Para quando um Apito Vermelho?
Como diria o nosso ministro da Economia, António Pires de Lima, a semana transacta foi fértil em tarjas e tarjinhas. E foi muito para além disso – houve polémica a rodos entre os clubes da Segunda Circular com direito a todos os condimentos: exercícios de leitura num púlpito, comentários em jornais, comunicados e indirectas nas redes sociais. A algazarra foi de tal ordem que a nossa comunicação social, de forma acidental, claro, deixou passar em claro o facto mais grave do comunicado escrito por Bruno de Carvalho. Assim rezava um trecho dessa bela prosa:
"Ainda me lembro de Luís Filipe Vieira, mal fui eleito, a pedir várias vezes ao seu amigo da Doyen, Nelio Lucas para me levar a sua casa tomar o pequeno almoço, convite que sempre recusei. De andar a correr atrás de mim na Liga a tentar convencer-me a fazer uma aliança consigo e que assim poderíamos ir alternando as vitórias no campeonato, pretensão a que nunca anui. Nas vezes em que a falta de uma resposta positiva minha a essa pseudo aliança o levavam a entrar no meu carro, quando eu não estava presente, tentando convencer o meu motorista das virtudes de uma aliança".
Ora bem, à excepção do jornal O Jogo e do testemunho inflamado de Bernardino Barros no Porto Canal, este trecho do extenso comunicado de Bruno de Carvalho foi olimpicamente ignorado – reitero a ideia de que foi acidental – por rádios, televisões e restante imprensa. O que temos aqui, afinal? Temos o presidente do Sporting a dizer explicitamente que o presidente do Benfica se abeirou dele tendo em vista a partilha das vitórias no campeonato. O mesmo é dizer que Luís Filipe Vieira pretendia garantir campeonatos ao Benfica e Sporting, deixando o outro crónico candidato fora da corrida. Mas como poderia Vieira garantir isso? Não poderia ser de outra forma senão através da viciação de resultados.
Portanto, face a uma acusação gravíssima de um presidente de um clube grande em relação a outro, a comunicação social em geral não só faz ouvidos de marcador como promove ideias sem qualquer relevância do texto de Bruno de Carvalho, como de Vieira querer ser o novo Papa do futebol português. O que é este destaque comparado com uma acusação de manipulação de resultados? Está um elefante na sala e as Bolas, Records, DNs, Correios das Manhãs, Dias Seguintes e Trios de Ataque esforçam-se para não o ver. José Mourinho em tempos deu nome a este fenómeno: prostituição intelectual. Sem tirar nem pôr. Este caso, como outros, está envolto numa teia de prostituição intelectual.
Está visto, então, que a comunicação social não se portou bem neste caso, relevando lugares-comuns e rejeitando explanar uma acusação de corrupção e promover um debate sério sobre o assunto. Acreditando no testemunho do presidente leonino, os dois actores principais neste diferendo também não ficam bem na fotografia, por muito que se queira fazer passar a imagem de que Bruno de Carvalho sai incólume disto tudo. ...
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