concursos públicos; a recepção aberta em rádio e televisão de programação falada em português; e a participação formal da Galiza em eventos e em instituições internacionais que tenham o português como língua oficial.
A proposta foi apresentada em Maio de 2012 e admitida em Abril deste ano, com apoio de todos os partidos do parlamento – desde os que defendem a independência da Galiza até os de linha não nacionalista. Há razões políticas, culturais e económicas para o consenso da província espanhola.
Ao estimular a disseminação do português [que teve origem no galaico-douriense, língua então falada na região da Galiza e Douro], os galegos resguardam o próprio idioma, que é a origem da língua lusitana e anterior à formação de Portugal (século 12), e assim ajudam a fortalecer o galego diante do avanço do castelhano (idioma que os brasileiros habitualmente chamam de espanhol).
Além do resgate histórico, a aproximação pode render dividendos financeiros. O interesse económico é destacado na exposição de razões para a aprovação da lei. (...) Também os países africanos de língua portuguesa, e em particular Angola, mantém algumas das economias que crescem de forma mais pronunciada nos últimos anos. (...) A vantagem competitiva que para as pessoas da Galiza representa a língua não se limita à potencialidade de estabelecer novas relações comerciais ou culturais directas, mas ter um estatuto mediador entre blocos geográficos e linguísticos". O Produto Interno Bruto dos oito países lusófonos fechou a última década em cerca de US$ 2,5 trilhões.
Néstor Rego, membro da executiva do partido Bloco Nacionalista Galego (BNG), que tem representação no parlamento da Galiza, salientou que "nas relações económicas, o factor da afinidade linguística, junto com outros, como a proximidade e a complementaridade, ganham importância. Com Portugal, podemos explorar os dois primeiros...". Além de apoiar a lei de iniciativa popular, o BNG apresentou ao parlamento galego a proposta de que a Comunidade Autónoma da Galiza peça a incorporação oficial à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Os galegos já tentaram por duas vezes aproximação formal com a CPLP. Em ambas ocasiões a tentativa foi frustrada. A primeira vez foi em Julho de 2011 quando Angola, ocupando a presidência pro-tempore da comunidade, propôs na 16ª Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP (realizada em Luanda) a candidatura da Fundação Academia Galega de Língua Portuguesa (entidade particular) como observadora consultiva. O pedido foi aceito inicialmente e publicado na internet. Posteriormente, o nome da entidade galega foi retirado.
Cerca de 20 dias após a reunião do Conselho de Ministros, a mesma fundação apresentou candidatura como observadora consultiva do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), durante a 6ª Reunião Ordinário do Conselho Científico do Instituto. Segundo registo publicado no Boletim da Academia Galega da Língua Portuguesa (nº 5, de 2012), o pedido deveria ter sido submetido ao Conselho de Ministros da CPLP, que se reuniu este mês em Maputo (Moçambique) mas não apreciou a proposta.
O Brasil e outros seis países da comunidade são favoráveis à participação galega. Em Portugal, há preocupação de que o apoio à participação possa eventualmente alimentar espírito separatista na Galiza e contrariar o governo central da Espanha, principal parceiro comercial de Portugal. Na CPLP, a assessoria de imprensa informou que "não dispunha de informações".
Apesar da indefinição diplomática, Néstor Rego salienta que há colaboração entre a Galiza e os países da CPLP e que estão disponíveis, por exemplo, ferramentas eletrónicas de revisão de texto e auxílio à escrita nas diferentes variantes do galego-português. "O caminho está, portanto, aberto. Agora é preciso também que portugueses e brasileiros voltem os olhos para esta velha nação em que, há já mais de mil anos, nasceu a sua e nossa língua".