Sentado, sozinho, na varanda, respiro a escuridão imensa. Os pés repousam no parapeito. Enrolado na noite como num cobertor negro, escondido, apagado, não penso em nada. À minha frente, não vejo mas sinto, os campos, as serras, os arvoredos, os córregos, as ribeiras, as nuvens, o céu, as estrelas. De repente, sem aviso, uma miríade de luzes explode. São quilómetros de negrume que se iluminam de súbito e continuam a piscar, a piscar, a piscar. Milhares e milhares de luzinhas, como um organismo uno, coordenado. Fica-se encantado e aturdido com o espectáculo. São os pirilampos. E não é todos os dias que se vê isto. Que força oculta os faz acenderem-se assim? Aqui há tempos, parece que os bambus todos do mundo, num dado ano, no mesmo dia, à mesma hora, floriram em uníssono.
Tornei-me um militante da causa de Israel, do Povo Hebreu, do combate ao anti-semitismo, porque de repente, há ano e meio, pessoas que toda a vida conheci como decentes e normais, começaram, com uma regularidade preocupante, a acercar-se de mim e a comentarem que "meia dúzia de atómicas em cima de Israel" era uma excelente ideia. Ou entrar em Jerusalém, de látego em punho, como os carrascos nazis, e "chicotear aqueles agiotas todos".
Um em cada cinco portugueses é um anti-semita assumido. Quantos mais o são em segredo? Quantos mais se alegrariam, como tantos alemães, ucranianos ou polacos, ao verem sair o fumo negro das chaminés dos crematórios? Quantos mais denunciariam uma família, dez famílias, 100 famílias judias escondidas em caves, em poços, em buracos, a troco de umas moedas e da satisfação do dever cumprido - como fizeram tantos alemães e europeus de leste durante Holocausto? (...) [daqui]
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