Causou polémica o recente caso dos bilhetes pedidos por Mário Centeno ao boifica, com insinuações à mistura que apontavam para um alegado favorecimento dos filhos de Luís Filipe Vieira por parte do Ministério das Finanças. O tema não passou despercebido e foi alvo de várias manchetes nos principais órgãos de comunicação social do país.
Posteriormente, veio à tona um conjunto de emails, que demonstram que um deputado da nação, Sérgio Azevedo (PSD), usa o seu email parlamentar para informar personalidades ligadas ao boifica, como o comentador Pedro Guerra e o jornalista Hélder Conduto, sobre temas como a transladação do corpo de Eusébio para o Panteão Nacional, um relatório dos delegados da LPF do jogo Sporting – Gil Vicente, que deu origem a um processo disciplinar contra o presidente do Sporting, ou a isenção de taxas municipais ao clube da Luz (Sérgio Azevedo é também deputado municipal em Lisboa), tema sobre o qual partilhou o parecer de Helena Roseta e se comprometeu a enviar o parecer jurídico da CM de Lisboa para Pedro Guerra. Importa referir que o Benfica acabou por beneficiar de uma isenção no valor de 1,8 milhões de euros.
Quando o Ricardo publicou sobre este assunto, fiquei com a sensação que estaríamos perante um escândalo de dimensão nacional que rapidamente seria divulgado pela imprensa nacional. Até ao momento, pouco ou nada se escreveu sobre o assunto. Felizmente temos a blogosfera, e o Mister do Café esmiuçou o caso de forma objectiva, num texto de leitura recomendada para aqueles que pretendem conhecer os meandros de mais um caso em que futebol e política andam de mãos dadas pelos piores motivos.
Perante os factos, ficam no ar algumas perguntas, para além da dúvida expressa pelo Ricardo sobre se o PSD mantém a confiança política num deputado que usa a posição para que foi eleito para informar o seu clube de futebol. A primeira tem a ver com a natureza das informações passadas por Sérgio Azevedo a Pedro Guerra e Hélder Conduto: serão as matérias em questão confidenciais? Se são, o que é que Sérgio Azevedo ainda está a fazer no Parlamento? Mais: usar o email oficial de deputado para passar informações a comentadores do Benfica, às quais apenas um punhado de pessoas tem acesso, é legítimo? É legal?
Entretanto, a imprensa nacional não parece interessada neste caso, como de resto se interessou sobre os bilhetes de Centeno. Um deputado da nação usa o seu email oficial, a sua influência e o acesso privilegiado à informação para informar comentadores de um clube de futebol, do qual é adepto, e não se passa nada. Nada. Fica por esclarecer se o banho de ética que Rui Rio quer dar à política portuguesa levará ao afastamento de Sérgio Azevedo da cena política, ou se tudo não passou de conversa para encher chouriços eleitorais. Se ficar de braços cruzados, se assobiar para o lado como a imprensa portuguesa, Rio mostrará ao país que afinal não é assim tão diferente daqueles que critica. E para quem não teve medo de enfrentar o FC Porto, por motivos que entendeu na altura serem válidos, exige-se uma rápida tomada de posição.
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