O Governo foi obrigado a sair da letargia estival, designadamente algarvia, em que mergulhara para prestar atenção aos incêndios. A ministra da Administração Interna foi directamente de uma festa cor-de-rosa para Carnaxide onde se quedou muda ao lado do primeiro-ministro. Desdobrou-se a seguir em visitas ao "terreno", com um colete laranja da Protecção Civil, onde se "inteirou" e distribuiu abracinhos com prosa avulsa pelos bombeiros.
Pelo caminho, ela e Costa passaram um atestado de "incapacidade" à Força Aérea em matéria de combate a incêndios. Valeu o prof. Azeredo Lopes, da defesa nacional, que admitiu o envolvimento futuro do ramo à semelhança do que sucedeu nas décadas de 80 ou 90 antes das negociatas com helicópteros. Ficámos também a saber que, afinal, o glorioso "plano" para a Protecção Civil do então MAI António Costa - no qual ele abundou neste interregno entre Lisboa e a Madeira - continha erros "graves" que Capoulas Santos tentou minimizar numa entrevista grotesca sobre florestas e reflorestação, uma "reforma" para a qual inventaram imediatamente um "grupo interministerial" de "trabalho", uma "especialidade PS" quando quer empurrar as coisas com a pança. Entretanto a economia borrega e o dr. Centeno permitiu que saísse um comunicado improvável do seu ministério que nada explicou. No meio deste caos, ainda houve uns segundos para o primeiro-ministro confirmar de viva voz o "encerramento" do episódio dos secretários de Estado convidados da Galp ao mesmo tempo que a PGR, através do DIAP, o vai investigar. Não creio que se trate de matéria criminal. Presumivelmente o inquérito será arquivado. A questão de pé, porém, é de outra natureza e espanta-me que o doutor Marcelo entrasse de férias sem uma palavra pública - entre tantas com alma e sentido proferidas no contexto calamitoso sofrido pelas populações - acerca destes ainda governantes. Será que o "encerramento" decretado por Costa, eventualmente explicado em privado, o satisfez? As questões éticas, éticas sobretudo na política, nunca estão encerradas nem são "reembolsáveis". Noutras funções, o Doutor Marcelo comentou a situação de fragilidade (confirmada, aliás, pelo menos num destes casos pelo ministro Santos Silva) em que ficavam governantes atingidos por situações ambíguas. Seriam como "semimortos" (o termo é de Marcelo) a quem, por fim, tanto adiantava ficar como sair: estariam sempre semimortos. Estes fazem-se de mortos, mas estão semimortos.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
[João Gonçalves, aqui]
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