Estávamos em 1919, e os homens da República Velha não haviam cumprido quaisquer promessas, antes se instalaram e usaram o poder em proveito próprio, pelo que o regime caminhava em agonia para o remate inexorável. Fracassara a democracia e o parlamentarismo, enredados que estavam as personalidades e os partidos em lutas intestinas. Fome, greves, ausência de ordem pública, enormes perdas humanas e financeiras com a I.ª Grande Guerra, levaram à República Nova de Sidónio Pais, em 1917, e mesmo depois do seu assassinato a ideia de mudança já estava plantada. O governo republicano que regressara, já há muito havia perdido o controlo de certas zonas do País em detrimento de Juntas Militares, e a política dúbia arbitrada por Canto e Castro na Presidência não apresentava qualquer solução para dirimir os problemas portugueses.
Os Monárquicos comandados pelo último Grande Herói Português, o carismático Henrique de Paiva Couceiro, preparam então a Restauração da Monarquia, mesmo após a frustração das anteriores incursões monárquicas, com o mote, nas próprias palavras do Comandante Henrique da Paiva Couceiro, de:
‘Abaixo os tiranos e a inquisição vermelha e verde!! Viva a Pátria e a Liberdade, com a nossa velha Bandeira Azul e Branca!’
O El-Rei Dom Manuel II, Monarca no Exílio, com o governo de Pimenta de Castro, em Janeiro de 1915, que revogara as limitações à liberdade de associação que desde o 5 de Outubro confinavam os monárquicos à clandestinidade, havia encorajado os seus correligionários a organizarem-se em partidos e a fazer propaganda para restaurar a Monarquia pelo voto e não pelas armas, pelo que entre Abril e Maio de 1915 abriram-se 55 Centros Monárquicos no Norte e no Centro do País.
Só que perante isto, em 14 de Maio de 1915, toda a horda republicana se entrosa mais uma vez, com a Maçonaria e o Partido Republicano (Democrático) de Afonso Costa a cerraram fileiras e com a Marinha e 15.000 civis armados subjugam o exército e depõem o governo, colocando o Partido Democrático de novo alçado no poder, que, imediatamente, trata de remeter os Monárquicos, novamente, à ilegalidade e clandestinidade.
Com Sidónio Pais no poder e o restabelecimento do sufrágio universal a opção das urnas voltou a ser possibilidade para os Monárquicos, mas a sua morte determina para o Comandante Paiva Couceiro e para os integralistas lusitanos que a hora era de acção e não de palavras. Faltava somente a anuência real de Dom Manuel II na pessoa do Seu lugar-tenente, Ayres de Ornellas.
‘Go on. Palavras d’El-Rei’, assinado Ayres de Ornellas.
A 19 de Janeiro de 1919, o comandante Henrique de Paiva Couceiro, à frente de um milhar de soldados e algumas peças de artilharia, entra no Porto e Restaura a Monarquia Constitucional, na pessoa d’El-Rei Dom Manuel II, depositário de 721 anos de História de Portugal!
Numa cerimónia presidida pelo nosso Comandante Paiva Couceiro, Regente do Reino de Portugal em nome D’El-Rei Dom Manuel II, realizou-se em 19 de Janeiro de 1919, o Acto Formal de ‘Restauração da Monarquia Portuguesa’. Diante das tropas em Parada, no Monte Pedral, no Porto, foi hasteada a Bandeira Azul e Branca, e proclamada a Monarquia pela voz do Major Satúrio Pires:
‘Tendes diante de vós a Bandeira Azul e Branca!
Essas foram sempre as cores de Portugal, desde Afonso Henriques em Ourique, na defesa da nossa terra contra os moiros até Dom Manuel II (…)
Quando em 1910 Portugal abandonou o Azul e Branco, Portugal abandonou a sua história! E os povos que abandonam a sua história são povos que decaem e morrem. (…)
E abandonar a sua história é erro que mata!
Contra esse erro protesta, portanto o exército, hasteando novamente a sua antiga Bandeira Azul e Branca.
Aponta-vos Ela os caminhos do Valor, da Lealdade e da Bravura, por onde os portugueses do passado conquistaram a grandeza e a fama (…)’
No Norte do País desde o Minho, às Beiras e a Trás-os-Montes, excepcionando Chaves, todas as cidades aderiram ao movimento de Restauração da Monarquia.
A comissão da restauração declarou em vigor a Carta Constitucional e indicou como ministros da Junta Governativa do Reino: Conde de Azevedo, Visconde do Banho, Coronel Silva Ramos, Luís de Magalhães e Sollari Allegro. A Junta Governativa do Reino, junto ao Governo Civil do Porto, ficou sob o comando do Coronel Henrique Mitchell de Paiva Couceiro.
A Junta Governativa do Reino procurou então organizar política, militar e administrativamente o território fiel, nomeando governadores civis para as principais cidades do Norte e Centro: Porto, Braga, Viana do Castelo, Aveiro, Vila Real, Bragança, Viseu e Coimbra. Criou ainda um órgão de Imprensa, emitiu moeda e começou a legislar.
Entretanto, em Lisboa, os meios de poder e coacção republicanos perseveravam, e Ayres de Ornelas com algumas centenas de monárquicos do Regimento de Lanceiros 2, forças de Cavalaria 4, 7 e 9, em Monsanto, com terreno pouco propício para a arma de cavalaria, acabaria por se render, em 24 de Janeiro, cercado por forças republicanas.
No Porto, a 13 de Fevereiro, desertou a parte da Guarda Nacional Republicana que apoiara a Monarquia do Norte. Resistiu até 15 de Fevereiro! Lamentavelmente, não logrou o legítimo e patriótico feito e a República foi re-instaurada no Porto. Portugal perdeu o seu momento!
Os velhos republicanos repuseram no poder a República Velha e com ela as perseguições aos monárquicos, o desgoverno, a instabilidade política, a ditadura de partido único, a anarquia, a fome, a violência – como a Noite Sangrenta que obliterou dois dos chefes republicanos da revolução do 5 de Outubro: Machado dos Santos e Carlos da Maia – e abriu caminho para o Golpe dos Nacionalistas e para o Estado Novo.
Portugal, definitivamente, perdera o seu momento!
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