Lisboa tem há dois dias um presidente de Câmara natural do Porto. Fernando Medina concorreu como "número dois" de António Costa, nas autárquicas de 2013, depois de ter sido secretário de Estado no derradeiro governo socialista liderado por José Sócrates. Com a renúncia daquele a fim de se dedicar, em exclusivo, às funções de secretário-geral do PS, Medina ascendeu administrativamente a presidente da CML por conveniência política do titular.
Talvez, porém, Lisboa fique melhor nas mãos deste portuense do que esteve nas de António Costa. Medina encontra-se numa fase da sua vida política em que precisa conquistar e consolidar uma credibilidade, afirmando-se ou não pelo perfil que conseguir traçar autonomamente a partir de Lisboa. Costa, pelo contrário, trocou a sua credibilidade e a confiança que os lisboetas depuseram nele pela tortuosa candidatura a primeiro-ministro após ter deixado aqueles cientes que o mandato autárquico era para levar até ao fim. Não é aceitável elogiar-se políticos que juram concluir mandatos democráticos com a mesma cara de pau com que os interrompem. Por outras palavras, Medina começa, ou recomeça bem, e Costa estreia-se mal num fato que, por junto, parece demasiado grande para as expectantes dimensões com que o vestiram. Acabaram-se as desculpas e o mau jeito alegadamente personificados em António José Seguro. A realidade invadiu, sem dó nem piedade, a secretária do chefe do PS no Largo do Rato. A desgraça nas eleições regionais da Madeira, a "agenda para a década" despedaçada, dia sim dia não, por improvisos avulsos, demagógicos e descontrolados, uma "agenda presidencial" ao deus-dará, uma irreprimível tentação de ressentimento e um ensimesmamento irritável e errático de quem acha que bastava aparecer para que a pátria se salvasse são apenas alguns sinais que deviam preocupar o PS. Porque, com António Costa, o PS está exatamente no mesmo ponto em que estava com Seguro segundo a versão mais delicada do "costismo": não aquece nem arrefece. E isto levará o país - sobretudo a "maioria silenciosa" que não se pavoneia entre o Terreiro do Paço, o Cais do Sodré ou os Paços do Concelho através da "nova" Ribeira das Naus - a questionar-se sobre a que vem, afinal, este homem que trocou Lisboa pela sua própria incógnita. Julgo, aliás, que nem ele próprio conhece a resposta no meio de tanta improbabilidade, inconstância e incerteza. Precisamente tudo o que não nos faz falta.
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