Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Ah, afinal não era a sério! - Miguel Sousa Tavares


1. Afinal, o Benfica não queria ir à Champions, disputando a pré-eliminatória na vaga do Vitória de Guimarães, que, por sua vez, entraria directo na vaga do FC Porto. Afinal, o que parecia não era: a apressada denúncia logo feita pelo Benfica à FPF para que esta corresse a comunicar à UEFA que uma coisa chamada Comissão Disciplinar da Liga tinha julgado o FC Porto culpado de tentativa de corrupção e este não havia recorrido; os milhares e milhares de euros gastos em advogados, jurisconsultos, especialistas internacionais, para defender a posição do Benfica na questão — uma posição em que não era parte envolvida, mas simplesmente interessada; os esforços titânicos feitos para ganhar no campo jurídico o que o clube nunca mostrou ser capaz de ganhar no terreno de jogo — tudo isso era a fingir. O Benfica não queria ir à Champions: queria apenas chatear o FC Porto. Garantiu-o Luís Filipe Viera esta semana, em entrevista a Judite de Sousa. Se o Benfica tem obtido ganho de causa junto da UEFA, o seu presidente trataria logo de abdicar do efeito prático dessa vitória, propondo aos órgãos sociais do clube que este renunciasse… a favor do V.Setúbal. Acredite quem quiser.

Eu, claro, não acredito. Se essa fosse a vontade de Vieira, deveria tê-lo dito antes do desfecho e não depois de ter falhado a usurpação tentada. Depois de perder, é facil vir dizer que nunca se quis ganhar. Mas antes é que isso teria algum valor. Conforme ouvi a muitos benfiquistas, incomodados com o assunto, o que a direcção do seu clube deveria ter feito para evitar a tristíssima figura que fez, era ter ficado simplesmente quieta e muda, à espera que a UEFA, a Liga de Clubes, a Federação e o FC Porto resolvessem o assunto, que só a eles respeitava. Assim, é preciso acreditar nas boas intenções póstumas.

E não é fácil acreditar no desportivismo desta direcção benfiquista. São os mesmos que se prestaram a ir a um jantar de propaganda eleitoral do PSD para agradecer favores políticos, relativos a dívidas fiscais e à construção do estádio; os mesmos que tentaram safar Nuno Assis com recurso a meros expedientes burocráticos, como se não existisse a questão principal, que eram as análises positivas de doping; os mesmos que «compraram» o jogo no Algarve ao Estoril-Praia, assim dando passo decisivo para serem campeões em 2005 e arrumar com o Estoril para a 2ª divisão; os mesmos que este ano se especializaram em comprar jogadores aos clubes com quem iam jogar a seguir; os mesmos que cada vez que não conseguem os resultados esperados inventam sempre desculpas de mau pagador e conspirações sombrias; os mesmos que se aliaram a Valentim Loureiro para controlar a Liga de clubes contra Sporting e FC Porto e que depois, quando o viram metido em alhadas, lavaram as mãos do assunto, como se não tivessem nada a ver com ele, com a Liga e com o tal de «sistema».

Desportivismo? Desportivismo é chegar ao fim do campeonato e dizer «eles mereceram ganhar». Já alguém ouviu algum dos actuais dirigentes do Benfica dizer isso alguma vez?

2. A direcção do Benfica, que fez desta novela na UEFA o caso do «defeso» e que nela investiu tudo, sem querer saber dos pergaminhos ou do prestígio do clube, sem sequer auscultar a vontade dos sócios, prestou um péssimo serviço ao clube e à sua história. Eles lá sabem…

E, atrás deles, entontecidos pela miragem de entrar directos na Liga milionária sem os riscos da pré -eliminatória, incapazes de resistir à tentação de empochar cinco milhões de euros caídos do céu, sem um estremecimento de pudor por querer entrar na Europa dos grandes à custa do clube que lhes enfiara 5-0 em casa no jogo em que eles poderiam ter conquistado em campo esse direito, seguiram os responsáveis do Vitória de Guimarães. Trocaram uma amizade sólida e uma simpatia antiga da parte do FC Porto e dos seus adeptos pela sedução dos milhões. E, a avaliar pelos resultados e crónicas dos jogos de pré-época percebe-se bem porquê: porque esta porta das traseiras era a única em que os responsáveis vimaraneneses confiavam para entrar onde não esperavam.

Leio por aí que o Vitória, apesar de tudo, ainda espera que o FC Porto lhe volte a emprestar o Alan, aliviados que devem estar com a declaração de Pinto da Costa de que não tem nada contra o Vitória. Pois, talvez ele não tenha, mas os adeptos, esses, garanto-vos que têm e não esquecerão tão cedo: é só esperar para ver a recepção que o Dragão lhes dispensará da próxima vez que lá forem. O Vitoria, agora, que se prepare para experimentar o que lhe reserva o futuro da sua nova amizade com o Benfica — sim, o mesmo Benfica que passou toda a segunda volta do último campeonato a insinuar que o Vitória só lhe seguia à frente por favores de arbitragem. Essa nova amizade vai agora ser celebrada no «Troféu Platini», como lhe chamou o benfiquista Silvio Cervan, e seguramente que a direcção do Vitória não deixará de ter ocasião de experimentar, a propósito do interesse benfiquista no defesa Sereno, os métodos que o Benfica costuma usar quando pretende comprar jogadores de clubes «menores» que Sua Majestade (o Belenenses ou a Académica podem-lhes fazer um briefing sobre o assunto…).

3. Se os esforços diários e incansáveis de alguns jornalistas desportivos forem coroados de êxito, Jesualdo Ferreira vai mesmo perder Ricardo Quaresma. A sua saída seria, como alguém de um clube rival já confessou, a melhor aquisição da época para o Sporting e Benfica: não há Pablo Aimar nem Rochemback que valham a saída de Quaresma do FC Porto. Por isso mesmo e inversamente, a grande alegria, a grande e anunciada aquisição que Pinto da Costa prometeu ainda apresentar aos sócios, seria… a continuação de Ricardo Quaresma.

Entretanto, Jesualdo vai-se preparando para o pior. E, a avaliar pelos quatro jogos de preparação, em que Quaresma apenas fez uma passeata, o pior é garantido. Sem Quaresma, o FC Porto perde metade da sua capacidade ofensiva e muito mais da sua capacidade criativa lá na frente. Eu sei que há ainda portistas que têm dúvidas, mas as estatísticas são o que são: nas últimas três épocas, Ricardo Quaresma respondeu, directa ou indirectamente, como autor ou como assistente, por metade dos golos da equipa. Seguramente que não é o inofensivo Mariano González quem o vai substituir; nem o Tarik, nem o Alan. O Rodriguéz, sim, esse é jogador para flanquear o jogo, embora não seja um extremo puro. Mas se, do outro lado, em lugar do Quaresma, estiver o Mariano ou o Tarik, adeus 4X3X3 de tão boa memória! Por isso mesmo, Jesualdo anda a experimentar coisas complicadíssimas (para mim, pelo menos, que não percebo nada de tácticas), tais como o 4x2x3x1 ou o 4x1x4x1. Mais uma razão para eu não perceber a lista de dispensas de Jesualdo: o Vieirinha, que tão bem se tem exibido no PAOK, não daria geito? O Ibson, que os brasileiros veneram, não merecia uma nova opurtunidade? O Leandro Lima não era uma promessa à beira da confirmação, ainda por cima com dois anos a mais? O Pittbull não é dez vezes melhor que um Mariano? Ainda há dúvidas de que o Bruno Moraes, devidamente motivado e sem lesões, pode ser um excelente ponta-de-lança, ou o Mourinho ter-se-á enganado?

Uma série de perguntas sem resposta, naufragadas num mar sul-americano de hipóteses por confirmar e suspensas da pergunta mortal: vamos mesmo perder o Quaresma?