«inaceitáveis», «incompreensíveis» e «lamentáveis»
Foram estas as expressões usadas por Madail acerca da bagunça do CJ, mas...
Direcção da FPF demarca-se da reunião do CJ mas as sentenças transitam em julgado
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) vai abrir um processo de averiguação dos factos ocorridos na reunião de sexta-feira do Conselho de Justiça do organismo. O processo vai ser dirigido por "alguém estranho, para garantir a completa independência e transparência do processo", disse o presidente da FPF Gilberto Madail. Entretanto, as sentenças, suspensão por dois anos do presidente do FC Porto, Pinto da Costa, e a descida à Liga de Honra do Boavista, transitam em julgado, o que significa que são para cumprir, com efeitos que, neste momento, se avaliam como pesados. Os clubes, FC Porto e Boavista vão ser notificados. A decisão será comunicada à UEFA que, a partir da condenação de Pinto da Costa por tentativa de corrupção, arrastando o FC Porto, poderá impedir a participação do clube na Liga dos Campeões. Se a conclusão a que chegar “alguém estranho” à FPF de que a reunião do seu Conselho de Justiça está ferida de ilegalidade, que se está perante uma situação “inaceitável”, como disse Gilberto Madail, será praticamente impossível emendar o erro de consequências pesadíssimas quer em termos desportivos quer económicos, para o clube. A FPF para já, demarca-se de tudo quanto se passou na sexta-feira, declinou qualquer responsabilidade no sucedido e, assim, lava as mãos. Quem provocou o incidente, de forma ligeira, tanto mais que o processo contra Pinto da Costa por tentativa de corrupção do árbitro (Caso da Fruta) em vésperas do jogo FC Porto-Estrela da Amadora, na época de 2003/2004, foi mandado arquivar, já duas vezes, por falta de provas, baseado em “falsos testemunhos” de Carolina Salgado, que está a contas com um processo de averiguações, assobia para o lado e vai deitar-se de consciência tranquila e convicto de que cumpriu o dever. O caso, contudo, não morre aqui, dado que os clubes, e também Pinto da Costa, deverão recorrer para o tribunal Administrativo.
Insensatez
JORGE MAIA
Bertrand Russell escreveu uma vez que o problema com o Mundo é que os fanáticos têm sempre muitas certezas e as pessoas sensatas têm sempre demasiadas dúvidas. Ora, as guerras, mesmo as guerras do alecrim e da manjerona como a que aquece o defeso, são sempre terreno fértil para os fanatismos que, por definição, são inevitavelmente exacerbados e que, por defeito, tendem fatalmente para o descontrolo. E as coisas complicam-se ainda mais quando mesmo as pessoas de quem se espera alguma sensatez, como aquelas a quem entregamos a responsabilidade pela administração da Justiça, se comportam como o mais fervoroso e fanático dos adeptos, contribuindo para o clima de instabilidade geral e para o recrudescimento da violência. Que, por sinal, já deixou de se limitar ao campo verbal onde costumava evoluir. Esta guerra entre o FC Porto e o Benfica justifica cada vez menos a utilização de aspas. Já houve troca de acusações, já se fizeram alianças estratégicas e até já houve danos materiais. A manter-se a actual escalada nos confrontos verbais, comerciais e legais entre os dois clubes, é imprevisível o resultado dos inevitáveis confrontos entre as duas equipas durante a próxima temporada e pode muito bem ser uma questão de tempo até termos de falar em vítimas. Há alturas, como esta, em que as pessoas sensatas não podem ter dúvidas sobre a necessidade de intervir, antes que fiquemos reduzidos apenas às certezas dos fanáticos.
Marcelo Rebelo de Sousa: «Tinha plenos poderes»
JURISTA DEFENDE PRESIDENTE DO CONSELHO DE JUSTIÇAO que aconteceu na última reunião do CJ mereceu um comentário de Marcelo Rebelo de Sousa, no seu programa de ontem na RTP, “As Escolhas de Marcelo”. O reputado jurista disse que Gonçalves Pereira "tem toda a razão quando diz que tinha poder para impedir um conselheiro de votar decisões", tendo ainda poder para dirigir e encerrar a reunião."O que aconteceu a seguir a isso não tem qualquer validade, foi apenas um encontro entre algumas pessoas”, alegou.
Dizia o Benfica à UEFA
1. "... para o Benfica, o Conselho de Justiça da Federação, a mais alta instância da justiça do futebol em Portugal, “tem vindo a sofrer várias e profundas vicissitudes que o desqualificam e o desacreditam aos olhos dos agentes desportivos e da opinião pública”.
Eu diria o seguinte: se é possível atacar o presidente (e vice-presidente) do CJ, ligando a sua conduta a uma tentativa de atrasar a decisão e/ou a tomá-la de acordo com os propósitos do FCP e do BFC, então também não será possível atacar o famoso João Abreu (e seus pares), ligando a sua conduta a uma tentativa de acelerar a decisão e/ou a tomá-la de acordo com os propósitos do benfica?
Mas, e já agora, não se achará curioso que uma decisão tão importante e com consequências tão complicadas, possa vir a pender para um ou outro lado, apenas em consequência da cor mais azulada ou mais avermelhada dos doutos juízes? É que, se as decisões desta importância são para ser tomadas assim, para que precisamos de juízes? Não seremos, todos nós, juízes?
E, para terminar, cá vamos de novo perceber a coragem do nosso querido Madaíl - aquele presidente cuja única tarefa a que se presta é a da escolha de um seleccionador para Portugal! De resto, nada é com ele. Parece nem ser competente para avalizar se, afinal, há uma acta ou duas. Se, afinal, há decisões sobre BFC e Pinto da Costa ou não. Aliás, até parece que, se qualquer de nós se lembrasse de afixar uma suposta acta de uma suposta reunião do CJ, com supostas decisões, o presidente Madaíl as “comia” sem esfregar um olho. E talvez as comunicasse aos respectivos clubes. E até talvez as executasse. Que tal aparecermos na sede da FPF logo à tarde, reunirmos, redigirmos uma acta e afixarmos a dita?