No fundo do mar, ao largo da costa de Matosinhos, em Angeiras, jaz um submarino alemão afundado pela tripulação, que se entregou em Portugal quando, em 1945, a Alemanha perdeu a II Grande Guerra Mundial. O U1277 ainda está quase intacto, dista apenas quatro quilómetros da costa e está a uma profundidade de 27 metros.
Fez quarta-feira três anos que mergulhadores portugueses começaram a monitorizar o seu estado de conservação através do Baseline Matosinhos, um programa que capacita voluntários a observar e registar mudanças nos ambientes aquáticos do Mundo, procurando estimular a consciencialização pública e a acção política.
João Crespo, gestor do projecto, tem incentivado os mergulhadores a fazerem registo de imagens e recolherem informações quando vão ao local. “Queremos ter uma linha temporal para daqui a uns anos olharmos para trás e vermos a evolução no tempo“.
Para já, as medições feitas pelos mergulhadores permitiram perceber que a frequência balnear da zona, a ETAR e a monobóia onde os petroleiros descarregam não são as principais ameaças. O que tem causado dano é a passagem natural do tempo e a exposição a acidentes atmosféricos. “O número de buracos na fuselagem exterior aumentou muito, comprometendo-a. Quando começar na interior, a degradação será exponencial“, lamenta, receando que quem mergulhe no local daqui a uns anos apenas encontre “um monte de ferros“.
Por outro lado, também os detritos, deixados por pescadores que pescam naquela zona, têm causado alguma degradação no local e preocupação junto dos elementos do projecto. “O submarino está assente num leito de areia e o espaço tornou-se um recife artificial, concentrando vida marinha e atraindo pescadores, que por vezes deixam redes”, conta João Crespo. Não é por isso incomum que, quando visitam o local, os mergulhadores tenham amiúde de “remover redes-fantasma do U1277”.
Relíquia pouco divulgada
De acordo com João Crespo, existem “poucos naufrágios da II Grande Guerra tão bem conservados como o U1277 de Matosinhos, já que não foi bombardeado”. O submarino tem “uma grande carga histórica” e, pelo seu bom estado de conservação, se estivesse noutro país seria considerado “imperdível”, mas “em Portugal tem pouca visibilidade porque não há tradição na arqueologia de mergulho”, lamenta João Crespo.
Pelas suas contas, a embarcação é visitada, anualmente, por quase meio milhar de mergulhadores. Cerca de 10% serão estrangeiros, sobretudo ingleses e alemães, e o resto portugueses.
O gestor do Baseline Matosinhos gostaria que o U1277 fosse considerado pelas autoridades como uma “reserva para o mergulho”, só podendo ser visitado com guia e com a actividade de pesca nas imediações “controlada”. Medidas que permitiriam aproveitar melhor a “relíquia” no fundo do mar.
Afundado de propósito após a Alemanha perder a guerra
O U1277 era um submarino alemão que navegava em missão quando, em Maio de 1945, a Alemanha se rendeu. A 3 de Junho, ao largo da praia de Angeiras, Matosinhos, o comandante Ehrenreich-Peter Stever e os 47 tripulantes decidem abandonar o submarino em botes de borracha. Pescadores ajudam-nos a chegar a terra, mas acabam detidos pelas autoridades policiais. Quatro homens ficaram para trás e afundaram o submarino: abriram as válvulas para inundar o estabilizador traseiro e inundaram os depósitos de combustível vazios, a meio da embarcação. O U1277 afundou de popa. [daqui]
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